Viver em Amor “O Mensageiro”

Klaus J. Joehle

 

Prefácio

Você está prestes a embarcar numa jornada que a maioria de nós só julgava possível naqueles momentos fugidios em que nos atrevemos a sonhar as esperanças aparentemente impossíveis.

Nos últimos 30 anos li todos os livros, passei horas sem conta a meditar, a visualizar, a aprender a viajar fora do meu corpo; mas sen-ti o tempo todo que alguma coisa me faltava. E ao fim de pouco tempo todos os livros me pareciam simples versões renovadas do mesmo material. Nada de novo, ou pelo menos parecia que não faziam nenhuma diferença real.

Por alturas de Novembro de 1955, depois de deixar de trabalhar e sem qualquer intenção de procurar trabalho, fui visitar um amigo que trabalhava então nas apostas desportivas. Estávamos a conversar sobre as apostas e sobre o dinheiro que ele não conseguia ganhar, quando um pensamento me ocorreu.

Olhei para o meu amigo e sugeri que talvez uma pessoa pudesse utilizar a sua mente subconsciente para ver o futuro e adivinhar quem ia ganhar o jogo. Ele pensou que eu não estava bom da cabeça e disse que não havia nenhum meio de predizer o futuro, dando-me 20 motivos para justificar essa impossibilidade. É bastante óbvio para mim que ele tem uma cabeça muito mais dura do que a minha. Mas quanto mais eu pensava naquilo, mais me agradava a ideia.

Quando cheguei a casa já tinha a coisa mais ou menos configurada na minha mente. Imaginei que tudo quanto precisava de fazer era conseguir um estado de espírito em que o consciente e o subconsciente se unissem e trabalhassem juntos, como um só, em vez de estarem separados. Parece simples, e era, embora tenha levado algum tempo a congeminar os pormenores e conceber um plano. Voltei à biblioteca e levantei mais uns poucos de livros. Andei às voltas com aquilo uma semana ou duas e experimentei várias coisas. De qualquer modo, aproveitei toda a informação que consegui encontrar e misturei tudo, um pedacinho daqui, um pedacinho dali. A conclusão a que cheguei foi que precisava de estar num estado de meditação profunda, ou num estado de espírito semelhante ao transe, e viajar então ao futuro para ver os resultados dos jogos.

Resultou, mas nunca me enchi de dinheiro. Fazia pequenas apostas e ganhava pequenas quantias de cada vez. À medida que o tempo passava ia tentando levar o meu amigo a fazer o mesmo, imaginando que deste modo podíamos comparar resultados e conseguir ainda melhor. Mas ele andava assustado e recusou ter alguma coisa a ver com aquilo. Insisti, mas não serviu de nada. Mesmo não sendo ele minimamente religioso, dizia sempre que talvez eu estivesse a infringir alguma lei cósmica e viesse a perder mais do que ganhava. Bom, o que acontece é que não existe tal lei no universo, mas parece que o Universo, ou Tudo O Que Existe, tem o seu plano próprio. Sem me aperceber de nada, era precisamente para isso que eu caminhava.

Foi assim que começou, mas não como terminou. A própria ciência está lentamente a descobrir que existe um poder invisível a que chamamos Amor. Durante séculos a palavra Amor tem sido usada para descrever sentimentos e emoções, mas nada se tem dito acerca desta incrível fonte de poder que é responsável pela manutenção de tudo o que nos rodeia. Imaginem só a vida que poderíamos criar se soubéssemos como aceder a esta fonte. Imaginem só a diferença que poderíamos fazer neste mundo. O facto é que esta fonte está dentro de todos nós; nascemos com ela. Durante séculos a informação tem sido transmitida apenas a meia dúzia, e é mesmo isso que eu quero dizer. Tentar ganhar a lotaria não tem nada a ver com o que você está prestes a descobrir, a não ser que foi a motivação que me levou a aquietar a mente o tempo suficiente para me ser mostrado algo incrível que tem estado escondido mesmo na nossa frente.

Às vezes pergunto a mim mesmo se o mundo estará preparado para esta informação. A única resposta que tenho é a dos muitos emails que tenho recebido e continuo a receber. Vêm de pessoas que se admiram de como é incrível esta informação e de como funciona tão fácil e rapidamente. Preocupei-me também se não poderia ser usada erradamente, ou duma forma negativa, pois parece que alguns o tentaram. Que isto seja uma advertência. A Energia de Amor, por assim dizer, é uma energia consciente e tem consciência do que andamos a tentar fazer. Arrisco dizer que é por isso que funciona tão bem.

A história que você vai ler é verdadeira, até ao limite da minha aptidão para a escrever, e sobre a informação que vai descobrir neste livro, que eu saiba jamais alguma coisa se escreveu. Embora o poder do Amor seja mencionado em muitos escritos, em parte alguma foi explicado como usar esta energia de Amor para criar a vida e o Amor que procuramos.

Se você está cansado de ler e reler versões renovadas da mesma matéria e está preparado para dar o passo seguinte, então continue a ler. Vai descobrir um segredo pouco conhecido sobre o Amor, que jamais alguém julgou possível. Se anda a ler montes de livros ou anda à procura de alguma coisa que o leve mais longe, então é esta a informação de que tem andado à procura. É isto o que todos nós temos andado a procurar.

Todo o meu Amor

Klaus Joehle

Nota controversa do Autor

Eis a minha opinião: aproveite o que lhe agradar e deixe o resto.

Durante toda a nossa estadia neste planeta, parece que encontrámos uma maneira de nos destruirmos a nós próprios. Vamos para a guerra e matamos gente aos milhares. Atacamos os que parecem mais fracos do que nós e apoderamo-nos do que eles têm. Matámos e vamos continuar a matar outros e a morrer por aquilo que desejamos. Metade do mundo parece estar razoavelmente em paz, enquanto a outra metade se enfurece na guerra. Até quando tentamos ajudar aqueles que não podem defender-se a si mesmos contra um agressor acabamos por ficar iguais a esse agressor que tentamos deter. Durante séculos ensinaram-nos que não temos poder para pôr termo a uma agressão senão lutando e matando. Tornou-se um círculo vicioso haver gente que tenta desesperadamente viver em paz só para um dia ser atacada por aquilo que possui. Andamos com medo do que outros nos possam fazer. Trancamos as portas, fechamos os carros, instalamos alarmes de segurança, e tudo isto para nada. Há uma outra maneira. Eis um exemplo:

As pessoas que viviam em minha casa antes de mim foram roubadas e assaltadas cinco vezes em sete anos. Cinco vezes foi a casa deles vandalizada e roubados os seus pertences. Quanto a mim, vivo aqui em paz há muito tempo, embora o meu vizinho não. Não tenho alarmes; as portas e as janelas nunca estão trancadas. Os meus veículos não estão fechados e a porta da minha garagem está sempre aberta, com todo o ferramental ali bem à vista. Mesmo quando saímos não fechamos nada, e quando voltamos ninguém tocou sequer numa folhinha de relva. Desde que mudei para aqui nunca vi sequer as chaves da casa. A maioria das pessoas dirá que isto é uma insensatez e que estamos a desafiar complicações. Normalmente eu concordaria, mas você não viu a informação neste livro em acção, nem do que ela é capaz.

Noutros tempos estava convencido, como muita gente, de que Deus simplesmente nos tinha colocado aqui e não nos dera poder para criar o céu na terra. Mas com o tempo percebi que isso não fazia sentido. Nessa altura não sabia onde estava o poder ou como chegar a ele.

Acreditar que Deus nos fez impotentes para criar o céu na terra, acreditar que somos parte de Deus e fomos deixados impotentes para deter aqueles que querem destruir tudo quanto lhes aparece pela frente – é absurdo e não pode ser verdade. A verdade é que nós temos poder para pôr termo a isto e que esse poder jaz dentro de nós à espera de ser activado. O poder de que estou a falar é o Amor, e não precisamos de magoar aqueles que nos querem prejudicar a fim de os impedir.

Não deixem que a palavra Amor, nem a maneira como tem sido empregada, vos iluda; foi precisamente assim que a esconderam de nós. Fico espantado como a palavra Amor tem sido trabalhada para fazer a montanha parecer um rato. A maior parte das pessoas concordará que o Amor é uma das forças mais poderosas do universo, mas fica-se por aí. Fomos ensinados, e de muitas formas ensinámos a nós mesmos, que o Amor é um sentimento e uma força inalcançável, mas isso não é verdade. Há muito mais a dizer sobre o Amor e o que podemos fazer com ele. A melhor maneira de ocultar uma coisa é fazê-la parecer como coisa pouca, coisa estúpida e insignificante. O universo e tudo o que nós vemos não é um sistema fechado nem é auto-suficiente. Precisa de uma fonte de energia exterior, e é a isso que chamamos Amor. Pense nisto: aquilo que você acredita que criou tudo isto, seja o que for, também nos criou a nós, e ao fazê-lo deu-nos também o poder de criar o céu na terra. Não faz sentido?

Muitas pessoas temem o que amanhã lhes poderá acontecer e a seus filhos. Não posso censurá-las, mas depois de ler este livro você vai concordar que a única coisa realmente assustadora é não ter esta informação e não poder dá-la aos seus filhos.

Aprendi a meditar, e toda a espécie de coisas maravilhosas vieram dos nossos cientistas espirituais do Oriente e do Tibet. O que sempre me fez confusão foi o facto de, ao cabo de 500 anos de meditação, os tibetanos terem de fugir do país e deixar o povo ser escravizado, torturado e morto. Não estou a tentar diminuí-los. Estou a dizer que qualquer coisa faltou no caminho deles. Qualquer coisa faltou, a eles e a todos nós, que poderia ao menos manter-nos em segurança. Se não conseguimos manter-nos e aos nossos filhos em segurança enquanto fazemos do mundo um lugar melhor para se viver, então há qualquer coisa que falta, há qualquer coisa de errado. Estamos todos à espera que Deus venha para pôr tudo em ordem, mas o facto é que ele deu-nos livre arbítrio e deu-nos o poder de o fazermos nós mesmos sem magoar nem prejudicar ninguém. Eu sei que isto é uma afirmação altissonante, mas a prova está aí, nos inúmeros emails que recebo de pessoas que testemunharam, como eu, este mesmo milagre.

Não sou religioso senão na medida em que acredito em algo maior e mais amoroso do que eu mesmo.

Quando era mais novo mandaram-me para a escola dominical, como a maioria de vós, mas achei que qualquer coisa faltava, qualquer coisa como isto: quando Jesus disse para oferecermos a outra face, algo ficou por dizer. Esse algo foi: envia-lhes Amor e enche-os de Amor, porque isso vai detê-los no seu caminho; e, claro, as instruções sobre como enviar Amor de uma maneira eficaz. Se oferecer a outra face funciona tão bem só por si, porquê, então, quando eles roubarem ou assaltarem a vossa casa, não lhes dar mais do que eles procuravam? Se isso funciona tão bem, por que estão as igrejas fechadas? O objectivo de oferecer a outra face era evitar a represália, mas falta aí uma informação: como trabalhar com o Amor e como activar esta fonte incrível de poder, não só para nossa própria protec-ção, mas também para transformar a própria pessoa que nos ameaça ou põe em risco e para vivermos, sem medo, a vida que pretende-mos.

Se estivéssemos num lugar onde não houvesse água à superfície e nunca tivéssemos visto uma máquina perfuradora, mesmo que todos concordássemos que havia água morreríamos de sede. Porque se não sabemos o que é uma máquina perfuradora ou como usá-la, a máquina simplesmente está lá, tal como o Amor dentro de nós. Se o Amor é a força mais poderosa que conhecemos e se podemos usá-la para mudar as nossas vidas, criar as coisas que queremos, felicidade, segurança, Amor, alegria, etc. – não serve para nada se não soubermos como usá-la ou onde encontrá-la.

Estaria receoso se estivesse a falar de outra coisa que não o Amor, mas o Amor tem uma consciência que lhe é própria e não prejudica ninguém. Você vai descobrir isso por si mesmo à medida que prosseguir na leitura, e não terá palavras para exprimir a sua surpresa.

A informação que eu dou neste livro, não a encontrará em mais nenhum lugar, mas isso vai mudar em pouco tempo. Quando escrevi este livro pela primeira vez coloquei-o numa página da web para ver se as pessoas se interessavam e para ver se era compreensível, pois certas coisas são difíceis de exprimir por palavras. A resposta foi esmagadora. As pessoas escreviam a dizer que era a peça que faltava e que estavam espantadas com os resultados. Agradeço todo o vosso apoio.

Se o leitor se considera a si mesmo o que alguns chamam um obreiro da luz, ou um terapeuta ou curador, ou se ao menos está a tentar tornar-se um deles, esta é a informação de que tem andado à procura. Esta é a informação que vai conduzi-lo ao passo seguinte.

As minhas desculpas aos Tibetanos se o exemplo que dei os ofende, mas é tempo de sabermos como libertar a energia de Amor de que este mundo tão desesperadamente necessita.

Isto é para os dois tibetanos que são dos poucos que sabem desta informação e a têm aplicado com afinco:

A ocasião chegou: de uma maneira ou doutra, é tempo de as pessoas terem conhecimento do poder amoroso que têm dentro de si e é tempo de o libertar.

É tempo de as pessoas poderem viver em paz e sem medo e de poderem criar a vida que desejam. É óptimo o que vocês conseguiram, viver durante muito tempo, não precisar de comer nem beber água, tornarem-se invisíveis a olho nu. Mas vocês esqueceram-se do que é a vida para aqueles que foram persuadidos de que não possuem força alguma e que vivem sob o jugo de outros. Podem ter tido as vossas razões, mas para mim e pelo que tenho visto por esse mundo fora, elas não eram suficientemente boas para que guardassem isto para vocês. É neste ponto que discordamos e continuaremos a discordar. Mas depois vocês souberam que isto estava para chegar. Eu vivo bem, vivo em segurança, mas é tempo de as outras pessoas também poderem viver assim.

Para aqueles que crêem num Deus, ele deu-vos o poder de criar o céu na terra, e se o usarem ele virá, ou talvez num segundo ele/ela já cá estará. Pensem nisto. Vocês fazem tudo pelos vossos filhos, ou dão-lhes a capacidade ou as aptidões para o fazerem eles mesmos? Se vão deixar esta informação perder-se porque veio de um zé-ninguém como eu em vez de vir de um alto sacerdote… bom, é convosco. Vocês possuem as aptidões e o direito conferidos por Deus para criar o mundo que Deus queria. Aproveitem o que for do vosso agrado e deixem o resto para alguém que o há-de apreciar. Seja como tiver de ser.

Para aqueles que me têm escrito e continuam a escrever, as minhas desculpas porque o mais provável é receberem apenas umas notas curtas como resposta; a correspondência é demasiada e o tempo escasso.

Toda a informação está neste livro: como a descobri, como trabalhar com ela, o que esperar, e algumas das minhas próprias experiências. É tudo quanto eu tenho para vos dar, além do meu Amor. Aproveitem a informação e ponham-na em prática. Daqui a dois anos, ao olharem para trás ficarão espantados com aquilo que conseguiram. Todos ficaremos. Na meia dúzia de páginas seguintes vou tentar responder a algumas das perguntas mais frequentes. Espero que isto possa ajudar.

Todo o meu Amor para vós na vossa jornada!

 

Introdução

Durante séculos certa informação sobre o Amor e a quantidade de poder que ele proporciona foi mantida oculta e em segredo. Mas isto está para mudar. Se você quiser criar a vida que tem sonhado continue a ler.

Com toda a franqueza a última coisa que eu desejaria fazer era tornar-me escritor, especialmente para escrever sobre o Amor. Se não fosse a quantidade de poder e a capacidade que o Amor me deu para criar a vida que eu desejava… nem sequer pensaria em tal coisa. Usando o Amor descobri que posso virtualmente criar de imediato tudo o que quero. Usando o Amor adquiri uma capacidade e um poder tão grande de criar o que desejo que, se não fosse Amor o que eu usava, a coisa seria quase assustadora. A minha vida tornou-se um conto de fadas e ultrapassa tudo o que alguma vez esperei que me fosse possível. Eu sei que isto parece uma declaração pomposa, mas é totalmente verdade. Até a minha companheira, que tinha um espírito aberto mas também céptico, não teve outro remédio senão acreditar, pois a Magia é coisa do dia a dia que está para além das palavras. A quantidade de poder pessoal que o Amor proporciona, não para controlar os outros mas para criar a nossa vida e as nossas experiências, é espantosa. E o que isto tem de belo é que no fim parece resultar sempre da melhor maneira para toda a gente. Afinal de contas, se a coisa não tivesse esta dimensão não teria sido mantida em segredo.

Trabalhar e criar com Amor é muito fácil, só tem de se lhe apanhar o jeito, mas é extremamente fácil de aprender. A lista do que se pode fazer com o Amor, ou talvez eu pudesse dizer a energia do Amor, é interminável. Podia dar-vos centenas de exemplos. Vão encontrar neste livro – Living on Love “The Messenger” - uma mão cheia de exemplos. O meu ditado favorito é: Aproveite o que lhe agradar e deixe o resto para alguém que possa apreciá-lo. A escolha é sua.
Todo o nosso Amor para si no caminho que trilhar e nas opções que tomar.

 

Capítulo Um

Era no princípio do Inverno. Normalmente faz muito frio nesta altura do ano, mas este ano estava quentinho, quase como no Verão. Era um dia muito enevoado e parecia que ia chover.

Eu estava em casa a tentar escrever este livro, mas o facto é que não conseguia imaginar como contar esta história. Não sou escritor e nunca escrevi nada antes. Durante horas tentei escrever, e embora tivesse feito alguns esboços grosseiros e umas notas de coisas que tinham acontecido, não conseguia passar das primeiras páginas. Não conseguia achar palavras para descrever o que tinha acontecido dois anos atrás e que mudara a minha vida para sempre. Finalmente desisti e resolvi descer à cidade para tratar de umas coisas.

Estacionei o carro num sítio onde sabia que o podia deixar toda a tarde sem pagar o estacionamento nem tirar nenhuma senha, e fui a pé aos diversos sítios aonde queria ir. Depois de ter dado as voltas todas, decidi parar e ir ver um amigo meu chamado Henry para o desafiar a ir comigo tomar qualquer coisa. Não é preciso muito para convencer Henry, e lá fomos até ao bar. Por lá ficámos durante horas, até que decidi que era tempo de ir para casa. Ao chegarmos à rua chovia fortemente, o que é pouco usual nesta época do ano… para não dizer que muito raramente chove desta maneira aqui em Calgary.

Sabia que ia ficar ensopado, e então corri rapidamente de um sítio abrigado para outro; não que isso tivesse ajudado, mas é uma daquelas coisas estranhas que nós fazemos mesmo que logicamente não tenham sentido. Já estava escuro, e com a chuva via-se com dificuldade. Abrigado debaixo duma pequena pala, tentava não me perder. Olhando em volta, percebi que estava numa estreita passadeira coberta de telhado, quase como a varanda duma casa. Um pequeno anúncio luminoso que dizia Neena’s Bar brilhava na janela.

Não me lembrava de alguma vez ter visto aquele lugar. O espaço não tinha mais que talvez uns 4-5 metros de largura. Parecia quase como se tivesse sido encaixado à pressão entre dois edifícios de tijolo gigantescos.

Entrei. Olhei em volta e vi que além do empregado do bar parecia haver apenas duas pessoas. À direita ficava um pequeno balcão com uns três metros de comprido. Sentada, uma mulher de longos cabelos louros encaracolados conversava com o barman. À esquerda, um homem de chapéu estava sentado a uma mesa. Dirigi-me ao balcão e sentei-me perto da mulher loura, deixando um banco de intervalo.

Ao sentar-me ela voltou-se e disse: - Ainda está a chover?

- Sim, mais do que nunca – respondi. Um calafrio percorreu-me a espinha.

- Que deseja tomar? – perguntou o empregado.

- Uísque com gelo.

Observei as calças molhadas e pensei que devia ter parado noutro sítio qualquer. Chocolate quente teria sido mais agradável. Olhei em volta e perguntei a mim mesmo por que teria entrado ali. O sítio parecia misterioso.

- Dá-lhe o especial, Danny. – A mulher loura interrompeu os meus pensamentos.

- Ok! – disse o empregado.

Com um sorriso amarelo, pensei que aquilo me ia sair caro.

- Não se preocupe com isso. É por conta da casa – disse a mulher loura, como se tivesse escutado os meus pensamentos.

- Obrigado – disse eu, agradavelmente surpreendido. Olhando-a de relance, pensei que podia contar pelos dedos duma mão as vezes que tinha ouvido aquilo.

Ela era muito bonita, com um cabelo longo e encaracolado que parecia macio como seda. Timidamente desviei o olhar e continuei a observar em volta. Achava aquele sítio estranho, mas familiar e seguro ao mesmo tempo.

O empregado pôs o copo de uísque na minha frente, mas sem gelo. Eu ia dizer qualquer coisa mas ele ainda segurava o copo.

- Não temos chocolate quente, mas eu posso-lhe aquecer isto – disse ele rapidamente.

- Uísque quente? Nunca em tal ouvi falar! – disse eu, franzindo as sobrancelhas.

- É muito bom, experimente! – disse a mulher loura.

- Bem, por que não? – Eu estava sempre disposto a experimentar coisas novas.

O meu cabelo estava encharcado e caíam-me pingos de água pelo rosto. Ia precisamente perguntar onde ficava a casa de banho quando o empregado me estendeu uma toalha.

- Obrigado.

Esfreguei o cabelo e o rosto e ao pousar a toalha reparei pelo canto do olho que a mulher loura tinha passado para o banco a seguir ao meu. Isso pôs-me um bocadito nervoso. Não olhei para ela mas observei o empregado a aquecer o meu uísque e esperei que ele o trouxesse. Havia ali um silêncio espectral; não se ouvia música, não havia rádio, nem um ruído. Não era nada costume. Eram prenúncios de outra noite sobrenatural, pensei para comigo.

O empregado pousou o copo de uísque quente na minha frente e afastou-se um pouco na expectativa. Ergui o copo sabendo que havia dois pares de olhos em cima de mim e bebi um gole.

Dirigi-me à mulher loura: - Tchi… evapora-se antes mesmo de chegar ao estômago! É muito bom, obrigado.

Estabelecemos contacto visual ao mesmo tempo que ela sorria, e isso foi um erro. Os olhos dela eram como um oceano calmo reflectindo a Lua e as estrelas. Desviei o olhar, embaraçado. Danny afastara-se um pouco e lavava uns pratos. Fiquei em silêncio, olhando em frente e aquecendo as mãos no copo de uísque. O silêncio fez-me voltar ao meu livro. Talvez eu devesse frequentar um curso, pensei para comigo, ou, melhor ainda, talvez devesse esquecer aquilo tudo. Este pensamento deu-me uma sensação de alívio temporária.

- A propósito, o meu nome é Neena. – A mulher loura sorriu.

Quase entornei o copo. Tenho tendência para me afundar nos pensamentos e preciso de ser despertado com delicadeza.

- Desculpe, não era minha intenção assustá-lo. – Neena estendeu a mão.

- Tudo bem. Sou o Klaus.

- Prazer em conhecê-lo, Klaus. Este rapaz bem encarado atrás do bar é o Danny. Mas por que franziu tanto as sobrancelhas?

- Não reparei que estava a franzir as sobrancelhas.

- Problemas com a namorada?

- Não. – E bebi uns goles do meu uísque quente.

- Talvez o melhor seja contar-lhe, que ela não desiste enquanto você não o fizer – Danny sorriu do outro lado do balcão.

- É uma longa história – disse eu com um aceno de cabeça.

Neena inclinou-se para a frente e dirigiu-me um daqueles olhares de quem tem a noite toda pela frente. Nervosamente, sorvi um grande gole do meu uísque.

- Traz outro ao Klaus, Danny – disse Neena.

- O que eu devia era ir para casa – disse eu em voz alta, enquanto uma outra parte de mim dizia por favor dá-me mais! Sem dúvida há ali um sortilégio qualquer.

Danny não ligou nenhuma ao que eu disse e começou a encher outro copo.

- Anda lá, Klaus, deita isso cá para fora! Vamos! – exigiu Neena, com o rosto quase encostado ao meu para me obrigar a olhar para ela.

Uma parte de mim disse olha para ela, não sejas pato!

- Klaus! - disse Neena muito alto.

Senti a mão dela bater-me no braço, interrompendo-me os pensamentos.

- Quê?

Fiquei um pouco desagradado por ser tocado por um estranho.

- Anda lá, deita isso cá para fora! – comandou ela.

Fitando os olhos dela, perguntei a mim mesmo quantas espadas se haviam juntado para os tornar tão agressivos. Os meus lábios começaram a mover-se ainda antes do pensamento. Detesto quando isto acontece.

- Estou a tentar escrever um livro sobre uma coisa que aconteceu tempos atrás, mas não faço ideia de como escrevê-lo nem por onde começar. Não consigo pensar noutra coisa – disse eu, prometendo a mim mesmo não tornar a olhar para aqueles olhos.

- De que é que trata? – perguntou ela, enquanto Danny colocava a bebida na minha frente.

- É sobre anjos, ou talvez mais sobre o Amor, acho eu; acerca da vida, da razão por que vivemos, principalmente acerca do Amor, acho… - Desejei ter entrado noutro sítio qualquer.

- Mas isso é interessante. Então o que é que aconteceu? – Não havia dúvida de que Neena era muito persistente.

Abanei a cabeça. – É uma longa história, e é realmente bizarra.

Danny riu. – Se você sair daqui sem lhe contar a história, isso é que será mesmo bizarro.

Tornei a abanar a cabeça. – Eu nem saberia por onde começar!

Pensei um pouco no assunto, pois de algum modo eu estava em pulgas para a contar a alguém. Considerando que provavelmente nunca mais tornaria a ver aquelas pessoas, esta devia ser a oportunidade perfeita. Mas por onde começar?

- Comece mesmo pelo princípio – Neena desviou-me dos meus pensamentos.

Danny inclinara-se para a frente e estava pronto para escutar. Era óbvio que a situação lhe agradava.

- Tenho de dizer-vos que é uma história muito estranha - disse eu.

- Somos todos ouvidos. – Neena rejubilava com a vitória.

Isso vejo eu, pensei para comigo.

- Dêem-me um momento para pôr os pensamentos em ordem – pedi.

 

Verdade

O que é a imaginação?
O que é a realidade?
O que é a verdade?
É realidade o que imaginamos?
Ou aquilo que imaginamos
É realidade?
Então o que é a verdade?

Capítulo Dois

“Uma história tem realmente um princípio, ou tem mesmo um fim? Onde é que começa e onde é que acaba? Começa no início de uma viagem, no fim de uma viagem…”

Parei por momentos para ver se eles ainda estavam atentos.

“Ou começa quando tomamos certas decisões que nos levam a um caminho que nos leva ao princípio da história? Ou a história começa quando iniciamos a jornada, ou quando começamos a fazer as malas, ou quando fazemos os respectivos planos? E quando é que acaba? Se uma história nos modificou, acaba quando deixamos de falar dela? E qual é a parte importante? Todas as decisões que foram tomadas ou os caminhos que foram seguidos? A história é como o ponto onde quatro estradas se cruzam? Digamo-lo sem rodeios… não há princípio nem fim.

Se alguma vez quiserem ver-se livres de uma pessoa, é só darem-lhe uma linha assim… vai levá-la para longe como folhas secas ao vento estival.

Olhei para ambos tentando suster o sorriso que me provocava o imaginá-los soprados pela ventania…

- Concordo inteiramente – disse Danny. Neena concordou com um aceno de cabeça.

- É assim como a verdade. O que é a verdade? Por vezes a verdade pode ser muito confusa – respondeu Neena. Obviamente ela não estava a ser levada pelo vento.

- Que queres dizer? – perguntei, surpreendido por isto poder converter-se em assunto de conversa.

- Por exemplo – disse ela, - dez pessoas são testemunhas de um acidente: há dez versões do que aconteceu e a única coisa que sabemos ao certo é que há vários carros amolgados. E depois vem a questão: quando é que aquilo realmente aconteceu? Começou quando um carro se descontrolou ou quando os condutores entraram nos seus carros? Dizem que os nossos pensamentos criam a nossa realidade; ora se é assim, quando é que este acidente começou verdadeiramente?

Danny e eu concordámos com um aceno de cabeça.

- Consideremos ali aquele papel de parede – observou Danny. – Todos nós o vemos, mas aquilo é a verdade? O que nós vemos são cores às tiras; o que nós não vemos são as pessoas que trabalham nas fábricas e fazem estes papeis, os seus medos, os seus sonhos. Nem vemos as árvores donde veio este papel nem as pessoas que construíram a parede na esperança de poderem dar de comer às famílias, nem o proprietário com a esperança de ganhar dinheiro suficiente para pagar tudo isto. Tudo quanto vemos são faixas e cores. Mas isso não é realmente a verdade.

Durante o silêncio que se seguiu bebi mais um gole do meu uísque. Não sei porquê, mas veio-me à memória um sonho que tenho tido desde criança. Estava a pensar nele quando Neena me interrompeu o pensamento.

- Lá estás tu outra vez a franzir o sobrolho. – Neena tocou-me com o cotovelo. Devia estar a sentir-me em segurança porque a minha boca começou novamente a falar sem o meu total consentimento.

- Estava precisamente a pensar num sonho que tive quando era criança. Acreditava que o mundo podia ser um grande jardim. Vocês sabem o que eu quero dizer… cidades construídas no meio e à volta de jardins, onde toda a gente é feliz e anda a brincar e a plantar árvores de fruto, flores, morangueiros, e a apanhar fruta… e a brincar com os animais, como veados e coelhos e raposas que andam por ali sem receio nenhum das pessoas mas atraídos por elas. Pessoas sem medo das pessoas. Toda a gente cuidando de cada um em vez de se agredirem uns aos outros. – Fiz um gesto com as mãos. – Apenas um sonho estúpido que nunca ninguém vai ver realizar-se; andamos demasiado ocupados a rebentar com tudo e a tentar ganhar mais dinheiro do que os vizinhos…

- Nunca se sabe! – Danny curvou-se e tirou de baixo do balcão uma garrafa verde esquisita. Vi que tinha rolha mas não tinha rótulo.

- Tenho estado a guardar isto para uma ocasião especial – disse Danny com um brilho estranho no olhar.

Olhei para a garrafa. – Onde é que você arranjou isso? Num navio de piratas?

Danny alinhou três copos em cima do balcão e sorriu. – Não, não precisamente.

- Parece velha – disse eu, enquanto Danny se esforçava por extrair a rolha.

- E é! – disse Neena. – Muito velha.

- O que é?

Olharam um para o outro por momentos e Danny começou a deitar o líquido nos copos.

Encolhi os ombros. – Bom, então qual é a ocasião especial?

Não sei se era do uísque ou da companhia, mas sentia-me seguro e à vontade, mesmo sem me terem respondido à pergunta. A garrafa tinha apenas o suficiente para encher três copos pela metade. Danny pôs a garrafa vazia debaixo do balcão e estendeu um copo a cada um. Era um líquido espesso e de uma cor de sangue escuro. Aproximei o copo do nariz. Cheirava a doce, mas nada de álcool.

- Não tem álcool – disse Neena.

Sorri. – A que é que vamos beber?

- Aos sonhos! Que sejam belos e se realizem. – Neena levantou o copo.

- A mim, a mim! – Danny falava como um pirata.

Era incrível. Sabia a bagas, era doce e espesso, mas não podia dizer de que espécie de bagas era feito. As minhas papilas gustativas activaram-se. Bebi outro gole, e mais outro, e deslizei para um mundo que é meu. Senti como se cada uma das células do meu corpo tivesse rejuvenescido. A bebida tomou conta de mim, e quando Neena disse talvez seja melhor beber lentamente! - era tarde demais; já eu sugava a última gota e queria mais…

Quando pousei o copo riam ambos a bandeiras despregadas. Olhei para os outros copos e verifiquei que mal lhes tinham tocado. Deve ter sido a maneira como olhei para o copo de Neena que a fez afastá-lo do meu alcance. Não tive outro remédio senão rir com eles. O meu pensamento era tão claro como o som de um sino. Sentia-me também pletórico de energia.

- Uau! É boa fazenda! Vou levar uma caixa…

Eles continuavam a rir.

- Ena, pá! Estava capaz de dominar um dinossauro!

Tenho a certeza que tinha no rosto um riso alarve que faria inveja a qualquer palhaço.

Neena pousou uma mão sobre a minha. – Bom, agora que já sabes que não vamos fazer troça de ti, talvez te apeteça contar essa história sobre anjos e Amor.

- Pois seja – disse eu. – O prometido é devido.

- Começa do princípio e não deixes nada de fora – disse Neena.

- Deixa-me só pôr a cabeça em ordem. – Empurrei o meu copo de uísque vazio na direcção de Danny para ele o tornar a encher.

Assim mesmo

O mundo é uma grande tigela de sopa
Em rodopio constante
E se as ervilhas e as cenouras
Não se derem umas com as outras
É pena.
Porque vão de certeza encontrar-se muitas vezes
E ninguém se vai embora
Até sermos todos amáveis e afectuosos
As coisas são assim mesmo

Capítulo Três

Pus os pensamentos em ordem enquanto Danny enchia o meu copo. Meti a mão na algibeira do casaco à procura dos cigarros. Olhei em volta a ver se o homem ainda estava sentado à mesa. Parecia que não se tinha mexido nem um dedo, o que era bastante estranho, uma vez que nada lhe tinha sido servido desde que eu chegara, e já lá ia quase uma hora.

Danny pôs a bebida na minha frente enquanto eu puxava uma fumaça do cigarro.

- Então, Klaus? – Danny esboçou um sorriso pateta. – Estou a pronunciar o teu nome correctamente?

- O suficiente. – Chocalhei o gelo no meu copo.

- Achei que desta vez talvez preferisses frio. – Danny continuava com o riso alvar.

- O teu instinto acertou. Obrigado! – Devolvi o sorriso.

- Então e essa história?

- Passei a maior parte da vida, excepto a última meia dúzia de anos, muito infeliz. É difícil de explicar mas havia uma profunda tristeza interior. De facto a melhor maneira de explicar é que parecia que não havia em mim felicidade. Ou talvez devesse dizer que a felicidade faltava, e acontecesse o que acontecesse, fosse bom ou mau, simplesmente não existia felicidade, e eu nada podia fazer contra isso.

Estão a ver, o problema é este… para compreenderem verdadeiramente o que quero dizer, precisam de conhecer o resto da história, mas ao mesmo tempo não posso realmente contar-vos a história sem vos falar desta parte. – Abanei a cabeça.

Danny deu a volta ao balcão para vir buscar um banco. Levou-o para onde tinha estado de pé e sentou-se.

- Eu posso compreender os sentimentos, Klaus, mas não posso ouvi-los – disse Neena.

- Só de pensar nesses dias fico um pouco triste – disse eu em voz baixa.

- As pessoas não notavam que andavas triste? - A voz simpática de Neena tentava dar-me uma ajuda.

- Essa parte realmente não interessa – disse eu. – Mas no que diz respeito à infelicidade, experimentei toda a espécie de coisas ao longo dos anos. Até observei as outras pessoas para ver o que lhes trazia felicidade, e depois tentava as mesmas coisas. Por exemplo, reparei que quando as pessoas compravam um carro novo ficavam realmente felizes… pelo menos por algum tempo. Ou então andavam felizes se começavam uma relação. Há uma quantidade enorme de coisas que as pessoas fazem para ser felizes, e basicamente eu experimentei-as todas. Pode parecer estranho, mas nenhuma dessas coisas fez nada por mim. Na verdade, a maior parte das vezes fazia-me mais infeliz do que antes, simplesmente porque eu esperava que acontecesse alguma coisa e não acontecia nada. Vem-me à memória um exemplo disparatado: lembro-me de comprar um carro novo a pensar que isso me ia trazer felicidade, mas depois de comprar o carro acabei por me sentar dentro dele duas ou três horas, esperando ficar inundado de alegria ou felicidade, como parece que acontece com outras pessoas. Mas nada aconteceu. Não fiquei mais feliz do que era antes de comprar o carro. Parece no entanto que não é este o caso com outras pessoas. Mas não deixei de tentar. Tentei muitas outras coisas ao longo dos anos. Li centenas de livros de todas as espécies, sobre meditação, poder da mente, controlo da mente, pensamento positivo, livros sobre o Amor, sobre a vida, toda a casta de livros de auto-ajuda – mas não serviu de nada. Era como se alguma coisa faltasse em mim. Mas reparei também que não era o único e que havia muita gente em situação idêntica. Saber que não era o único não foi grande ajuda. Se por um lado estava determinado a resolver este problema, por outro lado sentia-me desesperado e muitas vezes desisti. Também frequentei cursos e me juntei a grupos de auto-ajuda. O mais interessante de tudo foi quando decidi fazer terapia. Foi para mim um tempo doloroso; estava convencido de que havia algo de errado comigo. Mas ao fim de três semanas em que fiz das tripas coração, disseram-me que estava fino e sem dúvida nenhuma de boa saúde, o que foi bom de ouvir; disseram-me também que não havia razão nenhuma para continuar com as sessões. Tudo o que eu precisava era descobrir qualquer coisa que realmente gostasse de fazer e dedicar-me a isso. É pena que as coisas não fossem assim tão simples.

Parei por momentos para acender outro cigarro e reparei que Danny ria sozinho.

- Mas que raio de piada é que isto tem para ti?

- É que eu nunca conheci ninguém que se sentasse dentro do carro duas ou três horas à espera que a felicidade brotasse. Mas saúdo a tua determinação. – Danny fez-me um cumprimento com um sorriso rasgado.

- Essa infelicidade foi então a força que te impulsionou? – perguntou Neena.

- Exactamente. Em vez de andar em busca de dinheiro, fama, Amor, carreira profissional, ou qualquer das coisas em que normalmente as pessoas ocupam a vida a tentar realizá-las - tudo o que eu queria era ser feliz. Dito de outra maneira, queria livrar-me da dor e do sofrimento que sentia.

Fiquei absorto em pensamentos observando as espirais de fumo que saíam do cigarro. Pensava em certas coisas que a falta de felicidade nos leva a fazer e nos caminhos que nos arrastam para baixo. Havia também algo mais no meu espírito e estava a tentar decidir se devia ou não abordar o assunto, quando Neena me interrompeu os pensamentos.

- Seria de admirar se nunca tivesses pensado em pôr termo a tudo isso, ou talvez em fazer uma tentativa! – disse ela.

Olhei para Neena. Vendo o fulgor dos seus olhos, pensei: é evidente que o universo trouxe para este jogo alguns dos seus melhores jogadores e não deixa nada ao acaso. Parece que o universo me conhece melhor do que eu julgava.

Levantei-me e perguntei onde ficava a casa de banho. Precisava de um momento para pôr os pensamentos em ordem. Danny apontou para uma pequena porta de madeira na extremidade do balcão.

A casa de banho não era muito grande, não muito maior que um anexo, sem janelas e sem qualquer hipótese de alguém se escapar por ali, se fosse essa a ideia. Pensei em tudo o que tinha dito até então e decidi continuar. Afinal de contas não tinha nada a perder.

 

A Vida

Às vezes a vida é
Como um gigantesco jogo de dados
Que prossegue sem parar
E quando nos tornamos realmente bons a jogar
Talvez o universo faça uma jogada
Só para nos fazer pensar
Talvez as coisas se tornem ainda melhores
E assim
O jogo continua.

Capítulo Quatro

Quando voltei da casa de banho vi que o tal homem continuava sentado à mesa. No caminho para o balcão mantive a distância que me separava dele. Uma regra muito importante a recordar quando se joga com o universo é que é necessário jogar com respeito, e de preferência mostrar respeito; não é que o universo se incomode connosco, só que pode querer dar-nos uma nova carta, porque o universo também gosta de ensinar. Uma das coisas que você não precisa que o universo lhe ensine é como respeitar o jogo - pode crer.

Sentei-me no meu banco e bebi o resto do uísque de um só trago. Ao acender outro cigarro verifiquei se tinha cigarros suficientes, pois ia ser uma noite longa.

Danny deitava sumo de laranja em dois copos e perguntou se eu também queria. Não tinha reparado antes, mas aparentemente Neena e Danny tinham acabado de beber o que quer que fosse que saíra da garrafinha verde.

- Sim, fazes favor. Óptima ideia! – disse eu.

Danny colocou um copo diante de mim, o outro diante de Neena, e sentou-se no seu banco. Houve um momento de silêncio.

- Acho que também podia contar-vos tudo – disse eu com uma leve hesitação. – Foram ao todo três vezes que eu decidi levar a coisa até ao fim. Não foram propriamente tentativas físicas, mas foi o suficiente para causar uma comoção forte.

- Têm a certeza que querem que eu conte esta parte ou querem que eu passe à frente?

- Aconteceu alguma coisa interessante nesse período de tempo? – perguntou Danny.

- Ah, sim, sem dúvida! – disse eu sarcasticamente. – A minha vida tem sido uma grande dança, uma grande canção.

- Deve ser interessante! – Neena olhou para Danny e riram ambos. Ignorei-os.

- Bom, a primeira vez foi há um bom par de anos atrás. As coisas não andavam assim tão más, excepto que eu era infeliz. Tinha tudo o que devia fazer uma pessoa feliz, mas não era esse o caso. O problema que me fazia andar tão deprimido nessa altura é que eu tinha passado vários meses a ler livros e a fazer um esforço muito sério para ser feliz. Tinha-me esforçado bastante, mas o resultado era zero. Parecia-me que as coisas pioravam em vez de melhorar, e a gota que fez transbordar o cálice foi numa noite em que eu estava a ler um livro novo que tinha arranjado nesse mesmo dia. Quem o escreveu relata o encontro com um instrutor que lhe ensinou várias coisas fascinantes. O que realmente me aborreceu foi que ele teve um instrutor mágico que foi ter com ele vindo do espaço e lhe ensinou tudo o que ele queria saber, ao passo que eu tenho de andar sozinho a debater-me com os meus problemas. A outra coisa que me chateou foi que ele refere certas coisas interessantes que aprendeu mas não dá instruções de como fazê-las. De que serve falar-me daquelas coisas sem me dar instruções? Um desperdício de papel e um desperdício do meu tempo. – Inclinei-me para Neena e sussurrei: - A minha atitude nesse tempo tinha-se radicalizado um pouco.

Abanei a cabeça. - Lembro-me de tudo com grande clareza. Achava que o universo se tinha esquecido de mim. Estava tão frustrado e desesperado que lancei o livro contra a parede. Em pensamento, gritei que se não recebesse auxílio imediatamente, na manhã seguinte levava o carro até às montanhas e precipitava-me do rochedo abaixo. Sentia a cólera correr-me nas veias. Ao fim e ao cabo, é provável que não viesse a fazê-lo, mas naquele momento a decisão estava tomada. Imaginava eu que o universo podia ignorar-me enquanto eu estivesse aqui, mas se eu já cá não estivesse, diante dele seria muito mais difícil ignorar-me!

“Não sei exactamente quanto tempo passou, mas diria que a coisa começou não mais de cinco minutos depois de ter gritado aquelas palavras em pensamento. Os meus sentidos interiores pareciam brotar para a vida e eu senti a presença de qualquer coisa muito grande. Era enorme e parecia que tentava encolher-se para caber na minha casa; mas era grande demais e acabou por ocupar o espaço do bloco de apartamentos inteiro, e mesmo assim não era suficiente. Na verdade eu não via nem ouvia coisa nenhuma, mas sentia-o com todo o meu ser – é a única maneira de o descrever. Não sou capaz de descrever o susto que sentia. Acho que nunca estive tão assustado. Quase fiz chichi na cama.

Tinha uma casa pequena mas aberta, e da minha cama via a entrada, parte da cozinha e uma grande parte da sala de estar. Todas as luzes estavam acesas porque não gosto da escuridão. Assim que escurece, sinto sempre como se houvesse uma coisa grande atrás de mim a observar-me. Que eu me lembre, a escuridão sempre me assustou. Por isso tenho sempre as luzes acesas e nem gosto dos cantos escuros; quem sabe o que lá pode estar escondido? Segundos depois as luzes começaram a apagar e a acender. Era quase musical. Eu tremia de medo, literalmente. Sentia aquela presença a formar-se, e de repente ouvi uma voz na minha cabeça: Devias saber melhor…!

E foi assim. As luzes deixaram de piscar, e o que quer que fosse desapareceu. Fiquei tão assustado que, mesmo com uma enorme vontade de ir à casa de banho, não saí da cama até à manhã seguinte. Nem dormi em casa na noite seguinte. Misteriosamente, uma quietude estranha desceu sobre todo o prédio e durou várias semanas. Dias depois ouvi duas outras pessoas na lavandaria falar do assunto, e parece que outras pessoas no prédio tinham igualmente pressentido qualquer coisa mas não conseguiam explicar o que tinha sido.

Este incidente bastou para que me abstivesse de me lamentar das circunstâncias da minha vida durante quase dois anos. Mas entretanto começou a perder influência.

Parei para beber mais um gole do meu sumo de laranja.

- O que é que tu pensas que te veio visitar? – perguntou Neena.

Abanei a cabeça. – Não sei, e na verdade não quero saber! É óbvio que lixei alguém, e francamente o que eu quero é deixar as coisas como estão, porque fosse quem fosse que me veio visitar não estava lá muito bem disposto.

O tempo passava e as coisas não melhoravam. Começaram até a deteriorar-se mais ainda, e tornava-se cada vez mais difícil iludir a situação. Pôr um sorriso no rosto e fingir que se é feliz quando se não é consome uma grande quantidade de energia; além disso, andava assustadíssimo com aquilo. Estranhamente, porém, estava preparado para a segunda volta e não ia simplesmente ficar assim a tremer de medo. Fazia planos para travar uma batalha. Afinal de contas, tenho o direito de ser feliz. Quando se está realmente deprimido e em baixo, normalmente não se pensa direito. E o facto é que pedi ajuda e não recebi nenhuma.

Por momentos pensei no que tinha dito. – Bem, não é totalmente verdade – acrescentei com um sorriso amarelo.

- Ah, então recebeste mesmo ajuda? - perguntou Neena.

- Sim. Ganhei uma viagem ao México e enquanto lá estive conheci alguém que provavelmente me podia ter ajudado, mas havia uma série de circunstâncias para as quais eu não estava preparado. Por outro lado, o rumo da minha vida teria mudado e talvez nunca tivesse tido a oportunidade de descobrir como ganhar a lotaria. E, de certo modo, só isso já valia a pena. E também podia ter implicado que a história que vou contar-vos não tivesse acontecido, e isso seria uma grande perda.

- Espera aí! Estás a querer dizer que descobriste como ganhar a lotaria? – Danny cruzou os braços no peito como se quisesse dizer que tal coisa era impossível.

- Sim, mas lá chegaremos mais tarde.

- Ganhaste mais do que uma vez? – Os olhos dele pareciam do tamanho de melancias.

- Ah, sim.

Afastei o meu banco do balcão e levantei-me. Precisava de me esticar um pouco.

- Então saiu-te o tiro pela culatra pela segunda vez consecutiva? – Neena esboçou um sorriso.

- Não, não propriamente. Precisamente o contrário. Vocês aqui não têm música? – disse eu, tentando mudar de assunto. – Há aqui silêncio demais!

Danny levantou-se e dirigiu-se a uma prateleira onde estava um pequeno gravador. Pôs uma bobina e ajustou o volume. Não sei o que era mas soava como uma espécie de música new age que encobria o silêncio agradavelmente.

Lar

Lar, o próximo lugar onde descanso a minha alma
As encruzilhadas da vida
Onde plantar sementes de fé
Criar plantações de Amor
E ponderar qual o rumo a tomar a seguir
Antes de rumar para o Lar
Para as próximas encruzilhadas da vida
Onde plantar…

Capítulo Cinco

Estiquei-me um pouco e tornei a sentar-me, tencionando fazer uma pausa e ouvir um pouco de música, mas Danny lançou-me um olhar de impaciência e bateu com os dedos no balcão. Percebi a ideia.

“Foi uns dois dias mais tarde. Emocionalmente a minha situação era a mesma, só que desta vez tinha perdido o emprego e caminhava para a minha primeira situação de falência. Perder o emprego ou ficar sem dinheiro não era o pior. Durante um ano trabalhara arduamente num grupo de apoio, e como resultado de todo esse trabalho ganhara apenas alguns amigos e conseguira lamentar-me um pouco. De facto livrei-me de alguns pesos que tinha em cima, mas continuava a não ser feliz.

- Tentaste mais alguma coisa nesses dois anos além do grupo de apoio? – perguntou Neena.

- Tentei montes de coisas diferentes, mas de uma maneira ou de outra parecia quase como se alguma coisa houvesse que me impedia de encontrar a felicidade. Nesse tempo nada fazia verdadeiramente sentido. Agora compreendo, mas naquela altura estava a ficar maluco.

Mergulhámos os três em silêncio. O meu pensamento prendia-se ao passado,

- Lembro-me agora. Andava mesmo abalado. Estava a ficar maluco, sabem? Andava danado com o universo. Por uma série de razões estava abalado com o que quer que fosse que me tinha vindo visitar. Que direito tinha aquela coisa de me pregar um susto de morte, ainda por cima sem verdadeiramente me ajudar, só para me dizer que eu devia saber melhor? Como é que eu devia saber melhor? Estava pronto para a luta! E também muito cansado da vida. Nada parecia resultar comigo e tudo o que eu tocava parecia converter-se em pó. Acho que a melhor maneira de o descrever seria dizer que a vida sem felicidade torna-se uma noite interminável. Havia também uma enorme e profunda dor interior de que não conseguia livrar-me. É-me quase impossível exprimir verbalmente todos os sentimentos e emoções que tinha naquele tempo. Não conseguia entender porque é que uma coisa como a felicidade interior, que devia ser tão natural, era tão difícil para mim e me estava a deixar de pantanas. Fico muito irritado quando não consigo o que quero, especialmente se me esforço duramente para o conseguir. Devo dizer que não era sempre totalmente infeliz. Tinha momentos felizes mas não estava satisfeito com a quantidade de felicidade que tinha, e queria mais. Percebem o que quero dizer?

Neena olhou para mim. – Sim, acho que percebo.

- Achas mesmo que podias levar a melhor com uma coisa que talvez seja cem vezes maior do que tu? – perguntou Danny.

Abanei a cabeça. – Nem sempre é importante vencer. O que é importante é resistir. Obviamente a minha atitude não era exactamente a mais correcta. Eu pensava que a vida não tinha nada para me oferecer e queria ir para outro lugar qualquer. O que sempre me admirou é que as pessoas lutam por pedras, lixo e tudo o mais, excepto por Amor e alegria. Estas é que são as coisas pelas quais vale realmente a pena lutar. Tudo o mais não é mais do que temporário.

Danny concordou com um aceno de cabeça.

“Era cerca de uma hora da madrugada. Tinha já tomado a decisão: de manhã ia de carro até às montanhas e fazia aquilo parecer um acidente. Mas pouco depois de tomar a decisão comecei a sentir-me verdadeiramente em paz. Era qualquer coisa que nunca sentira antes. Estava tranquilamente deitado na minha cama. Acho que durante aquele tempo passei pelas brasas, estive num estado meio a dormir, meio acordado, e nesse estado semelhante a um transe tive uma visão. Era tão real como qualquer coisa concreta, tal como eu estar ali fisicamente. Era no meio de uma galeria de arte. Estava a olhar à minha volta quando reparei que muitos quadros que estavam pendurados nas paredes eram meus. Foi então que a brincadeira começou. Ouvi uma porta a abrir-se e uma mulher entrou. Era alta e esguia, com cabelo liso e comprido que lhe chegava quase até aos ombros, pele de um branco leitoso e grandes olhos. Antes que me apercebesse, ela estava mesmo à minha frente. Era incrivelmente bonita. A única forma de o dizer é que era mais bela do que o próprio rosto. Podia ver-se a beleza mesmo para além da aparência. Estávamos frente a frente, afastados não mais que uns trinta centímetros.

“Ela perguntou: - És tu o Klaus?

“No momento em que ela disse aquilo, senti como se cada célula do meu corpo tivesse voltado à vida e estivesse a prestar atenção. Era como se eu fosse feito de biliões e biliões de células e cada uma tivesse a sua própria consciência e nesse momento todas elas estivessem a prestar atenção. Foi a sensação mais estranha mas ao mesmo tempo uma das coisas mais belas que alguma vez experimentei. Era como se cada célula do meu corpo fosse um indivíduo que tivesse interesse na minha vida. Quase como se as células fossem pequenos seres, todas a funcionar em conjunto para criar o meu corpo físico, a fim de que eu pudesse viver e experimentar a vida física. Tive a impressão de que tudo o que eu faço as afecta e tem importância para elas.

“Tentei responder à pergunta dela mas não fui capaz. Muita coisa estava a acontecer no meu corpo, por isso apenas acenei com a cabeça. Ela estendeu a mão e disse, enquanto apertávamos as mãos: - Gostaria que não saísses daqui por algum tempo. Tudo vai fazer sentido mais tarde.

“A voz dela era como se estivéssemos a escutar um milhar de anjos. Todas as células do meu corpo continuavam atentas. Era esmagador. Infelizmente, no momento em que ela acabou de falar tudo terminou, e eu estava de regresso à cama, bem acordado. Nos meses seguintes andei obcecado com esta visão e tentei muitas vezes repeti-la, mas sem resultado. Nem pouco mais ou menos.

- O que é que te impressionou tanto nessa visão? – perguntou Neena.

- Pensei que talvez fosse encontrar aquela pessoa na vida real. Era uma ideia estúpida, mas era um raio de esperança. Só aquela esperança me deu ânimo durante quase três anos, uns três anos bem compridos, posso acrescentar. Mas acho que era esse o plano. Provavelmente o universo imaginou que, se pelo medo não podia obrigar-me a ficar por cá, talvez seduzindo-me o resultado fosse melhor. É óbvio que resultou, pelo menos durante algum tempo.

- Talvez fosse um desequilíbrio químico no teu corpo. Alguma vez pensaste nisso? - perguntou Danny.

- Ah, sim. Pensei nisso e até consultei vários médicos, mas o facto é que eu preferia sofrer a viver o resto da vida à custa de medicamentos. A maioria deles tem efeitos secundários graves e, de algum modo, eu também receava não poder ser feliz sem eles. Tinha também a esperança de que algum dia encontraria a resposta. Medicamentos são apenas uma solução temporária; não resolvem o problema ou a situação que está primariamente na origem do problema. Tanto quanto eu penso, a felicidade e o Amor não podem ter nada a ver com as circunstâncias ou as experiências ou o meu corpo físico.”

A Última Posição

Oh, meu amigo, não somos nós obstinados?
Oh, sim, somos.
O universo a que queres resistir,
Um milhar de guerreiros, espadas de aço desembainhadas,
Quinhentos cavalos pesados
Contra eles queres resistir com a tua espada de palha
Tenho sido um guerreiro o tempo todo e mais algum
E não sei tudo,
Mas isto eu sei:
O sangue vai correr neste dia
Será teu, meu amigo,
E meu também.
Pois com honra tenho de permanecer.
Por isso te pergunto
Pensa
É este um dia bom para morrer?

 

Capítulo Seis

“Tenho a certeza que foi perto de três anos mais tarde. Era à tardinha. Tinha saído para jantar mas não era capaz de comer. Andava totalmente em baixo, deprimido, desfeito em lágrimas. Meti-me no carro e comecei a andar. Estava tão entorpecido e exausto que meti pela auto-estrada em direcção às montanhas. Por alguma razão, saber que dali a uma ou duas horas tudo estaria acabado dava-me uma sensação de alívio.

- É esse o problema com o suicídio: as pessoas pensam que é uma saída, mas a verdade é que isso desencadeia outra vez o processo todo – observou Neena.

- Concordo. Mas quando a pessoa está mesmo muito em baixo, nada mais importa senão livrar-se dessa escuridão, mesmo que seja por pouco tempo. Eu teria dado qualquer coisa só para ser feliz uma semana. Era nesse ponto que as coisas estavam.

Neena assentiu com um gesto de cabeça.

- Algures durante o caminho deves ter mudado de ideias, senão não estavas aqui hoje! – disse Danny.

Não sei porquê, mas por alguma razão o lábio superior de Danny tremia ligeiramente. Achei aquilo muito divertido.

“Na verdade não mudei de ideias. Foi assim: a uns 30 minutos de Calgary ficava um posto de gasolina. O meu carro tinha muita gasolina mas, por alguma razão estranha, assim que lá passei o motor começou a engasgar-se e a trabalhar aos solavancos. Não dava mais que uns 10 km por hora. Era como se alguém desligasse e tornasse a ligar a ignição muito rapidamente. Verifiquei o indicador da gasolina e havia muita. Além disso o carro era novo. Resolvi sair da auto-estrada e voltar ao posto de gasolina, pensando que haveria alguma deficiência na ignição electrónica. Mas quando me aproximava do posto de gasolina, o carro começou a andar perfeitamente. Não havia motivo para tentar uma reparação, pensei eu, desde que ele fizesse a viagem. E depois já não interessava absolutamente nada. Decidi, pois, tornar a entrar na auto-estrada e retomar o caminho das montanhas.

“Tinha de andar cerca de um quilómetro e meio na auto-estrada até encontrar sítio para dar a volta. Estava tão mal disposto que nem sequer me importava se tivesse de empurrar o carro ate lá. Saí da auto-estrada e tornei a dirigir-me para as montanhas. Mas assim que cheguei ao posto de gasolina o carro tornou a engasgar-se e a andar aos solavancos! Experimentei meter mudanças, acender as luzes, desligar e ligar a ignição, mas nada parecia ajudar. O carro lá foi aos solavancos até chegar a outro acesso à auto-estrada. Da maneira como o carro andava, mal consegui entrar na auto-estrada. Levei 10 ou 15 minutos para voltar ao posto de gasolina, tão devagar o carro progredia. O motor ia-se abaixo de vez em quando mas eu punha-o novamente a trabalhar. Assim que me aproximei do posto de gasolina, o motor voltou à vida e trabalhava perfeitamente. Passei então pelo posto de gasolina e dirigi-me para o acesso à auto-estrada, a cerca de quilómetro e meio. O carro continuava a portar-se bem. Entrei na auto-estrada e comecei outra vez a dirigir-me para as montanhas. O estúpido do carro andou bem até perto do posto de gasolina, e então aconteceu a mesma coisa. O motor começou a engasgar-se e a ligar e desligar. Eu estava a ficar bastante frustrado e resolvi continuar a andar assim mesmo, mas quanto mais me afastava do posto de gasolina pior o carro se comportava. Finalmente não tive alternativa senão tornar a sair da auto-estrada, e o facto é que ao chegar ao posto de gasolina o carro andava normalmente. Voltou à vida e ronronava como um gato.

- Porque é que não paraste no posto de gasolina e não mandaste ver o que se passava? – perguntou Danny.

- Eram nove ou dez horas da noite e pensei que não havia lá nenhum mecânico àquela hora. Além disso o carro andava bem do outro lado da auto-estrada, e de algum modo eu sabia que não havia avaria nenhuma. Daquela vez não ia deixar o universo impedir-me assim tão facilmente.

- Conversa de teimoso. – Neena abanou a cabeça.

- Talvez, mas eu estava fora de mim e ia mostrar ao universo que estava farto.

- Deixa-me adivinhar. Andaste assim até o teu carro dar o berro! – Danny sorria como se soubesse.

- Foi quase isso, mas não exactamente – disse eu. – Mas continuei a andar em círculos até às 9 ou 10 da manhã.

Explodiram ambos numa gargalhada. Não tive outro remédio senão juntar-me a eles. Olhando agora para trás, parecia coisa de malucos. E provavelmente foi.

- Queres dizer que acabaste por desistir? – Neena limpou as lágrimas do rosto cuidadosamente.

“Não, não desisti propriamente. Foi mais porque estava exausto e resolvi ir ao posto de gasolina comer qualquer coisa e meter gasolina. Depois ia continuar. Foi bom eles terem um restaurante aberto toda a noite. Dirigi-me ao posto de gasolina e mandei o empregado encher o depósito. Lembro-me que o empregado me olhou com estranheza, mas não liguei grande importância a isso. Estacionei o carro e entrei no restaurante. Estava muito sossegado. Sentados ao balcão principal estavam apenas dois velhos motoristas de pesados. Sentei-me numa ponta. Acho que naquele momento estava quase a delirar e com um aspecto assustador. Devia ter a cabeça descaída, olhos raiados de sangue e o rosto cheio de lágrimas. A empregada aproximou-se com uma caneca de café e olhou para mim. Com um olhar amoroso e preocupado, perguntou-me se era eu o indivíduo que tinha andado toda a noite de carro para cá e para lá.”

Eles continuavam a rir. Pegando no cigarro, franzi o sobrolho o melhor que podia, mas isso só os fez rir ainda mais.

- Ah, sim, riam, riam! Algum dia há-de calhar a vossa vez… e depois vamos ver se é engraçado!

- Que probabilidades é que achas que há de isso vir alguma vez a acontecer? – Danny olhou para Neena.

Ela levantou os braços. – Uma num milhão, talvez!

“Para encurtar a história, disse à empregada que o meu carro não andava na direcção das montanhas, só andava na direcção de Calgary. Mal podia falar. Tinha a boca seca e os lábios entorpecidos e estava demasiado cansado para ficar embaraçado.

“Ela perguntou-me para onde é que eu queria ir. Com ar sério respondi: - De um rochedo abaixo!

“Ela ficou a olhar para mim. Depois, subitamente rebentou a rir. Finalmente pareceu dominar-se e inclinou-se para a frente: - Você é um bocado casmurro, não é? Vou-lhe arranjar um pequeno-almoço porque você vai ficar connosco muito tempo.

“Deitou café na minha chávena e dirigiu-se à cozinha. Esperava ouvir risos na cozinha mas não ouvi nada. Presumi que ela não tinha contado a ninguém.

“Ela nunca me perguntou porque é que eu andava a tentar atirar-me de um rochedo abaixo. Depois de mais algumas palavras, café e pequeno-almoço à borla, meti-me no carro e fui para casa.

Por esta altura eles riam tanto que já começava a aborrecer-me. Desculpei-me e fui até à casa de banho. Não estava verdadeiramente aborrecido com eles, só um pouco (ou talvez muito) embaraçado.

Actualmente aquela estação de serviço está fechada; nada resta a não ser um edifício abandonado. Às vezes ainda passo por lá e pergunto a mim mesmo quantos é que lá pararam, como eu…

Pois bem, cá estou eu hoje, feliz por isso. No que respeita à promessa de que no final tudo havia de fazer sentido, cumpriu-se. Mas quanto ao “devias saber melhor”, ainda continuo um pouco indeciso.

E para a muito simpática e generosa empregada, o meu obrigado!

Procura-se

Um Anjo Guardião.
Tem de ter uma paciência
Incrível,
Inimaginável e
Absolutamente inconcebível.
Enviar Dados e Bilhete de Lotaria
Para Aptdo. 40081
À Atenção do Klaus.

Capítulo Sete

Quando voltei da casa de banho, Neena e Danny já se tinham dominado, mas ainda sorriam. Ao sentar-me, Danny perguntou se eu queria mais sumo de laranja.

- A intenção não era rirmos de ti daquela maneira – disse Neena.

- Tens de admitir que a parte do “você é um bocado casmurro” teve imensa piada - acrescentou Danny.

- Acho que vocês têm razão – concordei com um aceno de cabeça.

- Então foi isso? – perguntou Neena.

- Não, nem pouco mais ou menos! Daqui para a frente é que a coisa vai aquecer.

Danny sentou-se no seu banco. – Bom, a noite ainda é uma criança. Nós estamos prontos. Quando quiseres…

O lábio superior de Danny começou novamente a tremer. Inclinei-me para Neena: - Porque é que o lábio do Danny de vez em quando treme?

- Fica assim quando ele está a esconder alguma coisa. Ele não é bom para jogar póquer. – Ela riu.

Por momentos fiquei curioso de saber o que é que Danny poderia estar a esconder. Havia ali qualquer coisa que não me parecia bem. Gosto de ter sempre os olhos e ouvidos bem abertos para coisas que estão ligeiramente deslocadas. Esta era uma delas.

Olhei para o relógio, mas continuava a não trabalhar. Via-se a humidade por dentro do vidro. Ia perguntar que horas eram, mas desisti. Afinal, não havia nenhum lugar onde precisasse de estar.

- Ora vejamos – disse eu, procurando determinar o ponto em que tinha interrompido a narração. – Tinha andado no negócio da mediação imobiliária cerca de dois anos e a princípio tinha corrido bem. Mas o meu coração estava fora daquilo. Continuava a ser infeliz e passara os últimos seis meses principalmente a tentar alcançar a felicidade, ou mais felicidade. Entendam a coisa como quiserem, que para mim está tudo bem. Eu sei que já falámos nisto várias vezes, mas foi assim mesmo. Deixei a mediação imobiliária para passar o tempo todo a procurar uma solução para o meu eterno problema. Mas estava a ficar sem dinheiro, pelo que interrompi temporariamente e resolvi arranjar trabalho. Não levei muito tempo a encontrar um emprego bem pago. Dias depois fiz também um bom negócio com outra casa, que comprei e para onde mudei. Tinha decidido que também podia fazer a minha vida como toda a gente, o que significa ter um emprego, pagar as contas e economizar um pouco para a velhice. O meu filho estava a viver comigo e achei melhor dar-lhe um bom exemplo. A ideia de viver a vida desta maneira, à espera que chegue o fim, era terrivelmente deprimente, mas era tudo o que se me oferecia.

“Um dia, após cinco meses de trabalho, ao entrar no meu emprego disseram-me que estava despedido. Disseram que o negócio estava fraco e tinham de cortar nas despesas. Mas não era essa a razão verdadeira. Ele viam que eu era infeliz. Já não conseguia escondê-lo. Não tinha energia para andar constantemente de sorriso nos lábios. Tenho a certeza de que eles chegaram à conclusão de que eu não era feliz a trabalhar ali.

“Aquilo foi um choque. Não fiquei verdadeiramente preocupado, mas ao mesmo tempo não sabia o que havia de fazer a seguir. Andei por casa durante uma semana, sem fazer muito mais do que passear o meu cão todos os dias. Tinha um dinheirito, não muito, e as despesas da casa eram bastante elevadas. Não era uma casa grande, mas ficava numa zona boa. A economia não andava grande coisa e não havia lá muitos empregos bem pagos. Mesmo que eu conseguisse um emprego medíocre de imediato, sabia que não seria capaz de conservar a casa. Lembro-me de estar sentado no parque a observar Rudy, o meu cão, que andava por ali a brincar com outros cães, quando algo fez clique na minha cabeça. Por uma razão ou por outra, decidi que talvez devesse fazer mais uma tentativa para encontrar a felicidade. Pensei que talvez, em todos os livros que tinha lido no passado, alguma coisa me tivesse escapado, ou que não tivesse seguido as instruções correctamente. Assim que Rudy e eu voltámos a casa do nosso passeio no parque, saltei para dentro do carro e apontei à livraria. No caminho para a livraria, uma parte de mim achava que era uma total perda de tempo; todavia, outra parte de mim começara a vibrar com o maior entusiasmo. Reparei também que, sempre que me aplicava ao trabalho de descobrir a felicidade interior, ficava mesmo feliz. Só depois de passar algum tempo sem ser capaz de ir além dessa felicidade temporária é que ficava realmente deprimido. Tinha um forte pressentimento que desta vez ia conseguir. Lembro-me de pensar que tudo o que eu tinha que fazer era encontrar esse algo que me tinha escapado. Depois tudo correria bem.

- Tchhheee! E há quanto tempo é que isso dura? – interrompeu Danny.

- É isso – respondi. – Foi então que tudo começou a mudar.

- Graças a Deus. Isto estava a começar a deprimir-me. Já estamos perto da parte da lotaria?

- Mesmo a chegar.

“Bom, mas eu agarrei num monte de livros sobre tudo quanto me veio à cabeça - meditação, espiritualismo, visualização, controlo da mente, pensamento positivo, Amor, etc., até alguns livros sobre radiestesia, que não estava propriamente no contexto. Mas vi-os e resolvi levá-los. Passei semanas a lê-los, tomei notas, segui algumas instruções o melhor que pude. Lia desde que me levantava até ir para a cama. As únicas interrupções eram para comer qualquer coisa, ou para levar Rudy até ao parque e praticar o que era sugerido nos diversos livros.

- Conseguiste alguns resultados? – perguntou Neena.

- Para além do esforço que me fazia sentir bem, ou pelo menos melhor do que o costume, não consegui propriamente resultados – respondi. - Na verdade não esperava obter resultados. O que me movia era só um impulso para tentar de novo. Fazer aquele esforço dava-me uma sensação de esperança que em vários aspectos era bastante reconfortante. Claro que há uma diferença entre ter a esperança de conseguir qualquer coisa e aguardar que ela aconteça. Mas mais tarde voltaremos a falar nisso.

“Pois foi assim que tudo começou a mudar. Comecei a ficar muito inquieto e decidi que precisava de uma pausa. Telefonei a um amigo para ver se ele estava em casa. Peguei numas cervejas e fui até casa dele.

“Nesse tempo o meu amigo não estava numa situação financeira melhor do que a minha. Não estava a trabalhar e o dinheiro era pouco. Passava a maior parte do tempo a ver desportos e a jogar na lotaria desportiva. Mas as coisas não lhe corriam bem na lotaria desportiva. Eu estava a ver alguns bilhetes de lotaria brancos. Sarcasticamente, sugeri-lhe que usasse um dardo para escolher a equipa que ia ganhar. Ele riu e disse que provavelmente eu tinha razão. Eu sempre tinha considerado o jogo como dinheiro deitado ao vento, na esperança de que o vento me trouxesse o dobro do que eu tinha lançado. Não é grande a probabilidade de isso acontecer. Em tempos idos tinha jogado póquer, mas quase sempre por divertimento. O mais que se podia ganhar ou perder eram uns cinco ou dez dólares.

“Olhando para os bilhetes do meu amigo ocorreu-me um pensamento. Tinha acabado de ler alguns livros sobre radiestesia e tinha visto na televisão um programa sobre o assunto. Era um indivíduo que andava a detectar minerais, e naquele programa estava a trabalhar para um mineiro, ajudando-o a encontrar bolsas de certos minerais numa velha mina abandonada. Pelo que se viu, o êxito foi completo. O vedor usava um simples cordão com um peso na ponta. Parecia interpretar como sim a rotação para a esquerda e como não a rotação para a direita. Pensei que no fundo o cordão provavelmente não era mais do que uma maneira de a mente subconsciente comunicar com a mente consciente.

“Olhei para o meu amigo e sugeri que talvez uma pessoa pudesse usar a mente subconsciente para ver o futuro e descobrir quem é que ia ganhar o jogo. Ele disse que eu não estava bom da cabeça e que era impossível prever o futuro, dando-me vinte razões para isso. É óbvio que ele é muito mais burro do que eu.

“Mas quanto mais eu pensava nisso mais me agradava a ideia. Quando voltei a casa já tinha a coisa mais ou menos esboçada. Imaginei que tudo o que precisava era descobrir um estado de espírito em que o consciente e o subconsciente se juntassem e funcionassem juntos como se fossem um só, em vez de estarem separados. Parece simples, embora me tenha levado um certo tempo a projectar tudo aquilo. Acabou por se revelar muito simples, excepto que eu iria receber muito mais do que tinha investido.

- O que é que o subconsciente tem de tão importante? – perguntou Danny.

“O subconsciente parece possuir uma enorme quantidade de informação disponível. E também acredito que todas as mentes subconscientes estão interligadas como numa rede gigantesca; mais importante ainda, acredito que o subconsciente também está ligado à nossa alma… essa parte maior de nós mesmos.

“Levou algum tempo a estudar os pormenores e a conceber um plano. Voltei à biblioteca e trouxe mais alguns livros. Andei às voltas com eles uma semana ou duas e experimentei diversas coisas. Aproveitei toda a informação que arranjei e misturei tudo, um bocadinho daqui, um bocadinho de acolá. A conclusão a que cheguei foi que precisava de estar num estado de meditação profunda, ou num estado de espírito semelhante ao transe. Parecia haver um véu que eu estava a tentar atravessar, entre a mente consciente e a mente subconsciente. O maior problema era saber em que havia de me concentrar. A princípio tentei concentrar-me nos resultados dos jogos, mas isso só me fez cair num estado semelhante ao sonho, e os resultados que vi na minha mente não eram correctos. Depois tentei concentrar-me no meu subconsciente, e com isso obtive resultados vários, mas não aquilo que eu pretendia.

“Vou poupar-vos os pormenores de tudo o que experimentei até chegar à conclusão a que cheguei. O essencial é que nós somos muito mais do que apenas mente consciente e mente subconsciente. Cheguei à conclusão de que preciso de estar em contacto com a parte total do que quer que eu seja. E em vez de dizer “tudo aquilo que sou”, decidi utillizar a palavra “alma” para descrever o meu eu total.

“Tinha a certeza de que a chave era ligar-me a essa parte mais ampla de mim mesmo, e deu resultado. E o facto é que resultou tão bem que no espaço de seis semanas já eu tinha ganho mais de 130 vezes.

- Estamos a falar de quanto dinheiro? - perguntou Danny.

Bebi um gole do meu copo. Olhando para Danny, não era difícil ver o brilho dos dólares nos olhos dele.

“A quantia total era menos de dois mil dólares porque eu fazia apostas pequenas. Não ia pegar no pouco dinheiro que tinha e lançá-lo ao vento. Achei também que era melhor manter uma certa moderação, e enquanto resultasse eu podia perfeitamente contentar-me. Nessa altura o dinheiro parecia secundário. Achei que tinha conseguido algo que o mundo inteiro diria ser impossível. Sentia-me literalmente nas nuvens.

- E então a felicidade? – perguntou Neena.

- Acho que ficou um tempo em segundo plano – respondi. – É muito mais fácil ser infeliz num sítio quentinho, debaixo duma palmeira, observando a rebentação das ondas. Ainda não tinha lá chegado, mas era nitidamente uma possibilidade. Olhando agora para trás, eu andava feliz. Passava horas naquilo, mas ao mesmo tempo gostava imenso de o fazer. Mesmo hoje continuo a passar horas sem conta a descobrir coisas que posso fazer com a minha mente. Penso que podem dizer que encontrei a minha vocação. Todavia, mesmo continuando a gostar de o fazer e andando feliz com isso, não é daí que vem a minha felicidade, nem era essa a razão da minha infelicidade. Mas já vamos voltar a este ponto.

- Bom, se vais ficar deprimido, também podes ficar confortável – observou Danny.

“Algo estava a acontecer, sem dúvida. A felicidade começava a borbulhar cá de dentro. E tinha algo a ver com o modo como eu utilizava a minha mente. Mas nesse tempo a única coisa que realmente eu notava era que parecia realmente estar em paz.

- Isso faz sentido – disse Neena. – Precisamos de paz interior para criar felicidade!

- Concordo – disse eu. – Eu andava ocupado e excitado e não queria saber de mais nada. Mas vocês também…

- Isso não importa! – interrompeu Danny. – Preciso das instruções exactas.

Não tinha reparado antes, mas Danny já tinha uma caneta na mão e um bloco de notas na frente. Tinha os olhos esbugalhados e o lábio tremia mais do que nunca.

- Provavelmente é melhor que eu vos conte primeiro o resto da história.

- Eu preferia ouvir o resto – disse Neena.

- Eu preferia ter as instruções agora, senão é provável que as esqueça – contrapôs Danny.

- Bom, eu posso esquecer-me… - disse eu a rir. – Mas tenho a certeza de que vocês não se esquecem de me lembrar.

Neena encolheu os ombros. – A escolha é tua.

Isto pareceu-me muito estranho. Não tinha a certeza se Danny estava a fazer jogo ou se falava a sério. É que há realmente dois tipos de jogadores. Um joga com o universo e o outro envolve-se apenas no jogo. A grande diferença é que aquele que joga com o universo está realmente próximo do que dá as cartas e geralmente sabe em que sentido é que o jogo deverá seguir, e trabalha nesse sentido. Eles sabem também as cartas que cada um tem. Os restantes, como eu, apenas vão jogando. Tinha a certeza que Neena e Danny jogavam o jogo com o universo, mas agora parecia que talvez só Neena o fazia. Talvez então Danny estivesse apenas a jogar como eu. Por vezes o universo parece construir o jogo à medida que ele se desenrola, ou pelo menos é assim que me parece. Não era a primeira vez que eu tinha de lutar para tomar esta decisão: ou pôr as instruções no livro ou falar disso a alguém. Parece que mais uma vez me achava numa encruzilhada. É que não me parecia fazer sentido que o universo deixasse por minha conta uma decisão assim tão importante. Ou deixava?

Resolvi dar as instruções a Danny, mas pensei que talvez fosse boa ideia fazer-lhe primeiro uma pequena prelecção. Para ser franco, era mais para ficar com a certeza de que alcançava o meu próprio objectivo.

- Pois bem, vou dar-te as instruções. Mas quero que saibas que isto pode ser usado para muitas coisas diferentes, e se decidires usar isto para o jogo, tens de carregar nos teus próprios ombros com a responsabilidade do que possa acontecer. Se fores gastar dois dólares num bilhete, é óptimo que possas oferecer a ti mesmo as melhores probabilidades. Mas se vais empatar nisto o teu dinheiro todo, posso já dizer-te que vais perder, e vou explicar-te a razão disso…

- Eu concordo, não há problema – disse ele, como um menino a quem deram um brinquedo novo.

Bebi um gole do meu sumo de laranja e pensei para comigo que de certeza já tinha ouvido antes aquelas palavras.

 

Capitulo Oito

“A primeira coisa que temos de compreender é o factor necessidade. É assim: se você entrar num jogo de póquer com os seus últimos vinte dólares e precisar de ganhar, também pode simplesmente atirar o dinheiro para cima da mesa e ir-se embora, porque se você tem grande necessidade de uma coisa, vai ser difícil consegui-la. A melhor maneira de dizer isto é que temos de estar desapegados dos resultados.

“Danny fechou o bloco de notas e olhou-me com estranheza. – Parece que naquela altura precisavas bastante de dinheiro. Qual é a diferença?

“É que nessa altura eu estava numa fase da minha vida em que, em muitos aspectos, não me importava com nada. Se eu ganhasse, óptimo. E se não ganhasse, que é que tinha? E também sabia do factor necessidade. Era algo que muitos anos antes me tinha custado bastante a aprender. Há realmente uma diferença grande entre querer uma coisa e precisar de uma coisa. A diferença é muito simples: quando queremos realmente uma coisa, temos tendência para pensar nessa coisa e para desencantar maneiras de a conseguir. Mas quando chegamos ao ponto de sentir que precisamos dela desesperadamente, já não vamos conseguir pensar com clareza. Em vez disso, pensamos no que poderá acontecer se não conseguirmos. É como estarmos a olhar numa direcção e caminharmos ou conduzirmos o carro noutra direcção. Não funciona. A mente funciona da mesma maneira. A mente tem de estar concentrada naquilo que pretendemos e não no receio do que poderá acontecer se não o conseguirmos.

- Portanto é como eu ter de fazer uma coisa só por divertimento ou para ter alguma coisa que fazer, como um passatempo – disse Danny.

- Aí está uma maneira perfeita de começar. Dessa maneira não estamos sob pressão e podemos concentrar-nos só naquilo que pretendemos. Se investirmos nisso uma data de massa, ficaremos na dependência dos resultados. Mas se investirmos apenas dois ou três dólares, não tem importância nenhuma, principalmente se íamos mesmo fazer a coisa.

- Tens a certeza que compreendes o que Klaus está a dizer? – perguntou Neena serenamente.

- Sim, não há problema – respondeu ele. – E a seguir?

“A seguir, precisas de um sítio sossegado, um sítio onde ninguém te vai incomodar. Podes deitar-te ou ficar sentado numa cadeira confortável. Eu prefiro deitar-me porque assim não tenho de me preocupar com o descair da cabeça. O único problema com a posição deitada é que pode dar um pouco mais de trabalho para nos mantermos acordados. Depois temos de nos relaxar totalmente e deixar o corpo dormir, mas não a mente. Simplesmente ficar deitado e permitir ao corpo dormir, até ao ponto de já não o sentirmos nem ouvirmos nada. Desligar a audição não é absolutamente necessário, mas ajuda decisivamente e pode fazer a diferença no fim.

- Devo visualizar alguma coisa para que o meu cérebro se mantenha desperto?

- Não! Porque se começares a visualizar cais num estado semelhante ao sonho e a partir daí cais no sono. E se visualizares nesse ponto, é provável que as coisas que vires sejam imaginárias.

- Então o que é que eu faço com a minha mente para me manter acordado?

“Aí é que está o truque. Precisas de te concentrar na tua alma. Eu defino a tua alma como a parte maior do teu eu, ou a totalidade do que tu és, seja isso o que for para ti. O problema é que não podes visualizá-la. Até agora, a melhor maneira que achei de o fazer é fingir que estou a escutar a minha alma. Finjo que estou a tentar ouvir uma coisa que está muito longe e mal se ouve. Experimenta fingir por momentos que estás a tentar escutar o que se passa fora deste bar.

Danny cerrou os olhos e ficou completamente imóvel. Reparei que ele estava a reter a respiração.

- Não, não retenhas a respiração. Faz o que estás a fazer com a mente, mas continua a respirar.

Danny abriu os olhos. – Acho que consigo. A minha mente estava totalmente concentrada, mas não estava a fazer absolutamente nada. Estava perfeitamente vazia.

“Está certo, mas o mais difícil é manter essa concentração sem pensar em mais coisa nenhuma. Não é difícil de conseguir por uns segundos, mas depois a mente tenta criar imagens e pensamentos. Aconteça o que acontecer, não podes envolver-te nesses pensamentos. Se deres por ti a fazer isso ou a envolver-te com as imagens na tua mente, tens de tornar a concentrar a mente na tua alma. Se não te aperceberes que estás a divagar, acabas por entrar num estado de sonho e por cair no sono. Outro ponto importante é a concentração, sim, mas num estado relaxado. Não podes esforçar-te senão não ficas relaxado e ainda acabas com uma dor de cabeça. O que precisas é de estar relaxado mentalmente, fisicamente e emocionalmente, mas ao mesmo tempo concentrado, Parece difícil mas na verdade é perfeitamente natural.

- Porque é que não se pode simplesmente visualizar os resultados na nossa mente? – perguntou Neena.

- Ia precisamente a fazer a mesma pergunta – disse Danny.

- Não sei exactamente porquê. Tudo quanto eu sei é que se começares a visualizar nessa fase inicial, então o que tu vês será de algum modo do estado de sonho, e não será correcto. Não possuo as respostas todas mas penso que precisas de passar ao lado do estado de sonho a fim de alcançar a parte mais elevada da tua mente. É quase como uma bifurcação num caminho: tanto podes virar à esquerda como à direita, sendo a esquerda o estado de sonho e a direita a mente superior. Ao princípio vais ter dificuldade em não virar à esquerda. Fazemos isso naturalmente, mas só porque o fizemos muitas vezes, e para a maioria das pessoas o caminho para a mente superior ou alma não é muito usado. É como seguir um sulco; tem tendência para te arrastar para a esquerda.

- Isso faz sentido. Acho que estou a perceber. Mas o que é que te faz pensar que a minha alma me vai ajudar? – perguntou Danny, duvidoso.

- Aí está uma boa questão, mas eu nunca encarei a coisa dessa maneira. Acredito que estou a aproximar-me e a converter-me na parte mais importante de mim mesmo, e atingindo esse estado tenho acesso a todos os recursos que possuo. Porque é que hás-de usar uma velha calculadora de bolso quando tens no teu gabinete um computador rápido e potente? Se tiveres de tomar decisões importantes, porquê usares essa pequena mente consciente se tens ao teu dispor esse recurso incrível?

“Vê a coisa desta maneira. Sempre que estás a tentar tomar decisões, de certo modo estás a tentar prever o futuro, mesmo que se trate de uma decisão simples como a que horas é que hei-de fazer a sopa. Quando é que as pessoas chegam? A que horas? Quanto tempo é que vai demorar? E por aí adiante. A mente consciente só é capaz de fazer cálculos muito pequenos e lentos, mas a parte maior de ti, o teu subconsciente, tem mais informação disponível e carrega na sua memória todas as lembranças de tudo o que viste, ouviste, cheiraste, sentiste ou experimentaste. Assim, pode usar essa informação para calcular as coisas muito mais rápida e rigorosamente do que a mente consciente. Para te dar um exemplo, a mente subconsciente possui uma memória fotográfica. Tudo o que é visto pelos teus olhos… mesmo que não o vejas conscientemente… fica gravado no subconsciente, e o mais interessante é que todas as mentes subconscientes estão de algum modo ligadas. É como um computador que está ligado a milhares de outros computadores e pode ir buscar a qualquer lado toda a informação de que necessita. Os cientistas ainda hoje debatem o assunto, mas trata-se de um conhecimento que já existe há milhares de anos. Depois vem a mente superior, ou a parte a que chamo a minha alma, e esta parte de mim está para além do tempo e de todas as restrições físicas.

Parei por um momento para dar ocasião a Danny de fazer a sua pergunta, porque ele contorcia-se todo como uma criança que precisa de ir à casa de banho.

- Porque é que te concentras na tua alma se dizes que o subconsciente possui tanta informação disponível?

“Não tenho as respostas todas, mas tenho lido muitos livros ao longo dos anos e gosto de ler nas entrelinhas. Não apareceu ninguém a dizer às claras que experimentou isto, mas acredito que muita gente tentou, e muitos tentaram usar a visualização e falharam. Honestamente só posso conjecturar as razões por que esses dois caminhos não funcionam, mas se passasse o tempo todo a tentar descobrir as razões, nunca chegaria a lado nenhum. Acredito que nós somos mais do que simplesmente mente consciente e mente subconsciente. Penso que muito poucos, se é que alguns, tentaram usar a sua alma.

- Por que pensas isso? – perguntou Neena.

- Tenho mais teorias do que respostas. Mas muitas talvez tenham mais a ver com o medo e a superstição. Acho que tem principalmente a ver com o medo, porque o meu amigo tinha medo de experimentar, apesar de não ser mesmo nada religioso, porque pensava que podia estar a infringir alguma lei cósmica. Ao que parece, isto tem sido um segredo muito bem guardado que só passou para uns poucos mestres.

- Porque é que pensas que eles guardaram segredo? – perguntou ela.

- Ora aí está uma boa pergunta. Também gostaria de saber – disse ele.

- Provavelmente por causa do medo - respondi.

- De que é que esses mestres haviam de ter medo? – perguntou ela.

Danny acenou com a cabeça como quem diz que também tinha a mesma dúvida.

- Provavelmente da treva. Ter conhecimento nem sempre afasta o medo, ter conhecimento não nos faz necessariamente fortes, o bastante para enfrentar tudo o que a vida nos possa impor.

- Não pareces possuir esse conhecimento todo. Então como é que não tens medo de jogar com algo que tem sido ocultado durante séculos? – perguntou Danny.

Ri com a pergunta dele. – Com que é que o universo me poderá ameaçar? Já tentei pôr termo à vida várias vezes. A única coisa que permanece é a imortalidade, que justamente me daria mais tempo para continuar a meter-me em sarilhos. Eu possuo agora algo que é mil vezes mais poderoso do que qualquer coisa que seja sombria e negativa. Porque é que uma parte mais ampla de ti havia de se incomodar por se ligar a isso? Não era isso o que eles tentavam esconder. Era o que tu és capaz de fazer e de alcançar quando te ligas a essa parte mais ampla de ti mesmo. Eu tenho algo de muito mais fascinante do que essa história da lotaria.

- E o que é? – Danny pousou a caneta. O lábio dele tremia agora nitidamente.

Sorri para mim mesmo. – Eu disse-te que escutasses primeiro o resto da história, mas tu insististe. Vais então ter de esperar até eu acabar de te dar as instruções. Mas primeiro preciso de mais sumo de laranja e vou à casa de banho. Depois dou-te o resto das instruções por que ansiavas tão desesperadamente.

Quando me dirigi à casa de banho ainda sorria para mim mesmo. Pensava numa coisa que o meu amigo John costumava dizer-me: Guarda sempre um ás na manga. Podes não chegar a usá-lo, mas mesmo que não tenhas nada vais sentir como se tivesses alguma coisa…


Medo

Os receios de tentar

Vão, no final,

Derramar as lágrimas

Do Amor

Espero bem ter razão acerca deste…”


Capítulo Nove

A casa de banho era extremamente acanhada. Tinha uma sanita e uma divisória com uma pequena porta. Entrei na divisória e fechei a porta. Estava a pensar que talvez não devesse ter mencionado a informação da lotaria. Talvez devesse ter feito segredo. Por outro lado, há tantas coisas benéficas que se podem fazer com essa informação. Ouvi a porta da casa de banho abrir-se e julguei ouvir passos. Quando a porta se fechou, ouvi o que soava como uma voz de ancião.

Disse ele: - Não tenhas receio de dizer o que sabes. Deixa o resto comigo.

- Ah, sim? E quem és tu? – respondi sarcasticamente, pensando que talvez aquilo fosse uma brincadeira de Danny. Abri a porta da divisória à espera de ver Danny ali, mas não havia ninguém. Saí da casa de banho rapidamente e passei revista ao bar: não havia ninguém senão Danny, Neena e o velhote sentado à mesa. Achei que não era possível o velhote ter regressado à mesa tão rapidamente, e ele parecia nem se ter mexido. Danny e Neena encaravam-me fixamente, perguntando a si mesmos por que estaria eu ali. Voltei a sentar-me no meu banco

- Alguém entrou na casa de banho enquanto eu lá estive?

Olharam para mim, olharam um para o outro e abanaram as cabeças.

- Não me parece que aquela coisa da garrafa verde vos tenha dado volta à cabeça, pois não? – perguntei.

- A mim não – Danny abanou a cabeça. – E a ti, Neena?

- Estou óptima – e encolheu os ombros.

- Provavelmente foi o uísque. É coisa que deita abaixo um casal de elefantes. O que é que tu viste? – perguntou Danny.

- Julguei ouvir qualquer coisa, mas não interessa. Voltemos às instruções.

- Boa ideia. – Danny pegou na caneta.

“Ora bem, quando fizerem este exercício podem chegar a um ponto em que começam a ouvir coisas, como palavras ou música, ou simplesmente ruídos. Também podem chegar a um ponto em que se formam imagens na vossa mente, mas não têm que se preocupar com isso. O melhor é deixar simplesmente que isso aconteça e não se deixarem envolver. Essas coisas são apenas ecos na vossa mente. A propósito, são também um óptimo sinal, pois se encontram muito próximos do ponto aonde querem chegar.

Bebi um gole do meu sumo de laranja para dar tempo a Danny para completar as suas notas.

- Então o que são essas visões e esses sons que se ouvem? – perguntou Neena.

- A minha teoria é que a mente, especialmente a mente subconsciente, nunca pára. Acredito que neste ponto estás a contactar a mente subconsciente, mas o importante é continuar, permitindo-te ir cada vez mais fundo, e concentrando-te simplesmente na tua alma, não importando o que ouves ou vês.

- Danny levantou os olhos das suas notas. – Como é que eu sei quando atingi a minha alma?

- É uma boa pergunta. Chega-se lá gradualmente. É uma coisa que se vai intensificando cada vez que se pratica. Mas vais saber quando lá estiveres. Alguns sinais: vais sentir-te muito tranquilo e podes ter a sensação de ser maior. A tua mente ficará também muito límpida. É difícil de explicar, mas uma vez que lá chegues, não há nada que se compare. Podes sentir também que ficaste mais ligado ao universo e ao mesmo tempo separado das preocupações do dia a dia. É a única maneira de o descrever. Julgo que é um pouco diferente de pessoa para pessoa.

Parei por momentos para dar a Danny outra oportunidade de me acompanhar com as suas notas. Aparentemente ele tomava nota palavra por palavra.

- Como é que o Danny vai saber os resultados dos jogos?

- Essa é a parte divertida. Neste ponto tens de fazer algumas opções porque podes fazer uma quantidade de coisas diferentes e fascinantes de que te vou falar mais tarde. Mas se preferes a opção de descobrir os resultados dos jogos, pois assim seja. Ora bem: tudo o que eu te disse até aqui tem de ser seguido exactamente. Este caminho é muito estreito e precisas de permanecer concentrado.

- Estou pronto! – Danny sorriu.

“Muito bem. Chegados a este ponto, podes começar a visualizar. O que eu gosto de fazer é fingir que estou a avançar no tempo e a posicionar-me à esquina da loja de bebidas. Imagino então que estou a entrar na loja na direcção do balcão da lotaria e olho directamente para as folhas que têm os resultados dos jogos. Originalmente fingia que ia de comboio e que cada cidade que passava representava um dia no futuro. Quando chegava ao dia em que queria estar, o comboio parava, eu descia, dirigia-me a uma banca de jornais e via os resultados no jornal diário. Mas achei que por vezes usava demais a minha imaginação. Mais tarde percebi que era porque eu tentava tornar o comboio demasiado real, em vez de ter a sensação de ir num comboio.

“Uma parte da coisa será imaginação tua; não há outra hipótese. A maneira melhor que descobri é imaginar a loja ou o comboio, à tua escolha, mas imaginá-los muito ligeiramente, para que não se torne a tua realidade mas sim uma forma de medires o tempo. Mas quando olhares para os resultados tens de visualizar muito claramente; mas usa a imaginação o menos possível. Não deves fazer isso durante um período muito longo. Também fui muito bem sucedido pedindo simplesmente à minha alma que pusesse as respostas na minha mente. De tal maneira que eu via como se estivesse a olhar para uma tela onde as respostas estavam projectadas. É uma questão de se experimentarem diversas maneiras e descobrir qual a que funciona melhor para nós. Se as respostas estiverem incorrectas, não é que a tua alma te esteja a dar respostas erradas mas sim que não estás a receber a informação correctamente.

- Quanto tempo demoraste a conseguir isso? – perguntou ele.

- Uns dez dias.

- Não está mal – disse ele.

“Tens de ter em conta que nesse tempo eu não estava a trabalhar e passava quase os dias inteiros a trabalhar nisto. Há também outros pormenores que precisas de saber. Nem todas as respostas que receberes serão correctas, por várias razões. O futuro não está gravado em pedra e pode mudar em qualquer momento. Assim, eu tentava obter a informação relativa a 6-10 jogos diferentes. Depois olhava para essas respostas e comparava-as com o que devia ter feito. Depois seleccionava dois ou três jogos e apostava. Às vezes, se achava que estava a ter um dia bom e a informação era muito clara, jogava em mais jogos, mas só quando me parecia razoável. As minhas apostas eram muito modestas e fazia combinações. Digamos que tinha dez jogos. Podia fazer três ou quatro conjuntos com três ou quatro jogos em cada conjunto. Dessa maneira, se houvesse um engano, os ganhos sempre cobririam as perdas.

- Parece muito simples, mas estou a ver que isso dá um bocado de trabalho. E isso é tudo o que há sobre o assunto? – perguntou ele.

- É! – respondi. – Bem, talvez só mais uma coisa: toma atenção ao que parece ser a sorte do principiante!

- O que é que isso quer dizer?

- Tu verás.

- Ei, isso não é…

- Estou a ver – disse Neena, endireitando-se no banco. – Oh, meu Deus, isso é… Uau, quase me escapava! Não estás a perceber, Danny?

- Espera lá! Se uma pessoa não percebe é porque não está preparada. Mas não há que falar nisso.

Ela pôs a mão sobre a boca e sorriu. – Está calado.

- Não tem graça. – Danny saltou do banco e pegou nas suas notas.

O meu sorriso era tão rasgado que quase sentia os lábios tocarem nas orelhas.

Ele ergueu os olhos para mim. – Quem é que pensas que és? O que dá as cartas?

Tentando controlar o meu sorriso, pensei com os meus botões: Não sou o que dá as cartas, mas sei quando é que tenho mais de uma carta. Quando jogas com o universo da maneira certa, ou seja com respeito, Amor e benevolência, o universo continua a dar-te mais cartas. Ouvi dizer que quando recebemos um baralho inteiro, o universo pode deixar-nos dar algumas cartas. Isso é mais responsabilidade do que a que me interessa, e imagino que para receber muitas cartas uma pessoa teria de ser muito dedicada para fazer a diferença neste mundo. Suponho que alguém como a Madre Teresa deve ter tido uns poucos de baralhos. É difícil dizer. Tudo o que eu sei ao certo é que três ou quatro cartas podem proporcionar-te um caminho longo.


Criança interior

Nunca reparaste

Que em cada

Corpo de adulto

Há uma criança

Que forceja

Por vir cá para fora?

Talvez tenhamos de as deixar sair

Antes que dêem cabo de tudo.


Capítulo Dez

Danny estava totalmente a leste do pequeno segredo que Neena e eu guardávamos. Disse-lhe que havia ainda uma série de pistas no resto da história, o que pareceu aplacá-lo de momento. Não é exactamente um segredo. É uma daquelas coisas que, quando são postas em palavras, ficam moldadas na nossa mente, e no momento em que se forma o molde deixam de ser o que eram. Há coisas no universo que não podem ser postas em palavras. Fazendo-o, destruímo-las por momentos, e de certo modo acabamos por dar ao nosso interlocutor algo totalmente inútil. O maior problema é que as pessoas a quem tentamos dizê-las as moldam em formas estereotipadas, e mais tarde, quando chegam a ver essa informação na sua verdadeira forma, automaticamente tornam a encaixá-las no molde, e assim a informação perde-se.

Olhei para Danny. – Antes de continuar com a história devia talvez dizer-te uma coisa que reparei agora que não mencionei.

- Mas que surpresa! – Danny fez um sorriso sarcástico.

“Mas é de facto uma coisa muito importante, especialmente se tiveres dificuldade em manter a atenção focalizada na tua alma. Tenho lido, ao longo dos anos, uma série de livros sobre meditação no Oriente, e muitos deles referem várias áreas da mente em que se pode meditar, mas nenhum deles menciona o cérebro. É qualquer coisa como isto: não gosto de entrar numa cave escura mesmo que haja uma luz acesa, porque há muitos recantos escuros onde se podem esconder os monstros da cave. Descobri que a melhor maneira de lidar com uma cave escura é colocar uma lâmpada na parte mais escura. O cérebro funciona de modo muito semelhante.

Por alguma razão, Neena achou isto muito divertido.

“Quando estás a tentar concentrar-te na tua alma, de certo modo estás a usar o que alguns yoguis chamam a mente superior. Mas há uma parte da tua mente que tenta trazer outros pensamentos. É uma dificuldade com que sempre me deparei. A questão era: que parte da mente é que fazia isto? Passei então em revista todas as partes da mente que os livros referem. Gosto sempre de procurar coisas estranhas, coisas que realmente não são normais mas parecem absolutamente normais ou demasiado normais.

- Que queres dizer? – perguntou ela, cheia de curiosidade.

- Dá uma olhadela pelos escritos orientais de yoguis ou de mestres. Se lhes fizeres uma pergunta, dão-te uma resposta muito curta, mas se lhes deres uma caneta e papel, eles escrevem até vir a mulher da fava rica. Bastante contraditório, não acham?

- Achas que isso tem algum significado? - perguntou Danny.

Acenei com a cabeça. “Se é assim, alguma coisa significa. Que vos parece o facto de terem todos os mesmos padrões de escrita mesmo sendo de raças e países diferentes? Penso muito no facto de eles terem escrito centenas e centenas de páginas e dizerem pouco mais que nada. Eles escrevem tudo e tornam a escrever e é tudo a mesma coisa, variando apenas o ângulo, o modo de abordar as questões. Vamos lá ver: certamente eles escrevem nalguma forma de código, e se todos eles conhecem o código, não pode ser muito difícil decifrá-lo. Quando uma pessoa consegue escrever dez livros sem dizer nada, é fascinante, porque nesse caso deve escrever nas entrelinhas. Por isso eu olho para lugares para onde eles nos dizem que não vale a pena olhar, e trabalho em lugares que eles nunca mencionam…

“Afinal, se tivermos um tesouro e quisermos falar dele a alguém mas não quisermos que saibam onde está ou exactamente como lá chegar, a menos que queiram vir atrás de nós, temos de tecer um verdadeiro labirinto.

“O problema que se me deparou é que não consegues alcançar a tua alma, ou essa parte mais ampla de ti mesmo, a menos que impeças a tua mente de cacarejar como uma galinha que acabou de pôr um ovo. E a chave para isso é a única coisa que eles parecem omitir. Desliga a mente, e tens o problema resolvido.

Por momentos senti-me orgulhoso de mim mesmo. Depois reparei que parecia o galo da quinta empoleirado numa vedação, cacarejando vaidoso para o frango ao lado. Detesto quando isso acontece.

- Deves realmente sentir-te orgulhoso de ti mesmo por teres aprendido tudo isso – disse ela, carregando um pouco mais na ferida…

- Já experimentei a meditação e tive problemas com os pensamentos que se intrometiam. Como é que posso desligá-los? - perguntou ele.

“Aí é que está o busílis. Primeiro tens de ficar totalmente relaxado e calmo. Depois, só por um minuto, visualizas um raio de luz que vem da tua alma e desce do cimo da tua cabeça, enchendo toda a área de uma luz muito brilhante. Não prolongues a visualização, deixa-a somente ficar como pano de fundo da mente. É como se estivesse um carpinteiro a reparar-nos o telhado; não precisamos de passar o dia todo ao pé dele a observá-lo; simplesmente sabemos que ele está lá. Em poucas palavras, deixa a luz lá ficar sem te concentrares nela constantemente. Isso vai manter toda essa zona muito ocupada. Não sei exactamente qual é a função desta área do cérebro, mas sei que isto resulta, e isso é o que realmente importa.

- Danny, fala ao Klaus dos monstros da cave. – Neena mudou de assunto.

Ele abanou a cabeça. Tinha no rosto uma expressão de medo.

Neena inclinou-se para mim. – Temos aqui uma cave, mas Danny não vai lá porque pensa que há monstros lá em baixo. Queres dar uma olhadela?

- Não me parece… Se Danny diz que há monstros na cave, isso é suficiente para mim.

Ela riu. – Vocês, homens, são todos iguais! Fazem imenso espalhafato, mas quando o lobo aparece, ninguém vos encontra.

Decidi deixar passar o comentário e pensei onde é que tinha ficado antes de a conversa ser desviada.


Segredos do Universo

O pensamento-chave, Confiança

A acção decisiva, Amor

O resultado, Júbilo

O jogo

Continuação.


Capítulo Onze

“Naquelas seis semanas tinham começado a acontecer coisas estranhas. Como não era capaz de explicá-las, limitei-me a assumir que a minha ignorância tinha aumentado e eu estava a ficar mais sensível ao que se passava à minha volta. Na verdade não me agradava enfrentar certas coisas que se passavam, por isso pensei que a melhor coisa a fazer era simplesmente ignorá-las.

“As coisas começaram lentamente. Primeiro senti como se estivesse a ser observado. Vocês sabem como é; é como se alguém estivesse a olhar para nós. Sentia isso principalmente à noite, e então passei a deixar as luzes acesas. O que começou a acontecer a seguir foi também à noite. Estava na sala de estar com o meu cão, o Rudy, e às vezes ele levantava-se subitamente, orelhas apontadas para diante, de olhos fixos no centro da sala como se estivesse a ver alguma coisa. Fez isto muitas vezes naquelas semanas. Nunca vi nem ouvi coisa nenhuma, mas por vezes sentia nitidamente que estava a ser observado. O mais interessante é que quando Rudy decidia sair da sala, contornava a área onde fixava o olhar, embora atravessar a sala fosse o percurso que normalmente faria.

“Outra coisa que começou a acontecer é que as coisas mudavam de sítio. Por exemplo, eu punha uma coisa em determinado sítio, talvez um copo ou um livro, e mais tarde ele aparecia noutro sítio. Eu tentava dizer a mim mesmo que não prestava atenção ao que fazia, mas no fundo sabia que não era esse o problema. Vivo com muita simplicidade e muito poucas coisas, e as coisas que tenho estão sempre no sítio devido. Uma tarde deitei-me para a minha meditação, a fim de escolher as apostas, mas tinha-me esquecido de ligar o aquecimento. Quando entro em meditação profunda a temperatura do meu corpo tende a descer bastante. Já tinha começado a relaxar-me quando comecei a sentir-me arrefecer. Não quis tornar a levantar-me e ter de começar tudo outra vez. Ouvi então a caldeira de aquecimento ligar e pensei que talvez tivesse ligado o termóstato; e continuei a meditação. Quando terminei, a casa estava extremamente quente. Levantei-me para ir desligar o termóstato, mas reparei que não chegara a ligá-lo. Estava mesmo abaixo dos 20 graus mas a temperatura do quarto atingira os 28 graus. E enquanto eu olhava para o termóstato ouvi a caldeira desligar.

“Nessas seis semanas tive também vários sonhos muito estranhos. Em dois deles lembro-me de ter falado com um anjo, mas nunca consegui lembrar-me totalmente do sonho nem do que foi dito. Sonhei também algumas vezes que estava a lutar de espada em punho, mas não recordo os pormenores. Normalmente, se este tipo de coisas estivesse a acontecer, ter-me-ia fascinado, mas o que eu queria era concentrar-me nos resultados desportivos correctos.

“E é neste ponto que as coisas começam a tomar um novo rumo. Por alturas da última semana estava a sentir dificuldade em ver os resultados. Via a página mas era difícil ver os resultados. Era quase como se alguém estivesse a pôr o dedo sobre as respostas. À medida que eu movia a minha percepção de uma página para outra, havia uma zona escura que ia atrás. Eu continuava a conseguir, mas aquilo exigia uma quantidade enorme de tempo e concentração. Pensei que talvez fossem as minhas próprias dúvidas a interferir, o que não é invulgar. Dia após dia, aquilo ia-se tornando cada vez mais difícil e exigia cada vez mais esforço. Não ia permitir que um problemazito como aquele arruinasse a minha proeza. Pensei que ao longo das semanas me tornara preguiçoso e não aprofundava suficientemente a minha meditação. Assim, de cada vez que começava a meditar fazia um grande esforço para ir mais fundo. Foi então que comprei uns tampões para os ouvidos… daquele tipo que usam os operários da construção civil quando trabalham com maquinaria ruidosa. Os tampões fizeram uma diferença muito grande na minha capacidade de concentração. Tinha comprado também uma mascarilha para colocar sobre os olhos. Com a mascarilha e os tampões conseguia chegar muito mais fundo sem ser incomodado. Ainda hoje me sirvo deles, porque se alguém bater com uma porta ou deixar cair algum objecto, não sou bruscamente arrancado ao estado de espírito em que estiver.

- No dia 6 de Novembro… – parei para puxar uma fumaça – foi nesse dia que a coisa rebentou. Não sou cego. Vi a coisa chegar, só que não estava à espera.

Pela cara de Danny percebi que isto estava a deixá-lo nervoso.

- Sabes que mais? Lembrei-me agora de uma coisa que me esqueci de contar! É uma peça importante do puzzle. Acho que é uma das chaves principais.

- Estás a regular bem? – perguntou Danny. – Vais deixar-nos assim em suspenso?

Ela riu. – Dá-lhe mais um pedaço do bolo que isso vai manter os lábios dele a tremer.

- Dêem-me só mais um minuto, que isto é mesmo importante – disse eu, sabendo perfeitamente que Danny estava irritado, provavelmente por pensar que aquilo tinha algo a ver com a lotaria e que provavelmente significava que ele não seria capaz de experimentar.

Levantou-se do banco, pegou num copo, atirou-lhe para dentro um pedaço de gelo, pegou na garrafa e encheu o copo até acima.

Ela riu.

Pôs o copo à minha frente, e ao lado a garrafa aberta.

- Ora bem! Vamos então ver esses lábios a tremer! – Ele tornou a sentar-se no banco.

Pensei com os meus botões: não sei que jogo é que o universo está a jogar agora, mas hei-de descobrir antes de se acabar a noite. Espreitei por cima do ombro para ver se o homem sentado à mesa ainda lá estava. Estava. Não se tinha movido nem um centímetro nem ninguém tinha tentado servi-lo. Muito estranho. Hesitei em dizer qualquer coisa mas decidi que talvez fosse melhor não mexer no assunto e ver o que acontecia.

Voltei-me para Neena. – Cerca de três semanas depois de conseguir ganhar a lotaria pela primeira vez, imaginei que seria boa ideia tentar viajar pelo futuro para ver o que andava a fazer o meu futuro eu. Pensei que, se podia viajar pelo futuro para ver os resultados desportivos, nesse caso também seria capaz de viajar no futuro e ver como é que a minha vida ia evoluir. Foi à terceira ou quarta tentativa, não me lembro exactamente, mas o facto é que consegui.

“Reparei que, quando tento ver o futuro, a imagem leva um tempito a formar-se por completo minha mente. A princípio, o que eu vi parecia ser eu mesmo sentado numa cadeira de lona em frente duma fogueira. A seguir formaram-se umas árvores, relva e outras coisas. A princípio pensei que estava num bosque. Mas depois apareceu uma cabana, ou uma casa de veraneio, cinco ou dez metros atrás dele. Estava eu a olhar directamente para o meu futuro eu quando reparei que ele tinha o olhar fixo em mim, e ao mesmo tempo vi que havia um anjo sentado numa outra cadeira ao lado dele. Tentei clarificar a visão eliminando qualquer coisa que pudesse ser provocada pela minha imaginação. Ao mesmo tempo que tentava clarificar a minha percepção, o meu futuro eu apontou para mim, olhou para o anjo, tornou a olhar para mim e disse: Não posso acreditar! Finalmente ele conseguiu! E começaram ambos a rir a bandeiras despregadas.

“Por alguma razão não consegui aguentar-me ali e fui instantaneamente puxado de regresso ao meu estado normal de vigília. Sentei-me na cama e matutei naquilo algum tempo. Decidi que porventura tinha imaginado aquilo tudo, ou pelo menos uma parte. Resolvi tentar de novo noutra altura, mas nunca surgiu oportunidade.


O “Joker”

Chamo-lhe o “Joker”, embora não se trate de piada1 nenhuma. Por essa razão é que eu nunca quis jogar o jogo. Descobri o jogo quando era ainda muito novo, e na mesma altura percebi que tinha uma dessas cartas. Isto pode ser um problema real, principalmente se não o entendemos. Tenho visto muita gente com esta carta e constatado os problemas que ela pode causar. Uma das consequências mais importantes da posse desta carta é que não temos alternativa. Se o universo nos dá uma, nada a fazer. Não se pode deitar fora. Não podemos fugir, não podemos esconder-nos, não há maneira de o evitar. Acredito que existe uma possibilidade, mas é gerada pelo nosso eu superior, e uma vez que essa decisão seja tomada, não se pode voltar atrás. Esta carta pode significar coisas diferentes de pessoa para pessoa, mas geralmente é uma carta que joga connosco. Não somos nós que a jogamos. Estarão provavelmente a perguntar-me o que faz esta carta. Se temos uma destas cartas, de uma maneira ou doutra vamos ser impelidos a fazer algo nesta vida que vai fazer a diferença. Infelizmente não posso especificar.

Há muitos anos procurei uma pessoa muito dotada para me ajudar. Perguntei-lhe: - Que é que se passa com a minha vida? Tento caminhar numa determinada direcção e parece que o universo me empurra para uma direcção diferente. Como é que hei-de me opor?

Ela disse: - Tu possuis uma carta e sabes disso, mas optaste por resistir e vais perder! Não posso fazer nada por ti.

Fiquei furioso e respondi: - Hei-de lutar até ao fim. Vou resistir e vou vencer.

Quando me dirigia para saída ouvi-a dizer: - Vais perder.

É provável que perguntem por que há-de uma pessoa querer combater esta carta. Para ser franco, muito poucas são as pessoas que possuem esta carta e não lutam contra ela. Porquê? Porque esta carta arrasta-nos para caminhos que parecem totalmente ilógicos, e somos empurrados para direcções que não fazem qualquer sentido. Esta carta não é um mapa; tudo quanto se vê é um passo. Ela desafia-nos a fé até ao limite absoluto, e mesmo para além. Porquê? Levar-me-ia muito tempo a explicar, e não tenho a certeza de que a minha teoria esteja certa. Posso dar-vos uma pista: depois de acabarem de ler este livro, reparem em como tudo se desenrolou e verão muito facilmente que este livro é a minha carta e o jogo não acabou.

Como é que sabemos se possuímos uma destas cartas? Eis algumas pistas:

Primeira: você pode sentir que, de algum modo, devia fazer algo mais útil com a sua vida, ou que há algo mais importante para si do que simplesmente viver o dia a dia, mas não faz ideia nenhuma do que possa ser.

Segunda: pode ter uma sensação de urgência de fazer qualquer coisa, mas não ter pista nenhuma sobre o que há-de fazer.

Terceira: você pode de algum modo ser impelido em certas direcções, e se tenta seguir numa direcção diferente, parece que cai o céu e a terra.

Quarta: pode sentir que anda numa ânsia ou numa busca constante de qualquer coisa, mas não tem a certeza do que é.

Esperem agora um momento e fiquem em silêncio. Pensem. Possuem uma destas cartas?

Poupem-se a agonia de tentar combatê-la.

Já estive nessa. Já o fiz. Não me agradou.

PS: Também pode ser que esta carta venha atrasada. Por outras palavras, ela cá está, mas ainda não produziu todos os efeitos, mas eles são sentidos pela pessoa que possui a carta.


O que dá as cartas

Os jogadores

Os escritores

Os leitores

Estão todos em jogo


Capítulo Doze

- Antes de vos contar o resto – disse eu – vocês têm de compreender que em 6 de Novembro toda a minha vida ficou voltada de pernas para o ar. Embora eu me lembre praticamente de tudo, algumas coisas podem não vir exactamente na ordem em que aconteceram.

- Ele está a ganhar tempo, ou estou enganado? – perguntou Danny a Neena.

- Oh, ele está a ganhar tempo, muito tempo –respondeu ela.

- Não, não é nada disso – disse eu – Estou simplesmente a tentar coordenar ideias. Não quero que haja mal-entendidos.

Ficaram em silêncio, com os olhos fixos em mim. Quase parecia que me queriam fazer sentir culpado. Um calafrio estranho subiu-me pela espinha e saiu pelo alto da cabeça. Tive a estranha impressão de que talvez estivesse a forçar a minha sorte.

“Geralmente vou à loja de manhã muito cedo buscar os resultados e a lista de quem vai jogar nesse dia. Mas tinha adormecido depois de uma noite muito agitada. E também, por alguma razão, não me apetecia fazer aquilo naquele dia. Havia algo errado comigo. Após o almoço levei Rudy a passear e no regresso do parque parámos na loja para ver a informação desportiva. Ainda tinha montes de tempo porque as apostas não precisam de ser entregues antes das 5 ou 6 da tarde. Depois de uma longa caminhada calha mesmo bem uma meditação profunda. Assim, logo que chegámos a casa fui para o meu quarto deitar-me. Costumo ter a lista numa mão para a poder estudar antes de fechar os olhos. Do meu lado direito tenho uma caneta e um bloco de notas para poder assentar os resultados sem ter de me levantar. Tinha a mascarilha de dormir e os tampões dos ouvidos, pelo que não seria fácil ser incomodado. Lá estava eu, pois, deitado na cama, relaxando-me lentamente mas cada vez mais. Por causa da dificuldade que tinha experimentado nas duas semanas anteriores, todo este processo demorou pelo menos umas duas horas. Estava precisamente a chegar ao ponto em que o meu corpo começa a ficar dormente quando ouvi o que parecia alguém a clarear a garganta. Pensando que seria o Rudy, continuei. Minutos depois houve um baque surdo debaixo da minha cama. Ruídos surdos deste tipo normalmente fazem-me voltar ao meu estado normal de vigília, o que significa que tive de recomeçar tudo do princípio. Desta vez pensei que seria apenas o suporte de madeira onde assenta o colchão. Às vezes, quando tenho dificuldade em me relaxar ou em iniciar o processo, faço uma contagem mental de 100 até 1, o que me ajuda a relaxar em ocasiões em que a minha mente não está para aí virada. Comecei a contar lentamente e logo aos primeiros números podia jurar que alguém contava comigo. Quase conseguia ouvir o que parecia uma voz fraca que pronunciava os números exactamente ao mesmo tempo que eu. Pensei que talvez estivesse a imaginar coisas e resolvi suprimir a parte da contagem e simplesmente ficar ali deitado à espera que o corpo adormecesse. O meu corpo estava precisamente à beira de adormecer, no ponto em que toda a sensibilidade física e auditiva desaparece, quando alguma coisa bateu na cama com tal força que a fez abanar. Pensei que algum amigo meu tinha entrado e abanara a cama para me acordar. Tirei a mascarilha e abri os olhos. Mas o que vi não foi um amigo meu. Na verdade, não podia acreditar no que via. O meu coração batia tanto que julguei que ia abrir um buraco no peito.

“O que eu tinha na minha frente era um anjo, um anjo grande, com mais de dois metros de altura. Sacudindo-se todo, disse qualquer coisa como isto: Hei! Nunca limpas o pó aqui em baixo? Olha, moço, estou a falar de grandes problemas de pó.

“Ainda com os tampões nos ouvidos, não podia ouvir-lhe a voz, mas ouvi o que ele disse na minha cabeça, alto e bom som.

Fiz uma pausa momentânea para tirar do maço mais um cigarro. Neena e Danny pareciam como congelados no tempo. Pela expressão no rosto de Danny deduzi que ele pensava que o anjo me ia rachar ao meio. Acendi o cigarro.

Não é esse o tipo de linguagem que esperava ouvir de um anjo – disse eu. O meu corpo estava gelado mas o coração e a mente corriam a cem à hora. Não sei quanto tempo ficámos a olhar um para o outro. Ele sorria, mas eu creio que não. Os pensamentos rodopiavam-me na cabeça. Pensei que aquilo não podia ser real. Talvez ele esteja aqui para me dar um raspanete, talvez porque eu não deva andar a usar esta coisa de yoguis para ganhar a lotaria. Talvez o universo tenha perdido a paciência comigo. Talvez o universo tenha enviado este anjo para me pôr na linha. O meu corpo começou a tremer todo. Já me assustei muitas vezes, mas nunca daquela maneira. Pensei que talvez pudesse saltar da janela abaixo, mas achei que não servia de nada. Ele estava demasiado perto da porta para que eu pudesse alcançá-la. Uma parte de mim gritava: Tens de sair daqui para fora, tens de sair!

“Joga também – disse para mim mesmo. – Isso mesmo. Joga também com ele. Tu consegues desenvencilhar-te disto. Diz-lhe olá e joga com calma.

“O facto é que consegui pronunciar uma palavra: olá.

“Ele inclinou-se para mim. – Bom, o que é que tu sabes? Ele fala! Tchhhh, descontrai-te! Acho que os olhos te vão saltar das órbitas. Precisamente quando começava a sentir-me à vontade, ele gritou: Bu!

“Algo no meu corpo estalou.

Os rostos deles estavam imobilizados.

“O anjo sorriu. – Bom, agora que já voltaste a respirar, por que não sentarmo-nos e termos uma conversa agradável?

“Era isso mesmo. Reuni forças e de um salto lancei-me para cima dele. Se a coisa não vai com palavras, vamos à luta. De cabeça baixa, passei mesmo através dele, na direcção da parede.

Parei para beber um gole do meu uísque e tirar umas fumaças do cigarro. Mesmo agora, só o falar nisto faz-me bater o coração.

Danny abanou a cabeça. – Tu és doido? Saltar para cima de um anjo?

Neena desatou à gargalhada, e Danny e eu não tivemos outro remédio senão ir atrás dela.

Uma árvore abatida

Lembro-me de um tempo em que eu era mais pequeno, mais novo, mais firme, e a minha espada era rápida.

Uma das minhas brincadeiras favoritas era jogar à espada com as árvores.

Podem pensar que as árvores não seriam adversários muito fortes, mas são. É apenas uma questão de escolher as árvores certas.

Em cada floresta há pelo menos uma meia dúzia delas. E aí é que está a habilidade. Algumas árvores gostam de ter espadas extremamente flexíveis, e temos de ser muito cuidadosos com a força que usamos, senão elas devolvem o golpe com o dobro da rapidez.

Por outro lado, é muito menos doloroso ser espetado por uma espada flexível do que pelas mais rígidas. Estas mais rígidas partem-nos a espada em duas no calor da batalha. E então ficamos batidos. A única coisa que nos resta é fugir e esperar que outra árvore nos dê a sua espada. Isto é, se não andarmos já a cambalear com uma espada espetada nas costas.

Ainda me lembro perfeitamente dos meus gritos de guerra quando passeio pela floresta.

E ouço o desafio: “Anda cá, ó velhote, estamos a desafiar-te!”

Quando o meu coração desperta e a adrenalina acelera, começo a andar velozmente.

Mas só há silêncio quando as abraço e entrego o meu amor.

Sim, muitas vezes fui trespassado fazendo isto; estas cicatrizes carrego com honra e orgulho.

Desafiem-me, e eu juro pela minha vida:

Hei-de Extrair o Próprio Amor dos Vossos Poros.

Em Amor, às minhas amigas, as Árvores.


 

 

 

 

 

Capítulo Treze

O meu Número da Sorte

- Nunca ouvi dizer que alguém tivesse tentado lutar com um anjo. Se achaste que estavas em apuros, por que havias de piorar as coisas? – Danny abanou a cabeça, ainda a limpar as lágrimas dos olhos.

Encolhi os ombros. – Não sei exactamente o que se passava comigo, para além de estar morto de susto. Lembro-me quando ele se inclinou para diante e gritou “bu”, que eu ouvi alto e bom som embora com os tampões nos ouvidos. Fiquei desfeito.

- E que aconteceu a seguir? – perguntou ela.

“Bati com a cabeça na parede, e é tudo quanto eu me lembro. Devo ter perdido os sentidos. Quando voltei a mim estava sentado numa cadeira da sala de estar, todo encolhido. Ele estava sentado no sofá. Quando recuperei a visão com clareza, percebi que conseguia ver através dele. Levei a mão à testa e fiquei admirado de não sentir nenhuma bossa, nem sequer uma área dorida, nem uma dor de cabeça. Parecia que tinha acabado de acordar duma soneca. Mas havia uma calmaria relaxante; tinha o espírito tranquilo e o corpo relaxado. Não tenho qualquer dúvida que bati com a cabeça na parede, porque quando batemos com a cabeça nalgum sítio assim tão duro, há um certo som indescritível que se ouve precisamente antes de se apagarem as luzes. Lembro-me de olhar para o relógio. Eram quase seis e meia da tarde. Tenho a certeza de que eram só umas duas e meia quando me deitei a primeira vez para trabalhar nas minhas apostas.

“Olhei para o anjo e perguntei: Quem és tu?

“É por demais evidente, não?

“Fiquei a olhá-lo. Tinha a mente demasiado entorpecida para lidar com a situação. Ocorreu-me o pensamento de que estaria a sonhar.

Deixa-me dar-te uma pista. Sorriu, e por alguma razão estranha aquele sorriso pareceu-me familiar.

“Asas. Vês? Abriu bem as asas para eu poder ver melhor. E olha, penas! E olha, eu brilho e posso fazer as luzes apagar e acender.

“Eu nem tinha reparado que as luzes estavam acesas. Só estava ali sentado a olhar para ele.

Espera! Não penses ainda. Repara que há um halo, e há mais. Posso flutuar; posso fazer-me muito pequenino e muito grande… Muito bem, vou dar-te três oportunidades.

Tinha o corpo e o espírito a trabalhar ao retardador. Ele ficou imóvel enquanto eu tentava coordenar os pensamentos. Ele parecia tão familiar! Finalmente perguntei-lhe por que razão me parecia que o conhecia. Ao fazer esta pergunta apercebi-me que estava a falar ao retardador.

Ena! Acertaste em cheio! Ou digamos antes, no teu caso, que acertaste em cheio na parede… - ele riu.

“Fez-se luz na minha cabeça. Foi um momento em que me ocorreu algo, embora realmente não fizesse sentido.

“Apontei para ele: Sneaky.

“Quem disse que bater com a cabeça numa parede não serve de nada, obviamente nunca te conheceu. Estamos aqui a falar ao nível de génios, meu amigo!

Não tive tempo para responder porque imediatamente se abriu uma janela no meu espírito. Tinha a cabeça a andar à roda e as memórias inundavam-me como se me despejassem dentro uma vida inteira. Mal consegui chegar à casa de banho antes de começar a vomitar. Não sei quanto tempo lá estive, mas quando saí o anjo tinha desaparecido… o que provavelmente foi bom porque tinha a cabeça em fogo. Em poucos minutos meti-me na cama, cheio de frio.

- Porque é que haveria tantas memórias a inundar-te a cabeça ao ponto de teres de vomitar? – perguntou Danny.

- Isso é uma questão que ainda está em aberto. Talvez no final da história sejas capaz de me esclarecer.

- Bom, mas quem é ou o que é Sneaky? - perguntou Neena.

- Sneaky é o nome do anjo. Por agora chamemos-lhe apenas isso. Vais ver o que acontece lá para o fim da história.

- Se nunca tinhas visto o anjo, como é que sabias qual era o nome dele? – perguntou Danny. – Aliás, que raio de nome é esse de Sneaky?

Eles riram. Tudo bem, pensei eu, porque para juntar as peças todas e lhes decifrar o sentido sem os pôr malucos, vão precisar de aplicar a inteligência toda.

- Em relação ao nome, a explicação virá por si mesma quando eu contar o resto da história. Por outro lado, não há nada que pareça ser o que é. E quanto à vossa outra questão, francamente não tenho maneira de lhe responder até acabar a história toda, admitindo que existe realmente uma resposta.

- Há sempre uma resposta – disse Danny.

Abanei a cabeça. És livre de acreditar nisso o tempo que quiseres, mas neste mundo não há nada que seja o que parece, nem pouco mais ou menos.

- Parece-me bastante óbvio que isso ultrapassa a tua compreensão, ou então estás metido em sarilhos – observou ela.

- Aposto que ambas são verdadeiras! – Danny riu.

Puxei uma fumaça do cigarro. – Veremos. Posso ter medo algumas vezes, mas não é isso que me impede. Pelo menos não por muito tempo.


Para Venda

Anjo Guardião,

Senso de Humor Retorcido,

Usado, Sem Garantia, Sem Devolução

Enviar cheque ou vale correio para…

 

Capítulo Catorze

Danny pegou no bloco de notas e fechou-o. – Acho que não tem qualquer interesse guardar estas notas. – E suspirou fundo, profundamente desapontado.

- Por que dizes isso?

- É óbvio, não é? – respondeu. – Esse anjo não te disse que não podias fazer isto?

- Não. E ainda não acabei a história.

- Então por que razão o anjo foi ter contigo? – perguntou Neena.

- Espera aí, já lá chegamos. Aliás, quem disse que ele era um anjo?

- Foste tu! – disse Danny.

- Não, não disse. Eu disse que ele parecia um anjo. Lembram-se do que eu disse a propósito de as coisas parecerem demasiado perfeitas? Nunca vi nenhum anjo. Mas se vir, não espero que ele se pareça com os dos filmes de Hollywood.

Danny parecia um pouco aliviado, mas também um pouco mais confuso.

- Se não era um anjo, então o que era? - perguntou Neena.

- Eu não disse que ele não era um anjo - respondi. – Bom, se vocês querem compreender o universo e os seus segredos não podem deitar-se a adivinhar, porque isso confunde o espírito. Limitem-se a pegar nos factos e atenham-se a eles como se fossem novas peças de um quebra-cabeças, e esperem até que outras peças encaixem no lugar. Descobrir como é o universo é mais parecido com uma caçada do que com um jogo de adivinhação. Andamos à caça das peças mas sem tentar adivinhar o que significam. Às vezes é necessário pôr de parte o que já sabemos para ver as peças individualmente, e em seguida tornar a enquadrá-las no conjunto para ver a imagem. Deste modo não estamos a adivinhar mas a ver uma porção mais ampla da verdade, uma peça de cada vez.

- Bom, então como é que nós separamos tudo o que nos disseste até agora? – perguntou Neena.

- Vamos separar – respondi. – Primeiro temos infelicidade, necessidade, sucesso, medo, fracasso, contemplação, futuro; temos o que parece ser um anjo, e por aí adiante. Olhem agora para cada peça.

Detive-me e esperei que eles reflectissem no que eu tinha dito.

- A única imagem que eu vejo é aquela de que nos falaste. Mais nada – disse Danny. – Sem adivinhar, não há mais nada.

Olhei para Neena mas ela abanou a cabeça.

- O problema é que vocês não estão a juntar as peças principais – disse eu.

- Que são peças principais? – perguntou Danny.

- Tal como tudo no universo, não são mais que uma sombra do seu oposto. Ou um avião não é avião sem o céu. A verdade está em constante mudança e expansão. É por isso que essa coisa da verdade não existe.

- Continuo a não perceber – Danny encolheu os ombros.

- Cada coisa não é mais que uma sombra do seu oposto. Pega naquilo a que chamamos infelicidade e acha-lhe o oposto. Agora tens duas peças, infelicidade e…

- Júbilo – disse ela – e o oposto de carência é satisfação. Agora já estou a ver, a imagem completa cresceu.

- Ainda não percebo. - Danny parecia frustrado.

Ela olhou para mim. – Posso?

- Sim, fazes favor. – Fiquei admirado por ela ter entendido tão rapidamente.

- Danny, é assim: todas as peças pertencem a uma imagem, mas é uma imagem que não tem princípio nem fim. Tudo se mantém ligado, mas há certas regras como, por exemplo: se existe uma peça, há-de existir algures o seu oposto. Pode ser maior ou mais pequeno, isso ainda não sabemos, mas sabemos que existe algures.

Danny pareceu desconcertado com o esforço para a compreender.

- Deixa-me explicar-te desta maneira: disseste há pouco que, por alguma razão, não te era permitido usar estas meditações para ganhar a lotaria, e tinhas mentalmente decidido que isso era mesmo uma peça do quebra-cabeças. Na verdade, era uma peça inventada. Inventaste-a e colocaste-a na tua imagem. Ora se eu não tivesse dito nada, essa peça ter-se-ia tornado uma peça da tua realidade. Por outras palavras, a imagem que estás a pintar será diferente daquela que eu estou a pintar, ainda que tenhamos os dois partido com o mesmo número e o mesmo tipo de peças. Assim, a imagem que tinhas pintado com as peças era real para ti e ter-se-ia tornado a verdade para ti. Por outro lado, a imagem que eu construí é verdadeira para mim. Por isso é também a verdade. Então a verdadeira questão permanece: qual é que é verdadeira e como é que uma pessoa pode aproximar-se o mais possível da verdadeira realidade?

- Acho que compreendo. O que estás a dizer ainda me confunde um pouco – disse ele.

- Tudo bem, deixa as coisas neste pé, mesmo que haja muita incerteza. Desse modo não vais criar outra história a partir de uma história.

“Há muitos anos que ando a trabalhar nisto, a tentar entender o universo e como ele funciona. Mas havia um problema básico: há certas coisas com que a nossa mente não é capaz de lidar. Por exemplo, compreender o tempo ou o conceito de não-tempo. Dizem que de facto tudo acontece simultaneamente e que tempo linear é coisa que não existe. Mas uma coisa é dizê-lo e outra coisa é compreendê-lo. Muito poucas pessoas o compreendem. É como a teoria da relatividade de Einstein. Muita gente leu qualquer coisa a respeito disso mas na verdade não entende nada, e há pessoas que leram e pensam que entendem. Mas bem se pode ver pela investigação que se faz que elas não entenderam o que Einstein queria dizer. Não é uma questão de inteligência, de modo nenhum. Ensinaram-nos que para compreender coisas complexas temos de ser incrivelmente inteligentes, mas isso não é verdade. Obviamente eu sou uma prova disso.

Isto fez Danny soltar uma gargalhada.

- Então como é que isto vai ajudar? - perguntou ela.

- Dá-me só um minuto que eu explico. Às vezes tenho dificuldade em pôr as coisas por palavras – disse eu. – Talvez isto faça sentido para ti. Há uns anos eu andava a tentar compreender certas coisas e o meu cérebro não era capaz de lidar com estas teorias, nem eu era capaz de enquadrá-las devidamente. Por essa altura estavam os computadores a chegar ao mercado e eu dei comigo a falar com um vendedor que me disse que o computador não era tão importante como os programas, porque sem os programas o computador não é mais do que um grande pesa-papeis. Uma luzinha acendeu-se-me no espírito. Não é que eu seja demasiado estúpido, mas o meu cérebro é que tem falta de um programa para compreender certas coisas.

- Então é isso, um programa? – perguntou ela.

- Sim.

- Parece muito simples, um programa – disse Danny.

- Concordo, mas os programas do cérebro são diferentes dos programas de computadores. A mente é mil vezes mais complexa do que um computador e isso permite que os programas sejam extremamente simples. É como se as coisas estivessem invertidas, mas a ideia que está por trás é a mesma.

- Muito bem, então corre o programa por mim mais uma vez.

- Pega em todas as peças de informação que possuis e separa-as umas das outras. Divide-as em duas ou três peças. A razão por que eu digo duas ou três peças é que nem todas as coisas consistem apenas de positivo e negativo. Algumas coisas e algumas peças de conhecimento têm também um aspecto neutro. Torna então a juntar as coisas onde elas parecerem encaixar melhor, mas não cries nem inventes nem te ponhas a adivinhar outras peças. O mais importante é que as deixes levemente esbatidas. Por outras palavras, pega em certas peças de informação e não as aceites completamente nem as rejeites completamente; deixa-as um pouco à deriva. Às vezes as peças afundam-se um pouco por si mesmas. Se elas não encaixam, simplesmente deixa-as ficar. Ou se trata de informação falsa que poderás rejeitar, ou mais tarde vais encontrar uma peça que as liga ao resto. Deixa-me dar-te um exemplo de como se juntam as peças. Temos: futuro, anjo e ganhar. Duas peças encaixam, a outra fica de parte. Claro que estou a falar desta história.

Danny ficou um momento pensativo. Olhei para Neena mas já sabia que ela tinha a resposta.

- Muito bem – disse Danny. – Futuro e anjo encaixam, e ganhar fica de fora. Não sei porque é que futuro e anjo encaixam, mas sei que encaixam. Também tenho uma outra peça.

- Que peça?

- Uma coisa não é o que parece, e tem a ver com futuro e anjo. Falta-me a peça que estabelece a ligação entre eles, mas eu sei que eles encaixam – respondeu ele.

- Tens razão quanto ao dinheiro. O programa tem de ser usado um pouco antes de começar realmente a dar resultado, mas uma vez que comece, é a tua mente que te vai dar as peças que te faltam. Sabemos que nada é aquilo que parece, portanto deixemos futuro e anjo na penumbra, não os aceitando totalmente na forma que aparentam e não os rejeitando totalmente na forma que aparentam.

- Isso não é o mesmo que adivinhar? – perguntou Danny.

- Não, não é, porque quando tentas adivinhar estás a usar a mesma área da mente que usas quando imaginas coisas; mas se considerares apenas as peças que tens, a tua mente subconsciente começa a preencher os espaços em branco. Há também uma diferença grande entre adivinhar e procurar mais informação.

- Isso é quase o mesmo que dizer que a minha mente já tem as respostas – disse Danny.

- Exactamente. A tua mente tem a resposta. No momento em que fazes uma pergunta, se a parte subconsciente da tua mente não tiver já essa informação, começa imediatamente a procurá-la. E pode obter essas respostas em vários lugares da tua alma ou do teu subconsciente. O teu subconsciente está ligado a vários outros lugares que também podem fornecer informação. O maior problema é que o teu subconsciente não pode dar a informação à tua mente consciente se não houver um programa instalado para tratar a informação. A mente consciente e a mente subconsciente não comunicam lá muito bem. Os sonhos são um bom exemplo e a sua decifração pode constituir um verdadeiro problema, porque o subconsciente tenta passar informação à mente consciente mas a mente consciente não é capaz de lidar com a informação. Por isso o subconsciente usa símbolos, o que é um método de comunicação muito primitivo e rudimentar.

Danny passou a mão pela testa. – Isso faz sentido, mas se eu disser que parece existir uma barreira entre a mente consciente e a mente subconsciente, estará correcto?

- Absolutamente. Tem de existir essa barreira, mas não precisa de ser tão espessa como é. O facto de existir essa barreira permite à mente consciente lidar com o momento presente, excluindo tudo o mais que possa estar a decorrer. Por exemplo, o teu subconsciente ouve tudo, ouve todos os sons no espaço em que estás, mas conscientemente só ouvimos aquilo em que estamos concentrados. O subconsciente é como um filtro que separa as coisas que talvez sejam importantes para nós das coisas que não são. Aliás, há tanta coisa que acontece no subconsciente que quando lá entramos é como se enfiássemos a cabeça num cortiço de abelhas.

Olhei para eles. – E não se esqueçam: eu posso estar completamente enganado. Não seria a primeira vez.


Desafiador

Sê desafiador

Desafia aquela parte de ti

Que diz que não podes

Desafiá-la

E vais consegui-lo

 

Capítulo Quinze

Reparei que estávamos novamente a desviar-nos, quando Danny sugeriu que voltássemos à história.

- Muito bem. Então onde é que fiquei? Ah, sim, já me lembro – disse eu.

“Acordei na manhã seguinte na minha condição habitual de morto bem acordado. E suponho até que já era quase meio-dia. Sentado, o meu cão Rudy fitava-me. Eu estava um pouco desapontado com ele porque parece que de cada vez que há sarilho ele desaparece da circulação.

- É um macho? – Neena afectou um sorriso. Ignorei-a.

“Lembro-me que me levantei da cama com esforço e dirigi-me para o corredor. Dei uma espreitadela para a sala de estar. Nada de anormal. Fui para a casa de banho. Estava completamente exausto. Tentei rever alguns sonhos que tivera, mas eram muitos e em todos figurava aquele anjo, ou pelo menos naqueles de que conseguia lembrar-me parcialmente. Era como se tivesse revivido dez anos da minha infância. Nos meus sonhos parecia que o nome do anjo era Sneaky; de acordo com os sonhos, aparentemente éramos amigos. Normalmente não tenho qualquer problema com os sonhos. Tenho tendência para ignorá-los. Mas estes misturavam-se de certo modo com as minhas memórias. Pelo menos com as memórias que eu tinha na altura. Tenho de vos dizer que foi um período muito difícil para mim e custa-me ter de lembrar cada pormenor, porque era tudo muito confuso.

“Fosso como fosse, a seguir ao pequeno almoço decidi ir à loja buscar umas coisas. Levei Rudy porque ele gosta de andar de carro. No caminho houve um verso que não me saiu da cabeça: “O amor é como o Livro do Amor”. Não fazia a mínima ideia do que aquilo quereria dizer ou por que motivo se repetia assim. Tentei ignorá-lo e concentrar-me em separar os meus sonhos das minhas memórias. Mas naquela altura eu nem sequer tinha a certeza se tinha realmente visto um anjo ou se fora um sonho. Assaltou-me o pensamento de que estava a perder as estribeiras… Pensei também que algo de errado poderia estar a acontecer com a minha meditação. Não que eu tivesse ouvido falar dessa possibilidade, mas nunca se sabe.

“Encontrei sítio para estacionar perto da porta e mandei Rudy ficar no carro. A capota estava aberta e não era grande sacrifício para Rudy, principalmente se ele farejasse um gato. Não sei, mas parece-me que há um ressentimento entre gatos e cães que vem de vidas passadas.

“Enquanto andava a escolher umas mercearias, notei que as pessoas me olhavam com insistência. Assim que eu olhava para elas, sorriam, exactamente como se me conhecessem. Olhei para as minhas calças, para a camisa, examinei até o meu reflexo numa das portas de vidro, mas não vi nada de anormal. Se eu ficava no mesmo sítio muito tempo parado, as pessoas metiam conversa comigo. E também me tocavam, mesmo sem estarem a falar comigo. Ao passarem por mim pousavam a mão no meu ombro ou num braço. Uma mulher estava tão chegada a mim que se poderia pensar que éramos um casal, visto que os nossos corpos efectivamente se tocavam. Tentei mover-me, mas aparentemente isso não lhe fez diferença absolutamente nenhuma. Simplesmente acompanhou o meu movimento com o corpo dela. Normalmente a gente pode entrar ali arrastando um cavalo morto que ninguém dá por nada. As pessoas limitam-se a guardar as distâncias. É uma daquelas mercearias de gente rica e as conversas normalmente escondem-se atrás de óculos escuros.

“Aquilo era demasiado estranho para mim. Peguei no meu cesto e dirigi-me para a caixa, onde as coisas se tornaram ainda mais bizarras. Mesmo na bicha da caixa as pessoas olhavam para mim. Se eu retribuía o olhar, elas sorriam, e às vezes moviam os lábios como para dizer olá; nesse ponto eu desviava imediatamente o olhar. À medida que me aproximava da caixa, as duas mulheres entre as quais eu me encontrava continuavam a chegar-se para mim. Vocês não vão acreditar, mas a mulher a seguir a mim estava tão chegada que eu sentia a respiração dela no meu pescoço e havia contacto físico entre nós. Só numa relação séria é que as pessoas se chegam tão perto.

- Porque é que não andaste para diante? – perguntou Danny. Neena ria para si mesma.

- Eu tentei, mas é que a mulher que estava à minha frente também se chegava para trás… Eu estava a ficar um pouco assustado. A bicha andou então, o que quer dizer que ela teve de andar, e nesse ponto coloquei o meu cesto entre nós. Isso resolveu parte do problema, pelo menos até eu ter de pôr o cesto em baixo. No momento em que chegámos à caixa, estávamos tão chegados fisicamente que o empregado pensou que estávamos juntos.

- O que é que terias feito se uma das senhoras dissesse sim quando o empregado lhe perguntasse se estavam juntos? – perguntou Neena, que, obviamente, estava divertidíssima com aquilo.

- Porque é que não falaste com elas? Cobarde! – disse Danny.

- Bom, realmente não posso negá-lo. Mas eu não sou muito falador, mesmo quando estou com pessoas que conheço. Não é que eu seja tímido, mas é que as pessoas não estão interessadas no que me entretenho a pensar. Além disso detesto conversa fiada. Considero isso uma perda de tempo, ainda que por vezes me surpreenda a observar as pessoas que são peritas nisso. É apenas uma questão de perspectiva. Pessoas como eu gostam de pegar na vida de parte e estudá-la para compreenderem o universo. Outras limitam-se a viver a vida, e muitas outras pretendem apenas sobreviver. Há pessoas que simplesmente não querem discutir ou pensar se as plantas têm consciência e como é que ela funciona. E os golfinhos? Há quem diga que têm uma linguagem mais sofisticada do que a nossa. Teoricamente isso significaria que eles falam das coisas com mais pormenor, todavia a vida dele parece simples comparada com as nossas, o que me leva a crer que a vida deles é mais rica do que nos parece.

- Tenho uma ideia. Que tal se voltássemos à história? – sugeriu Danny.

- Acho que sim – respondi. – Sabem que, para mim, contar esta história é um tanto ou quanto enfadonho. Já a vivi e revivi mentalmente uma centena de vezes. Para mim já não é interessante. Agora os golfinhos… há uma conversa interessante que podíamos ter.

- Nunca se sabe – disse Neena. – Pode ser que descubras algo que te tenha escapado.

- Talvez tenhas razão – disse eu. Reflecti naquilo por momentos. – Bom, quando saí da loja olhei para o carro para ver se Rudy ainda lá estava. Estava, e o anjo estava também. Daqui para a frente vou chamar-lhe simplesmente Sneaky para facilitar o resto da narração, pelo menos até a verdade vir ao de cima.

“Algo se revolveu nas minhas entranhas. Fiquei sem saber se devia vomitar outra vez, ou correr, ou talvez apenas fingir que aquilo não estava a acontecer. As lágrimas começaram a correr-me pelo rosto. Não faço ideia nenhuma porquê. Uma mulher aproximou-se; deve ter visto as minhas lágrimas. Encostou-se a mim e tentou abraçar-me. Dei um salto para trás. Ela pediu desculpa e entrou na loja.

- Olá! Então não só vou ganhar a lotaria como também vou atrair as garotas! – Danny interrompeu-me com um sorriso capaz de envergonhar um sapo.

- Não é bem assim – disse eu. – Que é que eu te disse sobre tirar conclusões precipitadas?

- Então não vou ficar a atrair as garotas? – Danny lançou-me um olhar de desapontamento.

- Vais atrair as mulheres que deves; e não só mulheres, mas toda a gente. – Dei uma gargalhada. – Isto não tem nada a ver com as instruções que vos dei. Tem a ver com o Amor. Já lá voltamos. Bom, mas voltemos à história.

“Sneaky voltou a cabeça e olhou-me de frente. Sorriu e perguntou: - Queres conduzir ou preferes que eu conduza?

“Olhei para Rudy e ele parecia estar bem. Tinha as orelhas levantadas, o que geralmente é bom sinal. E então fiz a única coisa que tinha de fazer, dadas as duas opções: ou ficava à porta a chorar ou entrava no carro.

- Vou tentar reproduzir a conversa que tivemos no caminho para casa – disse eu, rindo. – Mas antes que me esqueça deixem-me dar-vos um pequeno conselho que poderá servir-vos para referência futura: nunca deixem um anjo conduzir!

Eles riram. Antes de continuar, aproveitei a oportunidade para molhar a garganta com um pouco mais de uísque.

- Pensem um pouco nisto. – Pousei o meu copo no balcão.

“O que é que vocês diriam a um anjo que estivesse no vosso carro? O que é que fariam? A quem é que iam contar isso? Quem vos acreditaria? O meu espírito estava em estado de choque, ou estava sobrecarregado, porque a única coisa que me ocorria era dizer: quantos desejos é que eu posso realizar?

“Sneaky respondeu qualquer coisa como: bom, isto vai levar mais tempo do que eu previa. Será que tenho o aspecto de ter saído duma velha jarra? Sou um anjo, não um génio. A razão por que estou aqui é ajudar-te a tornar a pôr o Amor na tua vida. Ajudar-te a realizar os teus sonhos.

“Bom, isso é simpático – respondi. – Mas eu sonho com dinheiro.

- O que tu realmente sonhas é ter mais Amor, alegria e liberdade na tua vida. Só que tu pensas que é o dinheiro que te vai dar isso. Mas és bem-vindo.

- Não me lembro de dizer obrigado.

- Hás-de agradecer.

- O que é que o Amor tem a ver com outras coisas? – perguntei.

- Tudo!

- Por exemplo…

- Ausência de Amor, ausência de vida. O Amor é a essência da vida. O Amor é a essência do que tu és. O Amor é a razão por que estás aqui. O Amor é tudo. O Amor inclui tudo o que existe, existiu e há-de existir.

“Lembro-me de pensar para comigo: não sei por que estamos a falar disto. Vou só entretê-lo a falar até achar maneira de sair desta.

- És maluco! – disse eu. – Tu não podes viver sem dinheiro, mas podes viver sem Amor.

- Ah, é assim? Mostra-me alguma coisa viva que não tenha Amor absolutamente nenhum. Consegues sobreviver com muito pouco Amor, mas não consegues viver. Há uma diferença. A falta de Amor causa enorme prejuízo a uma pessoa, e uma pessoa carenciada de Amor pode causar, e muitas vezes causa, grande prejuízo a outras. Exemplo primordial são as pessoas que iniciam as guerras. Quando estás cheio de Amor não mandas as pessoas matarem-se umas às outras.

Parei no sinal vermelho e voltei a cabeça para Sneaky. – O que é que isso tem a ver comigo?

Ao mesmo tempo dei de caras com um polícia que seguia num carro mesmo ao lado do meu. Uma coisa que não se deve fazer é falar com um anjo invisível quando se pára num sinal vermelho ao lado de um carro da polícia. Principalmente se formos a conduzir um carro descapotável.

- Deste um passeiozito até ao hospital dos maluquinhos? – Danny riu.

- Não, tive sorte. Mas pelo ar do polícia andei lá perto. Pus a mão na boca e disse: espera até chegarmos a casa.

“Estava a pensar no que Sneaky tinha dito quando reparei que me tinha esquecido de ir buscar a informação sobre os jogos daquele dia.

– Sentes-te num dia de sorte hoje? - perguntou ele.

“Enquanto manobrava para me afastar do carro da polícia, perguntei-lhe como é que ele sabia o que eu estava a pensar.

- Fácil! Sou um anjo. Sei o que estás a pensar ainda antes de pensares. Faz parte da minha competência.

- A propósito, Danny, não te dês ao trabalho de jogar póquer com anjos. Eles fazem batota.

- Desconfio que és capaz de ter razão – disse Danny.

- Muito bem. O que é que estou a pensar agora? – perguntei-lhe.

- Estás à espera que eu vá ao casino contigo.

- Isso é espantoso. – Virei para o caminho de acesso. Fervilhavam-me na cabeça ideias como “se não os podes vencer, junta-te a eles.”

- Suponho que não sabes os números da lotaria de amanhã – perguntei. Ele não respondeu. Pensei que ele podia ter um bilhete ou dois escondidos algures nas penas, à espera de uma ocasião especial.

- Todos os dias são especiais – disse ele.

“Voltei-me para ver se ele tinha alguma algibeira, mas ele tinha desaparecido.

Danny tinha uma expressão bastante perplexa.

- O que é que vai na tua cabeça, Danny? – Nenna riu.

- Estou a tentar perceber o que é que este anjo queria. Acho que outra peça do quebra-cabeças é o Amor. Mas de certeza que o anjo tem um propósito definido - disse Danny.

- Sssim… claro que tinha.


Ler nas entrelinhas

Ler nas entrelinhas foi uma coisa que descobri inesperadamente há muitos anos. Tem sido extremamente útil. Vou ser breve e sucinto porque às vezes o mais simples é o melhor. O maior problema com a nossa linguagem é que quando tentamos explicar coisas como o universo, o tempo, o espaço, as dimensões, a consciência, faltam-nos as palavras. Mas como essas coisas existem na vida, parece haver sempre alguém que arranja maneira de contornar as limitações. A melhor maneira de explicar isto é que cada palavra, escrita ou falada, parece ter uma vibração e algo mais que não sei explicar porque realmente não sei de que se trata. No entanto, colocando certas palavras umas a seguir às outras, elas começam a vibrar diferentemente. Cada palavra começa a vibrar com uma certa nota, mas duas palavras juntas têm igualmente uma nota em que vibram. Mas o mais bizarro é que, em qualquer frase normal com um certo número de palavras, cada palavra vibra, mas a própria frase vibra também. Essas notas não mudam, a menos que se mudem algumas palavras. Há frases que são totalmente diferentes, em que cada palavra vibra e a frase vibra, mas não numa única nota. É quase como se a própria frase cantasse uma nota que conta uma história para além do que está realmente escrito.

Adorava explicar-vos como isto funciona, mas infelizmente não faço a menor ideia. No entanto, sei ler nas entrelinhas ou, para ser mais preciso, sei levar o meu subconsciente a dar-me a informação.

Deixem-me dar um exemplo que podem já ter experimentado. Já alguma vez, ao lerem qualquer coisa, um livro ou uma revista, a meio da leitura saírem de um estado semelhante ao sonho e constatarem que, embora tivessem lido várias páginas, não faziam ideia nenhuma do que tinham acabado de ler? É como se voássemos com o piloto automático. Uma parte de nós estava a ler e outra parte estava a sonhar acordada, ou algo parecido com isso. Enquanto estávamos a ler passámos por uma dessas frases, e ao mesmo tempo também estávamos provavelmente no estado mental correcto, e o nosso subconsciente começou a tentar dar-nos a informação que a frase transmitia. Se o nosso subconsciente nos dá a informação por meio de símbolos, então tudo isso pode parecer quase um sonho, e vai ter misturadas algumas partes da nossa realidade, partes que depois teremos necessidade de separar.

Ler nas entrelinhas é uma coisa. Escrever nas entrelinhas é coisa totalmente diferente. Creio que poucas serão as pessoas no mundo que sabem escrever desse modo. Levaria talvez uma vida inteira a aprender. Pelas informações que apurei, parece que a mais alta concentração de pessoas capazes de o fazer são do Tibet. A linguagem parece não ter importância. Mesmo que não consigamos ler a linguagem, podemos no entanto ler nas entrelinhas. Na verdade, a melhor maneira de aprender isto é tentar ler um livro numa língua diferente. Claro que é necessário que o livro tenha sido escrito nessa forma; quaisquer livros espirituais ou informação escrita em Tibetano servem perfeitamente. Foi assim que eu aprendi. Suponho que a mente consciente se aborrece de tentar ler uma coisa que não é capaz, e em dada altura o subconsciente assume a tarefa. Muito provavelmente descobrirão que vão deslizar para um estado de sonho e sair dele. Depois têm de olhar para o sonho e até reduzi-lo a escrito para poderem analisá-lo mais tarde. O que descobrirem vai deixar-vos admirados. Uma outra maneira de aprender e praticar isto é permitirmo-nos divagar enquanto lemos. A melhor maneira de fazer isto é normalmente à segunda leitura. Claro que se nos deixarmos arrastar pelas preocupações do dia a dia, vamos precisar de voltar atrás. Como eu gosto mais de fazer isto é fingir que uma parte de mim está a falar comigo. Considero esta parte o meu subconsciente. Quando estou a ler, deixo-me levar para trás e para a frente. Leio, depois escuto, depois leio, e assim sucessivamente. Surpreendentemente, é bastante mais fácil do que parece.

Há muitos livros no mercado que têm informação nas entrelinhas. Pormenor interessante é que, mesmo que as pessoas não saibam escrever nas entrelinhas, todavia isso acontece com escritores que, ou canalizam ou passam muito tempo a meditar, principalmente se meditam antes de começar a escrever. Reparei também que, em livros traduzidos de Tibetano para Inglês por alguém que domine um certo nível de meditação, parece que a informação escrita nas entrelinhas do original se transfere para a nova língua. Acho este fenómeno surpreendente. Exemplo perfeito é qualquer livro escrito por Alice Bailey. É tanta a informação nas entrelinhas que o estudo de um só livro demoraria bem uns quatro ou cinco meses. Outros livros dignos de uma olhadela são os de Seth, Sanaya Roman, Richard Bach e muitos outros. A quantidade de informação nas entrelinhas varia de livro para livro, embora pareça que nos últimos anos isso acontece com mais frequência.

A próxima vez que alguém lhe escreva uma carta, talvez você queira tentar fazer o mesmo. Por vezes as pessoas escrevem uma coisa e pensam outra. Por alguma razão, o que elas estavam a pensar passa para as entrelinhas.

Ora não lhe parece que isto pode tornar uma leitura interessante?

Há uma razão para eu lhe ter dado esta informação exactamente neste ponto. Poderia dizer-lha, mas isso tirava a graça toda.

 

Capítulo Dezasseis

- Voltemos à história, senão isto vai levar a noite inteira.

“Não tenho a certeza quanto tempo demorou, mas nos dias seguintes tentei pôr em ordem as memórias da minha infância. Tentei também separar os sonhos das memórias, mas não foi possível. Estava tudo muito confuso. Tenho uma memória muito boa e esqueço muito pouco. Foi duro para mim ter de aceitar que podia esquecer vários anos da minha vida, especialmente as coisas de que me lembro agora. Lembro-me de não ter amigos e de me parecer que quase todo o meu tempo tinha sido passado com este anjo. Eu não tinha grandes simpatias; era mais propriamente desprezado. É fácil de compreender quando se passa muito tempo a falar com alguém que ninguém mais consegue ver.

Fiz uma pausa recordando como tinha sido.

“Por um lado desejava não o tornar a ver. Todavia, pela primeira vez em muito tempo, sentia-me só. De certo modo desejava que ele voltasse.

Bebi um gole do meu copo. – Vocês sabem que não há maneira nenhuma de explicar o efeito que uma coisa exerce sobre nós, principalmente se vocês nem sequer podem falar disso a ninguém. Mas acho que agora já não interessa.

Neena estendeu o braço e afagou-me nas costas. - Esta noite não estás sozinho.

- Pois… - e sorri.

“Tenho quase a certeza que era sexta-feira à tarde. Estava sentado na minha cadeira favorita, junto à janela, estudando as probabilidades dos resultados desportivos no fim de semana. Não tinha a certeza se deveria tentar outra meditação. Afinal de contas, ninguém me dissera que eu não devia fazer aquilo. Mas ao mesmo tempo havia ainda no meu espírito uma leve preocupação: o que eu via seria mesmo um anjo? É que se eu ando a ver um anjo que na realidade não existe, isso pode significar que dei em maluco. Se fosse esse o caso eu não seria capaz de fazer um juízo sobre se isso seria real. Mais ou menos ao mesmo tempo que eu pensava nisto, um clarão súbito chamou-me a atenção. Cautelosamente espreitei pela janela de modo a não ser visto, não fosse tratar-se do reflexo de um carro de cobradores de contas.

- Mas não pagaste já as contas todas com o dinheiro que ganhaste? – perguntou Danny.

“Nem pouco mais ou menos. Nessa altura da minha vida, para equilibrar completamente as minhas finanças seria preciso muito mais dinheiro do que eu tinha ganho. Já tinha aumentado o valor das minhas apostas, mas, como podes ver, as coisas andavam um tanto agitadas. Bom, mas voltando à história, ao espreitar pela janela vi que não havia carros nem sinal de gente. Voltei para a minha lotaria com um suspiro de alívio e quase saltei da cadeira. Sneaky estava sentado no sofá.

- Portanto estavas a trabalhar nas tuas apostas, a espreitar pela janela, escondido dos cobradores de dívidas. Oh, como é complicada a teia que vamos tecendo! – disse ele, usando um dos meus temas favoritos.

“Disse-lhe que não entrasse assim sorrateiramente. Por mim, até uma alucinação devia bater à porta.

- Tentei avisar-te, mas parecias muito ocupado a espreitar à janela – respondeu ele.

- Ninguém é perfeito.

Ficámos ali em silêncio durante um bocado, olhando um para o outro. Ele devia saber que eu estava a tentar formular as minhas questões. Tinha uma centena delas, mas não conseguia pensar numa só. Tinha o espírito vazio. Finalmente consegui reagir e fazer uma pergunta.

- Como é que eu sei que és real?

- Confia!

- E se eu estiver a ter uma alucinação?

“Não percebi como esta pergunta era estúpida. Há uma maneira segura de saber se ficámos completamente malucos, que é perguntar a uma alucinação se estamos alucinados.

Eles riram ambos, sugerindo que eu podia ter razão.

Obviamente, agora não estás em choque. Pergunta então a ti mesmo: o que é que vem a seguir ao choque? – perguntou Sneaky.

Pensei por momentos. – A seguir ao choque vem a negação, ou a descrença. – Precisamente nessa altura, Rudy foi à sala de estar, olhou para Sneaky, voltou novamente para o sítio onde eu estava e deitou-se sem desfitar o anjo.

“Muito bem, se tu és real por que não me lembrei de ti antes daquele dia? – perguntei eu.

“Mas tu lembraste-te – disse ele. – Só que assumiste que tinhas inventado tudo porque te era difícil acreditar em algo que não se ajustava ao mundo que construíste para ti mesmo.

Não disse nada, mas devia ter uma expressão de perplexidade porque, mesmo que ele tivesse dito a verdade, de algum modo eu sentia que aquilo não se me aplicava cem por cento.

- Também eras muito novo e aconteceram-te muitas coisas desagradáveis. Quando as crianças passam por tempos difíceis tendem a suprimir algumas recordações para poderem continuar a funcionar. Trata-se simplesmente de auto-preservação.

Eu sabia que ele tinha razão, mas ainda não estava convencido. Ele continuou a tentar convencer-me.

- Infelizmente as memórias tendem a arrumar-se em pacotes – disse ele. – Quando uma memória é suprimida, outras que podem desencadear essa memória são também suprimidas. Eu tornei-me o mecanismo de desencadeamento, e assim que me viste foste confrontado com a realidade de que eu existo mesmo. Compete à tua mente dar sentido àquilo que vês, e para fazer isso ela vai procurar as tuas memórias. Uma desencadeia a outra, numa espécie de efeito dominó.

- Deixa-me interromper-te um momento - disse Danny. – Tu tinhas um anjo como amigo quando eras miúdo, ou não?

- Essa é a pergunta decisiva, não é? Tenho as minhas teorias, mas esperemos para ver se vocês dois chegam à mesma resposta.

- Há aí qualquer coisa que não joga, mas ainda não consigo identificar o que é – observou Neena. Danny aquiesceu com a cabeça.

Bebi outro gole do meu uísque.

“E ali estava eu, sem conseguir pensar em questão nenhuma para lhe pôr. Pensando agora nisso, acho muito estranho. Ocorreu-me então uma coisa: – Onde diabo é que tu estavas quando ficou o caldo entornado? Eu podia ter aproveitado alguma ajuda, para não falar de um pouco de companhia. Tens ideia de quanto tempo e esforço foram precisos para ultrapassar tudo aquilo? – Naquele momento senti a minha zanga a crescer. Rudy decidiu mudar-se para um sítio mais tranquilo.

- Tanto quanto eu me lembro, ficaste perfeitamente insensível quando te deixei. Deixa-me refrescar-te a memória. Acho que disseste, e por favor corrige-me se estiver enganado… - respondeu ele.

- Não interessa, eu lembro-me – interrompi. – Eu disse-te que te fosses embora porque nunca mais queria ter nada a ver com o Amor. Disse que as pessoas são cruéis e toda a gente pensa que sou doido, e culpei-te por não ter amigos. Disse que as pessoas não se importam e que é por tua causa que me afastam. Disse que me fazes perder tempo a dizer-me coisas que não interessam a ninguém.

Depois de lhe dizer isto lembro-me de ficar em silêncio perante os sentimentos que me invadiam. Quando era criança tinha começado a odiar este mundo e as pessoas que vivem nele. Sobrevivência! Sobrevivência era tudo, mais importante do que o Amor, mais importante do que a brincadeira. A sobrevivência era tudo o que existe, dizia eu a mim mesmo. Sobreviver até crescer e ficar mais forte, e depois resistir. Eram esses os meus pensamentos quando tinha uns oito anos.

- Então devias ter ajudado! – disse eu – em vez de apareceres agora que as coisas estão a correr bem.

- Nunca estiveste só – respondeu ele. - Ninguém está, mesmo que julgue que está. Pergunta a ti mesmo quantas coisas inexplicáveis te aconteceram precisamente quando mais precisavas.

“Olhando para o tecto, admirei-me de como é que tantas coisas correm mal ao longo duma vida.

“Ele desapareceu assim que desviei o olhar de cima, o que também foi oportuno. Eu precisava de tempo para digerir tudo aquilo.

Procurei os meus cigarros e perguntei a Danny se me podia dar mais sumo de laranja.

- É estranho – olhei para Neena. – Mesmo agora que vos estou a contar isto, todas as emoções estão de volta como se tivesse sido ontem. Não acham que é estranho?

Neena abanou a cabeça: - Não.

Longos momentos de silêncio passaram antes de prosseguir com a história.


Abraços

As árvores são os únicos seres que eu conheço

Que gostam desses Abraços.

Vocês sabem,

Aqueles em que nos apertamos,

Mas com força.

Quero dizer, um apertão mesmo mesmo forte.

Não , não um simples apertão forte,

Mas mesmo mesmo mesmo mesmo muito forte,

Daqueles que nos fazem corar até às orelhas.

Isso é que é um Abraço.

Só as árvores gostam deles assim, e eu.

 

Capítulo Dezassete

Danny saltou do banco e arranjou-me mais um copo de sumo de laranja com gelo moído.

- Pensas então que não há nada de mal em utilizar o teu método para ganhar a lotaria? – perguntou Neena.

Danny fez um gesto com a cabeça. – Não vejo nada de mal nisso.

- Não será assim como receber uma coisa em troco de nada?

- Acho que de certo modo é. Por outro lado, há que fazer um esforço real para o conseguir; não se trata simplesmente de atirar o teu dinheiro ao ar na esperança de que a sorte se encarregue do resto. Estás a usar a tua mente e todas as tuas aptidões. Também não estás a tirar nada a ninguém, porque se outra pessoa tiver as respostas certas também ganha.

- Está bem visto – disse Danny, - mas que acontece se resolveres escrever sobre isto e houver gente demais a fazer o mesmo? Não tarda que não haja lotaria nenhuma.

- Eu sei o que queres dizer. Mas o facto é que já está a acontecer.

- Que queres dizer? – perguntou Neena. – Que é que tu fizeste?

Os olhos de Danny pareciam outra vez tão grandes como melancias.

- Bom, há cerca de seis meses quis escrever um livro que contasse a história do que tinha acontecido. Eu não sabia como escrevê-lo, por isso arranjei um gravador e contei a história, tal como estou a fazer agora. Levou quatro bobinas… quase seis horas; depois fiz cópias e vendi uma série delas para ver se havia alguém interessado. Aparentemente, algumas dessas pessoas tiraram daí o máximo partido, porque ouvi dizer que a Comissão das Lotarias Desportivas está a ter um verdadeiro problema para equilibrar os seus livros, pois subitamente parece haver um grupo de pessoas que ganham constantemente. Primeiro tentaram reduzir as probabilidades, esperando que isso anulasse o sistema que as pessoas usavam, fosse qual fosse, mas não resultou. Agora limitaram o montante de dinheiro que se pode apostar. Corre o boato que a Comissão da Lotaria tenta afanosamente descobrir qual o sistema que essas pessoas usam. Mas o facto é que não há sistema nenhum.

- Quantas bobinas vendeste? – perguntou Neena.

- Cerca de uma dúzia.

- Se vendeste só uma dúzia, que acontecerá se escreveres um livro e milhares de pessoas o lerem?

- É difícil dizer. Talvez a Comissão da Lotaria tenha de fechar as portas ou de achar maneira de tornar a lotaria mais interessante. É muito como jogar xadrez. Se não vais usar a mente não faz sentido jogar. O Governo decidiu tornar o jogo legal e tem as suas razões, e se não está disposto a arcar com as consequências dessa decisão, então o melhor é não se pronunciar. Eles não parecem ter qualquer problema em arrecadar milhões de dólares provenientes do trabalho de indivíduos que trabalham duro. Se estão na disposição de o devolver, não é da minha conta. O mundo não vai acabar só por acabarem as lotarias. Aliás, esta história não trata de dinheiro nem da lotaria. É uma história que trata do Amor e do que se pode fazer com o Amor e a nossa mente.

- Mas se a lotaria for encerrada, não serve de nada aprender isto – disse Danny.

- De modo nenhum! Há uma quantidade de coisas incrível que podes fazer com esta aptidão. É uma estupidez pensar que só se pode usá-la para ganhar a lotaria. Há muitas coisas incríveis e maravilhosas em que se pode usar este método. Podes usá-lo para fazer uma verdadeira diferença neste mundo e para ajudar muita gente. Podes usá-lo na tua profissão, no teu negócio. Não há limites! Só por poder não haver lotaria, pelo menos na forma actual, não é razão para não divulgar esta informação. A única razão por que te falei primeiro da lotaria é que foi assim que eu comecei. Depois, pouco a pouco, fui aprendendo o resto, e isso vais tu descobrir assim que me deixes voltar à história.

- Vá lá, então! – disse Danny com impaciência.

Neena inclinou-se para mim. – Ainda jogas na lotaria?

- Não. Bom, talvez não deva dizer não. Ainda jogo, de quando em quando, principalmente por divertimento. Aposto dois dólares. É muito raro não acertar, mas ir ao ponto de ganhar dinheiro com isso, foi coisa que pus de parte há muito tempo. O dinheiro nunca foi o que eu verdadeiramente procurava. Admito que me desviei algum tempo. O que eu procurava era ser feliz, e ser feliz de um modo que não dependesse do dinheiro ou de relações ou quaisquer coisas externas. Sinto-me feliz por dizer que ao cabo de 41 anos finalmente alcancei o meu objectivo. Não há nada que se compare com isto. Estou também a trabalhar noutro projecto e uso a lotaria para avaliar a sua eficácia. Mas isso é outra história.

- Como alcançaste a felicidade? – perguntou Neena.

- O resto da história vai explicar isso.


O Segredo

Ontem perguntei ao meu cão

Qual é o teu segredo na vida?

Ele respondeu

Se ele corre, persegue-o

E eu perguntei

E se ele não corre?

Ele respondeu

Limita-te a esperar…

 

Capítulo Dezoito

- Domingo é o meu dia favorito – disse eu. – As ruas estão sossegadas e não há cobradores de dívidas a espreitar pelos cantos. É uma boa altura para ir às compras. Rudy e eu resolvemos aventurar-nos e fazer mais uma tentativa naquela loja. Disse a Rudy que ficasse no carro e quando entrei na loja pensei que ao primeiro sinal de confusão me punha a mexer dali para fora. Dei a minha volta pela loja sem ser notado. Voltara tudo ao normal. Ufa, que alívio! Dei mais uma volta e peguei em mais algumas coisas; ao passar pela secção de papelaria, um livro de notas caiu da prateleira mesmo dentro do meu pequeno cesto vermelho. Temos de admitir que são muito poucas as probabilidades de acontecer uma coisa destas. Não obstante, apanhei a agenda e passei os olhos pelas páginas. Ocorreu-me um pensamento: e se Sneaky não aparecesse durante um tempo? Talvez eu acabasse por esquecer aquilo tudo. O primeiro dia estava já a chegar ao fim; mais parecia um sonho. Tornei a pôr a agenda na prateleira. Mas assim que cheguei a casa comecei a tomar notas.

“Estava sentado a escrever na sala de estar, na minha cadeira preferida junto da janela, quando ouvi uma voz: - Fico contente por ver que te adaptaste.

Não precisei de olhar para ver quem era. E disse-lhe: - Ei, gostaria que não me entrasses em casa dessa maneira! Por que não bates à porta da frente?

- Nunca respondes.

- Bom, então bate à porta das traseiras.

- Também não atendes.

- Acho que tens uma saída: que tal um clarão luminoso prévio?

- Isso pode-se arranjar.

Desta vez eu estava preparado. Tinha apontado uma série de questões que queria perguntar. Folheei o meu bloco de notas.

- Aqui está uma pergunta para ti. Que aconteceu há dias na loja? As pessoas estavam a agir duma maneira muito esquisita.

- Digamos que irradiavas calor. – Ele sorriu.

- O quê?

- Deixa-me fazer-te uma pergunta: que acontece quando as pessoas se apaixonam?

- Ficam radiantes.

- E…?

- Um momento. – Eu tinha a certeza de ter a resposta. Afinal já tinha visto isso muitas vezes.

- Primeiro adquirem essa radiação – disse eu. – E parecem ficar mais atraentes, especialmente para o sexo oposto. Parece que atraem as pessoas.

- Exactamente. Tenta ver as coisas desta maneira. Quando uma pessoa se apaixona, o seu coração começa a abrir-se e, literalmente, a irradiar Amor. É isso que lhes dá aquele esplendor. No teu caso aconteceu a mesma coisa. O teu coração abriu-se temporariamente e tu rescendias Amor, só que em muito mais larga escala do que estás habituado a ver.

- Que coisa perigosa! Esperemos que não me torne a acontecer. – Abanei a cabeça.

“Sneaky também abanava a cabeça. – Imagina só o que podias fazer se aprendesses a abrir o teu coração, Klaus.

- Ah sim, imagina o que eu podia fazer com um milhão de dólares, Sneaky.

- Lembras-te de quando tinhas seis anos? – perguntou ele. Encolhi os ombros.

- Querias saber tudo acerca do Amor. Querias que toda a gente fosse feliz. Querias mudar o mundo e fazer a diferença. Punhas-te no meio do campo a fingir que enviavas Amor a todas as flores e borboletas, como um pequeno Sol a irradiar Amor. Lembras-te disso?

- Acho que não. Afinal só tinha seis anos, e obviamente não percebia em que planeta estava. Estou a sentir uma coisa estranha, como se estivesses a tentar levar-me a fazer uma coisa que eu não quero.

- O que é que tu não queres fazer?

“Pensei por momentos. – Apanhaste-me. Fiquei sem resposta.

- Bom, então o que é que tu queres fazer?

“Já estava a ficar com dor de cabeça. Já tinha conjecturado aquilo uma centena de vezes. De cada vez descubro qualquer coisa que me vai agradar, mas ao fazê-lo parece que dá bota. Apercebi-me que Sneaky ouvia os meus pensamentos.

- Pois não sei – respondi. – É como se faltasse uma coisa e eu não conseguisse pôr-lhe a vista em cima. Às vezes penso que é uma maçada, mas não é o caso. É como… a minha vida é como uma tinta sem cor.

- Vamos voltar ao tempo em que tinhas seis ou sete anos. Pensa nisso. As coisas que fazias nessa altura pareciam não ter cor?

“Tentei concentrar-me. Peguei num cigarro e, ao acendê-lo, notei pelo canto do olho que Sneaky já ali não estava.

Parei por momentos para beber um gole do meu sumo de laranja.

- Então o que é que tu fazias quando eras mais novo? Parece que nesse tempo eras feliz – disse Neena.

- Bem… as coisas não corriam pelo melhor. Na verdade a maior parte do tempo era meramente suportável. Mas havia coisas que gosto de fazer, sabes… coisas de que nunca te cansas. Todos os dias estava ansioso por sair. Mal podia esperar para me ver fora de casa. Dormir era coisa que eu só fazia quando já não conseguia manter os olhos abertos nem mais um minuto. Depois de Sneaky partir reflecti em tudo isto. Quando era mais novo, algo era diferente dentro de mim. Quando era pequeno, dormir era uma chatice, mas mais tarde dormir tornou-se um escape, e havia na minha lista de tarefas muita coisa que precisava de ser feita. Mas ainda não foi isso que me fez aproximar da compreensão do que fazia a diferença. Fosse lá o que fosse, parecia faltar na minha vida mais tarde.

- Então ainda não sabes o que te falta? - perguntou Neena.

- Agora sei. Mas naquela altura, quando Sneaky apareceu a primeira vez, não tinha pista nenhuma. É que eu pensava que o motivo da presença de Sneaky tinha algo a ver com o ganhar a lotaria. Mas estava a começar a perceber que ele não tinha vindo por causa da lotaria, mas sim por outra razão. Ao perceber isso fiquei muito mais sossegado em relação a ele, e tornei-me um pouco menos defensivo. Quanto àquilo que me faltava ou que faltava na minha vida, aguentem aí que está tudo na história.

Danny deu um suspiro de alívio. – Portanto a razão por que ele aparecia não tinha nada a ver com a lotaria, não é assim?

- Exactamente – respondi. – Mas tem algo a ver com o método.

Os ombros de Danny penderam e eu sorri. Neena parecia também muito divertida.


Eu sou um cão e esta é a minha vida

Durmo

Sonho

Ponho um ou dois gatos a correr

Para salvar a vida

E o dia está feito.

Que vida formidável

Talvez amanhã apareça um esquilo

Ah, sim, amanhã…

Um esquilo grande e gordo

Lento na corrida.

 

Capítulo Dezanove

Olhei para Neena e Danny e perguntei: - Alguma vez pensaram quanto tempo e esforço é preciso para lidar com um corpo físico? – Lançaram-me ambos um olhar perplexo.

Acenei com a cabeça. – É mais ou menos como isto: dias depois da última visita ainda eu não tinha feito apostas, principalmente porque estava inseguro das coisas. De certo modo, a possibilidade de ter passado ao lado não me saía da cabeça. Eu sentia que o facto de continuar a questionar-me dava a indicação de que estava no caminho certo.

“Estava a tomar banho, ouvindo o “ZZ Top” com os auscultadores e considerando a complexidade de possuir um corpo físico e a complexidade da vida. Pensem no que custa tratar de um corpo físico durante vinte e quatro horas. É imenso! Levantamo-nos e manhã e a primeira coisa que precisamos de fazer é drenar o excesso de líquido. Depois lavamos, esfregamos e penteamos o corpo. Depois pulverizamos, massajamos e aplicamos mais qualquer coisa. Mas não ficamos por aí. Depois vestimos roupas que tivemos de lavar, secar, passar a ferro e dobrar. E neste ponto vocês pensam que já acabou, não é? Não, isto é apenas a ponta do iceberg. Agora é preciso reabastecer de combustível, mas não é nada simples, assim como devorar um fardo de palha. É preciso agitar, passar pelo passador, misturar, tostar e finalmente meter aquilo tudo por um buraco na nossa cabeça. E não esquecer o mastigar. Ah, se eu amo a eficiência! Precisamos de um lugar onde arrumar este corpo, especialmente à noite, para que não haja nada que o possa devorar enquanto dormimos e para que se mantenha seco se chover. Por isso arrendamos, compramos ou construímos um tecto. Mas para fazer isto é preciso levar o corpo a um sítio qualquer e obrigá-lo a fazer certas coisas, e então alguém nos dá um papel que entregamos a outra pessoa. Ora para ir para aquele sítio onde nos dão papel e obrigamos o corpo a fazer coisas que ele não quer fazer, precisamos de veículo para transportar o corpo, que é uma espécie de concha de protecção do corpo que é necessário alimentar com uma mangueira, e lavar, olear, reparar e guardar. Faz sentido, não faz? E agora precisamos de construir mais coisas e lidar com mais papeis. E para tornar as coisas ainda mais bizarras, já repararam que há sempre qualquer coisa a tentar comer ou juntar-se ao vosso corpo? Levem só o vosso corpo até ao parque e vejam o que acontece. Percevejos tentam sugar o vosso sangue; cães tentam lamber-vos a cara, e a seguir, já sabem, outro corpo qualquer tenta esfregar-se contra o vosso. Vá, imaginem.

Por esta altura Danny e Neena riam com vontade. Aparentemente achavam que era muito engraçado. Infelizmente, nessa altura eu via isso como a verdade e tomava as coisas muito mais a sério. Acendi outro cigarro e esperei pacientemente que Neena e Danny acalmassem para eu continuar.

“Eu ainda estava no banho. Tinha os olhos fechados, mas pensei ver um raio de luz através das pálpebras. Abri os olhos e vi Sneaky sentado na sanita segurando um barco de papel e uma navalha de barba. O meu coração acelerou ao ver a navalha de barba. Era uma das antigas, daquelas que abriam por cima como as portas das bombas no bombardeiro B52. Havia qualquer coisa de familiar naquelas duas coisas. Só estava à espera que a minha memória lá chegasse.

- Vejo que perdeste algum senso de humor considerando a vida dessa maneira – disse Sneaky.

- O quê? – eu tinha um olho na navalha e o outro na porta.

- O que é que estavas a pensar?

- Oh, apenas um pensamento, mais nada - disse eu.

- Não. Acho que era mais do que isso – disse ele, olhando-me com preocupação. – Sabes, é que se tirares da vida o Amor, tudo se torna mecânico, frio e sem amor. É verdade que uma quantidade de coisas que tens de fazer são sempre iguais todos os dias, mas se houver Amor nas tuas acções, as coisas têm um certo encanto. O teu banho, por exemplo. Basicamente tem uma função principal, mas acrescenta-lhe umas bolhas, espuma, uns brinquedos… que eu vejo que tens, talvez uma vela e uma conversa agradável ou até um pouco de música, e tens uma experiência totalmente nova.

- Para quê o barco e a navalha?

- Tu lembras-te! Houve uma pessoa que te fez um barco de papel como este porque não querias tomar banho. Vê lá como as coisas mudam. Vejo que agora tens barcos de plástico. Mas assim que viste o barco de papel, correste escada acima direito à banheira.

- Sim, lembro-me.

- Lembras-te da navalha de barba? – Sneaky ria quando apontou a navalha para mim.

- Sim – respondi. A memória já tinha funcionado. – É difícil esquecer, tendo em conta que continuo a sentar-me em cima da cicatriz.

- Lembras-te de eu te dizer que não brincasses com esta navalha?

- Estavas sempre a dizer-me para não fazer isto ou aquilo – disse eu. – E daí?

- Não há maneira nenhuma de te provar que eu sou real e que tu não estás maluco. Tudo pode ser considerado um fragmento da tua imaginação; não me compete fazê-lo por ti, mas compete a ti confiar em ti próprio, pois isso constitui uma importante realização. Pensa então no que tem faltado na tua vida ao longo destes anos todos.

“Levantei os olhos. – Porque é que não me dizes?

Mas ele já se tinha ido. Tinha deixado o barco de papel. Quando agarrei nele reparei que tinha qualquer coisa escrita num dos lados: Alguns anos atrás imaginaste que estavas a fazer qualquer coisa. Lembra-te, pois os teus pensamentos criam realidade. A prova é o ónus do descrente.

“Pus o barco na água, ajustei os auscultadores e brinquei com o barco, pelo menos até se afundar. Aquilo trouxe-me de volta uma série de memórias. Mas não consegui descobrir o que tinha imaginado dois anos atrás e que é agora, supostamente, realidade.

Sabia que Neena queria fazer perguntas.


Eis uma adivinha

Estão preparados?

Vamos então!

Criação consciente

É uma Criação Consciente?

(nunca disse que ia ser uma adivinha fácil)

 

Capítulo Vinte

Danny olhou para o bloco de notas e esfregou a testa. Neena também reparou na expressão de Danny e perguntou-lhe o que se passava. Ele resmungou qualquer coisa mas não chegou a responder. Eu tinha a certeza que sabia o que lhe passava na cabeça.

- Que se passa, Danny? – perguntei. – Ideias contraditórias?

Danny levantou os olhos para mim. – Que queres dizer?

- Vamos, está-te escrito na cara… Já não tens a certeza daquilo em que deves acreditar, nem se esta história da lotaria vai funcionar… Acertei?

- Acho que sim – respondeu ele. – Não digo que não estejas a dizer a verdade, só que… talvez isso funcione para ti, mas isso não quer dizer que funcione para mim.

- Se agora viessem aqui dez anjos directamente enviados por Deus e te dissessem que a coisa vai funcionar contigo, acreditavas neles?

- Sem a mínima dúvida. - Os olhos de Danny brilharam.

- Então e se fosse um só anjo gordo com barriga de cerveja? Serviria para ti?

Neena soltou uma gargalhada.

- Possivelmente.

- Porque é que o número de anjos faria diferença para ti?

- Não sei. Acho que só torna a coisa mais credível. – Danny abanou a cabeça. – Não percebo o que estás a tentar dizer-me.

- Mas no fundo tu tens razão: a coisa não vai funcionar para ti.

Danny ficou atrapalhado, lia-se-lhe no rosto, e Neena também. Por momentos pensei que Danny ia ultrapassar a situação.

- A razão por que não vai funcionar é que tu não acreditas. Diz-me então porque é que pensas que não vai funcionar contigo?

Danny reflectiu um momento. – Talvez pareça demasiado simples: penso que com tantos milhões de pessoas no planeta, alguém o teria descoberto primeiro.

- Logicamente isso faz sentido, e houve uma altura em que também eu pensava assim. Mais tarde compreendi que era a minha incredulidade a tentar justificar-se a si própria. Não sou a única pessoa que fez isto. A questão é que todas as outras pessoas que também o conseguiram estão muito caladinhas. É muito estranho mas, assim que descobres uma coisa, parece que outras pessoas que também a descobriram desaparecem da circulação.

- As crenças são portas fechadas, ou chaves que abrem qualquer porta - observou Neena.

- É verdade – disse eu. – Neste momento as tuas crenças são portas fechadas. Se nós te convencêssemos que não eras capaz de aprender a esquiar, não serias capaz de aprender a esquiar. As coisas são assim mesmo, ainda que toda a evidência prove o contrário.

- Mas se uma coisa for provada, então é verdadeira e devemos acreditá-la.

- Não! – abanei a cabeça.

Danny pegou no seu copo de vidro e pousou-o com força no balcão diante mim. – Este copo é redondo e eu acredito que é.

Agarrei no copo e atirei-o para o chão atrás do balcão. Desfez-se em mil bocados.

- Não. O copo era redondo dos lados, mas plano no fundo e aberto no topo. Agora não é nenhuma destas coisas. – Apercebi-me que o exemplo era desastrado. Não posso provar-te como as tuas crenças afectam tudo aquilo que és ou não és capaz de fazer. Há anos frequentei alguns cursos. Um era de meditação, outro sobre o poder da mente, um terceiro tinha a ver com a utilização do poder do subconsciente. Em todos eles, chegava um momento em que havia uma pessoa que fazia esta pergunta: posso usar isto na lotaria ou na bolsa de valores? Todas as vezes a resposta era um não em diversos tons. Para ser franco, eu próprio também me convenci disso. Mas depois fiquei desconfiado, porque eles dizem-nos que podemos fazer toda a espécie de coisas incríveis, excepto essa. Toda a gente parece desviar-nos disso. E a coisa torna-se particularmente interessante quando vemos aquela pessoa a comprar um bilhete de lotaria. O que eles querem dizer é que podemos comprar bilhetes de lotaria, mas não podemos usar todos os recursos de que dispomos para fazer aquele pedaço de papel valer alguma coisa. Ganhar a lotaria acabou por ser a minha realização menor mas o meu passo mais importante, porque finalmente meti na cabeça que não sou uma coisinha insignificante e incapaz de quem Deus se tinha esquecido. Sou capaz de fazer tudo aquilo que eu acreditar que sou. Vou mostrar-te uma coisa esta noite que vai fazer mais por ti do que a lotaria fará algum dia, e se a usares não precisarás da lotaria.

Ajudei-o a varrer o copo partido e continuei com a história.

“Tinha acabado de ir para a cama e fechar os olhos quando percebi um raio de luz. Já sabia quem era. Voltei lentamente a cabeça, abri um olho e vi Sneaky sentado na beira da minha cama.

- Por que não vieste antes de eu me deitar? – perguntei-lhe.

- Pensei que podias gostar de ouvir uma história para adormecer, como quando eras miúdo.

- Eu lembro-me das tuas histórias para adormecer, e lembro-me que eram mais como prelecções.

Eu sabia que ele tinha alguma fisgada, eu sentia isso.

- Elas faziam-te sempre adormecer e ter bons sonhos, não era?

Olhei para Neena e a seguir para Danny. – A propósito: vocês notaram algo de estranho na maneira como Sneaky fala? – Eles abanaram a cabeça.

- Então? Ele fala exactamente da mesma maneira que eu . Usa as mesmas palavras e o mesmo tipo de frases. Não acham isso estranho?

- Pensei que isso era apenas a maneira como contas a história – disse Neena.

- De modo nenhum. Não te esqueças disso. Mas voltemos ao ponto onde ficámos.

“Concordei em ouvir a história para adormecer do Sneaky, deitei-me para trás e fechei os olhos.

- Era uma vez um rapazinho cujo único amigo era um anjo. Passavam todo o tempo juntos a brincar, a rir, a jogar à espada, trepar às árvores, e falavam de tornar o mundo um lugar melhor, cheio de Amor e alegria. Passavam muitos dias na lixeira à procura do tesouro. É claro que o anjo encontrava sempre o melhor tesouro.

Muitos dias passavam-nos no lago, num barquito a remos, onde podiam conversar horas seguidas sem que ninguém os ouvisse. Cortavam as ondas grandes que os barcos maiores faziam e riam-se. O rapazinho era feliz ali. Um dia o rapazinho disse ao seu amigo anjo que se fosse embora e nunca mais voltasse. Disse ele: - Por tua causa toda a gente me detesta e pensa que eu sou estúpido e maluco.

Foi um dia triste para ambos. Mas o que o rapazinho não sabia era que ao zangar-se e mandar embora o anjo, também estava a virar as costas ao Amor. Não concedendo Amor nenhum ao seu ser físico nem acreditando no Amor criou-lhe um sofrimento cada vez maior. Este sofrimento crescia com a idade. O rapazinho, agora um homem, tentou várias coisas para reparar o que estava mal, mas ele não sabia que estava a sofrer à míngua de Amor. E por mais Amor que o anjo lhe enviasse, o Amor não entrava pois o coração dele estava cerrado.

“Sneaky fez uma pequena pausa.

Ora o anjo nunca chegou a sair de junto do rapaz, só se tornou invisível, porque o anjo sabia que algum dia o rapazinho ia mudar de ideias. E assim foi: alguns anos mais tarde ele mudou. E novamente juntos resolveram escrever um livro sobre Viver em Amor.

- Estás a sonhar, rapaz. Não estou a contar nada a ninguém. – Tentei ignorá-lo e deixei-me adormecer. Só me recordo do que mal ouvia.

- Um dia o rapaz, já um homem, ganhou a lotaria e com esse dinheiro comprou uma linda casinha na floresta, onde passava grande parte do tempo a escrever sobre o Amor e a realidade da vida. Um dia, quando caminhava pela floresta, viu uma rapariga que falava com as árvores.

Dizem que o rapaz que falava com os anjos e a rapariga que falava com as árvores viveram felizes a partir daí.

- Esquece isso. Quanto é que eu ganhei? - perguntei eu, sem saber se estava a falar em voz alta ou se era só dentro da minha cabeça.

“Ele deve ter-se aproximado. Eu estava mesmo a entrar no sono quando o ouvi, claro e em bom som:

- Os sonhos criam os crentes e os crentes criam. Talvez queiras procurar a cabana e as marcas no lado de trás. É óbvio que ela te conhece muito bem, senão não teria necessidade de tornar a coisa tão óbvia.

Neena quase rebentava a rir. Danny foi atrás e chorava a rir. Tive de rir um pouco também, embora não me parecesse motivo para tanto. Nem sequer tinha a certeza a que é que Neena achava tanta graça. Pensei que ela sabia qualquer coisa que eu não sabia. Ela conseguiu controlar-se por momentos, mas depois largou outra vez a rir. E assim durante um bom bocado. Não pude evitar rir também, só de os ver rir.

- Vocês, homens, são todos iguais. – Neena enxugou as lágrimas dos olhos. Eu segurava o estômago, que doía de rir tanto.

- Vocês não são capazes de ver o que têm à frente dos olhos – disse ela em tom condescendente. – Imagina só que em qualquer altura, antes de nascerem, decidiram ambos encontrar-se durante a vossa vida. Só para ter a certeza de que tu eras capaz de meter isso na tua cabeça dura, ela achou que precisava de pôr um sinal nas costas para não haver hipótese nenhuma de falhares.

Ela continuava de riso aberto. Eu tentava achar maneira de responder. Olhei para Danny.

Danny olhou para ela. – Porque é que isso devia competir a ele? Talvez, se ela agisse conjuntamente, fosse capaz de encontrá-lo. – Pensei que era uma boa resposta e acenei com a cabeça.

- Vocês, homens, são tão cegos que não eram capazes de vê-la mesmo que passassem por cima dela. – E desatou outra vez a rir. Como não dava mostras de parar com o riso, Danny e eu resolvemos encetar a nossa própria conversa.

- Por acaso ainda não a encontraste? – tentou dizer Danny elevando a voz para eu poder ouvi-lo entre as gargalhadas de Neena, o que a fez rir ainda mais.

- Acho que sim. Mas há algumas questões que ainda não resolvi completamente.

- Então já a viste, mas ainda não te apresentaste? – perguntou ele.

- Mais ou menos isso. Foi uns dois anos depois de Sneaky me ter contado aquela história. Nessa altura eu não estava interessado, mas mais tarde comecei a matutar nas implicações do que ele me tinha dito.

Danny tinha no rosto uma expressão perplexa. Neena tinha acalmado mas conservava o sorriso de orelha a orelha.

- Chegámos agora à parte dos pormenores... – Era óbvio que ela estava divertidíssima.

- Não é isso. Não sei exactamente como explicar, mas o nosso futuro, o nosso presente e o nosso passado nunca estão completos. Podem ser alterados em qualquer momento. Eu sei que isto parece estranho e de algum modo impossível, mas mais para o fim da história há um exemplo muito bom. Aceitem agora, só por momentos, a possibilidade de, à medida que vivemos as nossas vidas, termos a capacidade de mudar a nossa experiência de vida. Muito disso tem a ver com aquilo em que acreditamos plenamente. Por exemplo, Danny ganhar a lotaria desportiva. Pode estar ou não na experiência de vida dele tal como está organizada neste preciso momento, mas se ele acreditar que é possível, abre uma nova probabilidade e é capaz de jogar na lotaria desportiva da maneira que lhe ensinei, e ganhar.

- O que é que isso tem a ver com essa mulher?

- Quando Sneaky me disse isso a primeira vez eu ignorei-o. Mais tarde comecei a pensar no assunto e de certo modo comecei também a acreditar nisso por várias razões, talvez porque eu queria. Comecei a procurar à minha volta em diferentes probabilidades e encontrei-a. Depois encontrei-a aqui na probabilidade física, ou na experiência física em que eu estou presentemente. E na verdade ela está muito mais perto do que eu esperava. Mas há ainda muitas questões sem resposta. Para a encontrar em primeiro lugar, em vez de viajar ao futuro, viajei nas realidades presentes e presentes prováveis, mas isso explico mais tarde. Caminhei para trás diversas vezes. Às vezes ela parecia estar lá, outras vezes não. Estaria mesmo lá, ou foi colocada lá nesta probabilidade depois de Sneaky fazer a sugestão e eu aceitar acreditar? É isto exactamente o que origina as experiências físicas que nós experimentamos. As crenças estão directamente ligadas à nossa experiência física.

Neena abanava a cabeça quando Danny disse: - Isso é confuso como o diabo, mas eu ainda não vejo como é que isso tem alguma coisa a ver se tu vais mesmo falar com ela.

- É complicado. – Acenei com a cabeça. – Quando Sneaky fez essa sugestão, não significa que era essa a realidade na altura. Ele pode apenas ter-me acenado com essa realidade. Só por se ter tornado uma parte da minha realidade ou experiência física não significa que seja parte da dela.

Neena passou a mão pelo queixo. – Deves ter razão! Duas pessoas teimosas e de cabeça dura no mesmo espaço e ao mesmo tempo podiam causar complicações. Principalmente se ela é uma criança tão grande como tu.

- Então como é que conseguiste encontrá-la na vida real? – perguntou Danny.

- Na verdade já a conheço há mais de vinte anos. O problema é que as informações que tenho são contraditórias. Isto podia ser apenas a maneira sinuosa dele de me levar a passar mais tempo a estudar o tempo e eventos prováveis.

- Só de pensar nisto estou a ficar com dor de cabeça. Posso beber outro uísque? - perguntei.

- Claro, não há problema. – Danny riu-se consigo mesmo.


Uma Batalha – Batalhas demais

Tenho sido um guerreiro

Tanto quanto a minha memória alcança.

Defendi o meu terreno,

Combati o universo, Deus, o país

E os dragões interiores.

Sou tão bom

Que por vezes até me excluí a mim mesmo

E no momento em que o último guerreiro em mim

Com lágrimas nos olhos

Depõe a sua espada

Eu pergunto: e agora?

 

 

Capítulo Vinte e Um

“Na manhã seguinte acordei bem disposto. Ganhar em sonhos inclina-me de manhã para uma disposição mais receptiva. Ainda deitado, estava a pensar no que havia de fazer naquele dia quando reparei numa luz suave que vinha da entrada. Tive esperança de que fosse o Sol a levantar-se, mas vi pela janela que estava o tempo enevoado. Às vezes sabemos que vai ser um dia longo só pela maneira como começa.

“Deslizei para fora da cama e cambaleei pelo corredor fora. Sneaky estava à minha espera na cozinha.

- Dormiste bem? – perguntou.

- Sim, acho que sim. – Esfreguei os olhos.

- Talvez queiras dizer isso ao teu rosto, que não parece muito convencido.

- Muito engraçado! – Abri o frigorífico para ver se ainda havia ovos.

- Então por onde é que queres começar hoje? – perguntou ele.

- Quero começar pelo pequeno-almoço, é isso, portanto põe-te a mexer. Preciso de tempo para regressar ao mundo.

- Oh, diacho! Falar contigo de manhã não é pêra doce!ae aaaaaaaaeeee Não respondi. Por essa altura Rudy entrou pela sua portinhola própria e sentaram-se os dois na cozinha, cada um metido consigo mesmo, enquanto eu acabava de preparar o meu pequeno-almoço. Pus a minha torrada no prato, pus o prato em cima da mesa e dei a Rudy a habitual meia fatia de torrada. Não é que ele coma o pão, pois limita-se a lamber a manteiga. Rudy levou a sua torrada para fora da cozinha e eu sentei-me à mesa a tomar o pequeno-almoço. Sneaky ficou ali especado a olhar para mim. Finalmente quebrei o silêncio.

- Bom, era melhor que falasses do que estares para aí a escavar buracos nos meus ovos com o teu olhar – disse eu.

- Estava só a pensar se não irias pôr na tua comida um pouco de Amor – disse ele com um meio sorriso.

“Pousei o garfo e revirei os olhos. – Mas onde é que tu queres chegar? Vou comê-los de qualquer maneira e está tudo dito. Aliás não faço a mínima ideia do que estás a falar.

- Quando envias Amor aos teus alimentos, quando estás a prepará-los ou mesmo antes de comê-los, o Amor é absorvido por eles e modifica-os de várias maneiras, aumentando-lhes a energia vital e até melhorando o sabor. As células do teu corpo têm capacidade para absorver este Amor, e os alimentos cheios de amor possuem muitas virtudes curativas. Vais achá-los mais fáceis de digerir, dar-te-ão mais energia e tranquilidade, mas acima de tudo estás a acrescentar Amor directamente ao teu corpo físico.

“Ocorreu-me um pensamento mais ou menos ao mesmo tempo que ele dizia isto. E se ele tivesse alguma coisa a ver com o facto de eu estar a sentir dificuldade em obter os resultados correctos dos jogos e por conseguinte a não me sair muito bem com o que ganhava com a lotaria desportiva? À cautela, talvez fosse melhor eu fingir-me interessado.

- Não faço ideia como é que hei-de proceder – respondi. – Nunca li nada sobre isso nem ouvi ninguém falar em enviar Amor para os alimentos.

- Isso é porque as pessoas ainda não estão cientes do poder do Amor e de como pode ser utilizado. O Amor é uma das coisas mais poderosas do universo. Concordas com isto?

Acenei que sim e disse: - Acho que sim, mas isso não ajuda nada porque seja quem for ou o que for que controla e dirige o Amor não parece andar por aí.

- Mas tu andas por aí; na verdade, vários biliões de “tus”. As pessoas têm a capacidade de enviar Amor, quantidades maciças de Amor, para o que quer que seja e para onde quer que seja. Pensa nas possibilidades! Vamos começar pelos teus ovos.

- Escuta lá, eu quero apenas tomar o meu pequeno-almoço, portanto o que tu queres que eu faça, seja lá o que for, diz-me simplesmente e vamos acabar com isto. – Começava a ficar um bocado irritado.

- Agora é que estamos a chegar à parte interessante – disse Neena.

- Concordo. É disto que trata a história toda, mas ainda há melhor.

- Pode-se usar o Amor para a lotaria? – Danny abriu-se num sorriso largo.

- Provavelmente, mas não tenho bem a certeza. Sei que o podes usar para ganhar dinheiro, mas mais tarde explico.

- Então o que aconteceu a seguir? – perguntou Neena.

Fecha os olhos e usa a imaginação para seguires as minhas indicações – disse Sneaky. – Não é importante teres os olhos fechados, mas vai ser mais fácil para ti até teres a percepção da coisa.

“Fechei os olhos, relaxei-me e segui as instruções dele.

- Imagina que há um clarão no teu peito, junto do coração, e imagina que ele se torna cada vez mais brilhante, irradiando Amor. Respira lenta e profundamente, enchendo bem os pulmões. A respiração é importante. Deixa agora estabilizar o clarão, tal como a luz duma vela, só que muito maior. Deixa-o tornar-se mais radiante e começar a envolver o teu corpo todo. Aí está. A sensação que estás a receber no peito está certa, é o teu coração a abrir-se. Agora imagina que envias um raio de Amor dessa zona brilhante para os alimentos no teu prato. Óptimo. Quando sentires que é suficiente, pára, abre os olhos e volta ao momento presente. Ora aí está.

“Abri os olhos e disse: - Foi fácil. Tens a certeza que isto faz alguma diferença?

- Mais do que imaginas, meu amigo. Um dia haverá restaurantes e cafés especializados em alimentos cheios de Amor. O alimento cheio de Amor fará mais por ti do que qualquer alimento que agora consideres comida saudável.

Eu tinha recomeçado a comer enquanto Sneaky continuava a tagarelar.

- Hei! Isto parece que sabe melhor! É quase como se tivesse mais sabor. Tens a certeza que não é a minha imaginação?

- Absolutamente! Quando os cientistas descobrirem que o Amor tem uma forma física e que tem mesmo uma partícula que existe em toda a parte ao mesmo tempo, não levarão muito tempo a descobrir que a quantidade de Amor nos alimentos está directamente ligada à energia vital do Amor e às suas propriedades de cura e nutrição da vida. E isto é apenas a ponta do “iceberg”.

- Interessante – disse eu.

- E se fizeres a mesma coisa com os alimentos antes de os guardares, verás que se aguentam muito mais tempo.

Quando levantei os olhos do prato já ele se tinha ido. Lavei a louça e sentei-me na sala na minha cadeira favorita.

- Vou ter de experimentar isso. – Neena olhou para Danny. – Arranjas-me, por favor, um copo pequeno de sumo de laranja?

- Boa ideia. – Danny arranjou-lhe o sumo.

- Ora bem, vamos lá ver. – Neena provou o sumo de laranja e fechou os olhos. Danny e eu antecipávamos a cena. Fumei um cigarro enquanto Neena enviava Amor para o seu copo. Abriu os olhos e bebeu um gole de sumo, e outro ainda antes de pousar o copo.

- Sabem que mais? Acho que funciona! Parece saber mais a laranja, mais como se a laranja fosse acabada de espremer.

- Sem dúvida que faz uma diferença – disse eu. – Fiz experiências durante os últimos dois anos e obtive resultados interessantes. Vou dar-vos alguns exemplos. No dia a seguir àquele em que Sneaky me falou disto eu ia a uma festa de despedida de um amigo. Cada pessoa tinha de levar qualquer coisa de comer e eu decidi tentar uma pequena experiência. Na manhã seguinte fui à padaria e comprei uns bolos. Pu-los em dois pratos idênticos. Marquei o fundo de um deles com uma caneta de feltro e passei 15 ou 20 minutos a enviar Amor aos bolinhos desse prato. Pensei que se só um bocadinho já era bom, se enviasse muito melhor seria, o que nem sempre é verdade tratando-se de Amor. Levei ambos os pratos para a festa e coloquei-os numa mesa um ao lado do outro. Quando se começou a comer os bolos, as pessoas foram primeiro àqueles a que eu tinha enviado Amor! Duas pessoas dirigiram-se ao outro prato mas passaram para aquele a que eu tinha enviado Amor. Comeram-se os bolos todos porque eram muito bons, mas aqueles a que eu tinha enviado Amor acabaram-se muito antes de começarem a comer os do outro prato.

- Muito interessante, realmente. Experimentaste mais alguma coisa? – perguntou Neena.

“Ao longo dos anos tenho feito uma série de experiências como esta em diversas festas. Os resultados são sempre iguais. Mesmo que eu não leve comida, reparei que no momento em que eu pego numa coisa e lhe envio Amor, parece que as pessoas a procuram de imediato sem sequer se aperceberem do que se passa. Às vezes, quando vou a um restaurante, não espero que a comida me chegue à mesa para lhe enviar Amor. Faço isso logo que escolho a refeição. Também envio Amor à cozinheira e ao cozinheiro. Isto faz realmente uma grande diferença. Muitas vezes recebo um enorme prato de comida… Mesmo que outras pessoas mandem vir o mesmo, recebem uma pequena quantidade, enquanto o meu prato vem literalmente a transbordar. Muitas vezes sou atendido mais rapidamente, e por vezes antes de outras pessoas que chegaram primeiro. Toda a espécie de coisas interessantes acontecem de cada vez. Se não envio Amor, tudo segue basicamente o seu curso normal e muitas vezes é menos que satisfatório, mesmo tendo em conta que não sou muito exigente. Uma vez que começamos a presenciar estes pequenos milagres e nos habituamos a eles, parece que sentimos a sua falta quando não acontecem. Quando não envio Amor, parece que tudo sabe como se faltasse qualquer coisa. Vocês têm de experimentar isto. Não exige muito esforço.

- Que acontece se eu enviar Amor aos alimentos antes de os servir a outra pessoa? - perguntou Danny.

- Uma boa pergunta. O que se passa com o Amor é imprevisível. Nunca sabemos exactamente quais vão ser os resultados. Por isso tens de experimentar tu mesmo e ver os resultados. Mas posso dizer-te que vais ficar agradavelmente surpreendido e provavelmente vais arranjar clientes…

- Posso fazer isso com as bebidas? – perguntou Danny.

- Claro que podes, e deves! Espero bem que sim, a partir de agora.


Amor

Com grande ligeireza ela disse: sou capaz de me apaixonar facilmente por ti

Eu disse: obrigado, mas vais amar todas as partes de mim?

Que queres dizer?, perguntou ela

Se abrires o teu coração a tudo o que existe, à totalidade da vida,

A todas as experiências, todas as pessoas e a ti mesma

Então estarás verdadeiramente apaixonada.

E independentemente do que eu tenha feito ou não tenha

Do que eu venha ou não venha a fazer, do que eu seja ou não seja,

O teu coração ficará sempre aberto

E talvez com o tempo o meu coração aprenda a fazer o mesmo.

Ouvindo isto ela afastou-se, jurando jamais voltar

Mas eu vejo diferente,

Pois o Amor tem um parceiro espiritual chamado Confiança

E por vezes eles parecem estar separados

Mas isso é apenas uma ilusão

Pois eles são inseparáveis.

 

Capítulo Vinte e Dois

“Sneaky não apareceu pelo menos durante quatro ou cinco dias, o que me deu oportunidade de voltar às apostas e à minha rotina diária. Passados alguns dias sentia-me bastante frustrado. Aquilo exigia-me imenso tempo e esforço e não estava a conseguir os resultados que desejava ou que obtinha dantes. Embora saiba hoje qual era o problema, naquela altura não fazia a mínima ideia. Os problemas não são difíceis de resolver se nós soubermos as causas deles, mas se não as vemos, mesmo que estejam mesmo em frente do nariz, é como se estivéssemos de mãos atadas.

“Esqueci-me de contar uma coisa. Antes de Sneaky desaparecer quando eu estava a tomar o pequeno-almoço, ele disse que eu devia arranjar “cassettes” virgens para gravar certas coisas que ele ia ensinar-me acerca do Amor e das diversas coisas que uma pessoa pode fazer com o Amor. Presumi que se tratava de uma espécie de exercício de visualização. Estava sentado na minha cadeira a tentar descobrir como resolver o problema com as minhas apostas quando me ocorreu uma ideia. E quanto mais pensava nela, melhor me parecia e mais me agradava. O que decidi foi gravar uma visualização que me orientasse numa jornada ao futuro. Pensei que isto iria ajudar a minha mente a concentrar-se no que eu queria realizar, e ao mesmo tempo libertava-me da pressão. Pensei nisso toda a noite, desenvolvi os pormenores e passei a escrito os passos todos da jornada. Na manhã seguinte levantei-me cedo e corri à biblioteca alugar uma “cassette” com efeitos, pois decidira tornar aquilo tão real quanto possível. Finalmente terminei aquele trabalho por essas duas ou três da tarde. Rudy deambulava por ali, por isso achei por bem levá-lo a dar uma volta antes de pôr em prática a minha ideia. É muito mais fácil uma pessoa relaxar-se depois de ter caminhado um pouco ou feito algum exercício.

- O que foi que gravaste na fita?

“Muito simples. Comecei por pôr um pouco de música no princípio, uns cinco minutos, só para relaxar. Depois gravei a visualização: estava numa estação de caminho de ferro à espera de comboio. Descrevi como era a estação. Gravei alguns sons que se ouvem quando se está numa estação, como pessoas a conversar, passos, etc. Depois o comboio chegava e ouvia-se o efeito de um comboio a chegar à estação e a parar. Era o meu comboio privativo, e quando entrei e me sentei veio o maquinista ter comigo e perguntar-me para onde queria ir. Eu dizia ao maquinista que queria ir ao dia seguinte e parava na loja da esquina para descer do comboio e ir comprar um jornal. Tinha todos os sons na sequência devida, o comboio a sair da estação, a ganhar velocidade e a viajar normalmente. Até utilizei um copo para fazer com que a minha voz soasse como a do maquinista do comboio. O comboio andava uns dez minutos e depois parava. Eu saía do comboio e dirigia-me à banca dos jornais e comprava o jornal do dia seguinte. Em seguida voltava ao comboio e nos dez minutos do percurso de regresso via no jornal os resultados dos jogos. Todo o processo demorava aproximadamente 35 minutos. Pensei que assim seria muito mais divertido do que tentar concentrar-me e meditar duas ou três horas duma vez.

- E isso funcionou? – Danny levantou os olhos das suas notas.

“Já lá chegamos. Depois de Rudy e eu voltarmos do passeio no parque, fui para o meu quarto experimentar a nova gravação. Tinha colocado os auscultadores nos tampões dos ouvidos que usava para não ouvir o ruído exterior. Pus o volume muito baixo de maneira que mal ouvia as palavras e os sons, a fim de não me distrair.

Tudo funcionava perfeitamente. Entrei no comboio e viajei ao futuro. Quando o comboio parou, desci, comprei o jornal e voltei para o comboio. Sentei-me, procurei a secção dos desportos e comecei a ler os resultados. Não foi perfeito. Era tudo um pouco enevoado, mas ainda assim consegui apurar alguns resultados. Fiquei satisfeito porque pensei que a coisa melhorava se eu praticasse algumas vezes. Enquanto via os resultados e aguardava a partida do comboio, ouvi o maquinista gritar: para bordo! Pensei para comigo: espera aí, não foi isso que eu gravei. Ele devia ter dito todos a bordo. A seguir pareceu-me ouvir passos. Mas que diabo é isto? – perguntei a mim mesmo. E então vi-o, dirigindo-se para onde eu estava sentado. Sentou-se mesmo à minha frente com um sorriso muito malicioso.

- Hei! Isto é o meu comboio privativo. Que diabo estás aqui a fazer? – disse eu. Tentei apagá-lo da cena mas a minha imaginação não colaborava. Ele começava mesmo a irritar-me.

- A tentar apagar o teu convidado? Não é uma atitude muito amável! Não há dúvida que tens de facto um problema de atitude – disse ele.

- Isto é muito estranho – disse eu. – Como é que podes ver-me? Como é que eu posso ver-te? Isto não deve ser real. Que é que queres? – Eu sentia o coração bater mais depressa.

- Respondendo à tua primeira pergunta, estás num estado de consciência mais elevado, e neste estado a tua imaginação é muito mais real do que pensas. Na verdade estás muito mais próximo do teu eu real do que normalmente, naquilo a que chamas a tua realidade física. Quanto à segunda pergunta, vamos numa curta viagem em que vais ser capaz de ver as coisas como elas são e de ver até a maneira como queres fazê-las.

- Sabes, a minha vida estava a correr muito bem até ao momento em que tu apareceste – respondi. - E que queres dizer com “a maneira como eu quero fazer as coisas”?

- Nada começou – disse ele – e nada se acabou. Mas eu explico isto mais tarde. No estado em que estás agora, podes fazer coisas e ver coisas que normalmente pareceriam impossíveis. Pensei em entrar neste jogo, julgando que esta informação podia vir a revelar-se útil.

- Então o que é que eu posso fazer exactamente neste pseudo-estado? – perguntei.

- Nesse teu estado de consciência actual estás ligado com a parte mais ampla de ti mesmo. Esta parte não é limitada pelos teus pensamentos conscientes do que podes ou não podes fazer. Podes usar a tua imaginação para te ligares ao teu eu superior e à sua capacidade para fazer qualquer coisa que tu queiras e criar a vida que desejas. Uma vez que compreendas o processo, serás capaz de fazer isso mesmo no teu estado de vigília normal.

“Senti e ouvi o comboio a abrandar. Estava quase a parar quando Sneaky disse: - A demonstração vai começar já. Desce agora do comboio.

“No momento em que ele disse isto já eu estava fora do comboio. Não estava em casa; estava junto de uma pequena lagoa. Reconheci-a imediatamente. Quando era miúdo esta lagoa era enorme, ou pelo menos era assim que eu a via então. Era um dos meus lugares favoritos. Quase ninguém lá passava. Algumas pessoas tinham-me dito que estava assombrada e vivia lá um monstro. Nenhum outro miúdo lá ia, mesmo quando andavam atrás de mim. Ali estava eu sempre seguro. Era também o sítio onde encontrei o Sneaky a primeira vez, ou pelo menos é essa a memória que tenho agora.

Olhei para Neena e Danny. – Lembrem-se desta frase: é essa a memória que tenho agora. Isto é realmente importante para o resto da história.

Admirados, acenaram que sim com a cabeça.

“Ali estava eu a recordar os duelos à espada que tinha tido com Sneaky. Vi então uma criancinha aproximar-se, brandindo furiosamente um pau como se fosse uma espada. Pela vaca sagrada, pensei, aquilo sou eu! Tão pequeno! Por alguma razão nunca pensei que já tinha sido tão pequeno. Vi-me aos saltos brandindo uma espada de pau contra uma árvore após outra, cheio de vitalidade. Ele dirigiu-se a mim, apontou-me o pau dele e disse: - Então onde é que tens estado? Andei à tua procura o dia inteiro.

Não sabia como reagir nem que dizer. Fiquei a olhar. Tudo nele anunciava complicações, embora parecesse radiante. Ouvi então Sneaky dizer: - Ele vê-te como tu me vês a mim. Diverte-te.

- Porque é que estás aí como um idiota? Rende-te ou luta, meu cobardola! – disse ele, agitando o irritante pau junto da minha cara.

- Se o que tu queres é luta, pois vais tê-la - disse eu, virando-me para evitar as estocadas agressivas. Arranquei um ramo duma árvore próxima e a luta começou. Lutámos por entre as árvores, pelas rochas, atrás dos arbustos, e depois de sabe-se lá quanto tempo acabámos por nos sentarmos em cima dumas rochas. Eu nem estava bem certo de quando a luta tinha terminado, mas também não interessava. Tudo o que interessava era estar vivo e bem disposto.

“Ele olhou para mim: - Porque é que as pessoas são tão estúpidas?

- Andam outra vez a chamar-te estúpido? - perguntei.

- Sim – disse ele, com uma expressão mais triste.

“Eu estava a pensar no que havia de dizer quando os meus lábios começaram a mover-se. Era como se estivesse ao mesmo tempo a falar comigo e a ouvir-me.

- Elas não são verdadeiramente estúpidas. Procedem assim porque têm medo.

- Medo de quê?

- Medo de tudo. Medo de não serem amadas, medo de terem demasiado Amor, medo de morrer, de viver, de não terem o suficiente para comer, medo de que os outros lhes façam mal ou lhes roubem o que têm.

“As palavras saíam-me da boca e eu escutava-as da mesma maneira que ele.

- Elas até têm medo daquilo que não têm, medo de que as outras sejam melhores, medo de ficarem sós, de estarem com outras pessoas, de fazerem troça delas, de não serem apreciadas ou aceites, medo de que alguma coisa corra mal, e às vezes até têm medo quando as coisas correm bem. Têm medo daqueles que não têm tanto medo e, acima de tudo, medo umas das outras.

- E então? – perguntou ele com ar perplexo.

- O medo pode levar-te a fazer coisas muito pouco amistosas. Até pode enlouquecer as pessoas. Extrai da vida todo o Amor e deixa as pessoas com uma irritação que se pode transformar em ódio. Tudo resulta de uma falta de Amor. O Amor é o alimento do universo e de tudo o que está nele. Sem Amor é o caos, o ódio, a cólera e o medo. Onde há Amor há paz, alegria, satisfação, confiança e abundância. É por isso que as coisas são como são; é apenas uma questão de não haver Amor bastante.

- Então onde está todo esse Amor e porque é que ninguém sabe como se divertir?

- As pessoas sabem como se divertir, o que têm é medo e não acreditam que podem divertir-se e ao mesmo tempo sobreviver. Pensam que o trabalho tem de ser duro e competitivo num regime de ganhar ou perder. No que diz respeito ao Amor. Está dentro de nós e de todas as coisas, à espera de ser libertado.

- As pessoas pensam que sabem tudo, não é? Deviam brincar e divertir-se como nós, e toda a gente seria feliz.

- Esqueceram o verdadeiro Amor, e um dia também tu vais esquecê-lo.

Olhei para Neena e para Danny: - O mais estranho é que eu lembro-me de ter esta conversa com Sneaky quando era miúdo, mas ao mesmo tempo sei que estava a conversar comigo mesmo, só que desta vez eu sou o anjo. E se isto não vos convence em relação à realidade do tempo, então não sei o que será preciso.

Eles acenaram que sim com a cabeça.

“Ele pôs-se de pé de um salto e começou a agitar a espada no ar furiosamente, gritando: - Não, nunca! Façam eles o que fizerem, eu vou lutar!

“Estive quase para dizer quanto mais lutares mais te transformarás nisso, mas não tenho a certeza se as palavras me saíram dos lábios porque com grande sobressalto achei-me de volta ao meu quarto. Tonto e ainda em choque, ouvi alguém chamar pelo meu nome. Era o meu amigo Jeff. Ouvi-o na cozinha. Levantei-me e encontrei-o a meio caminho da entrada. Ainda não estava totalmente refeito e esfregava os olhos.

- Que diabo é que estás a fazer? Outra vez a dormir? – perguntou ele.

- Sim, estava a passar pelas brasas.

- A meio do dia, e a dormir… - Jeff dirigiu-se à sala abanando a cabeça e plantou-se no sofá.

- Estava a trabalhar nas apostas e adormeci. Tive um sonho esquisito. Vejo que trouxeste cerveja. – Sentei-me, ainda a tentar orientar-me.

- Vou pô-la no frigorífico. – Levou a cerveja para a cozinha. – Estás feito em merda. Parece que viste um fantasma.

“Ele voltou à sala e estendeu-me uma cerveja. – Não chegas a lado nenhum, pá. Era melhor parares com isso da viagem no tempo. - Limitei-me a rir com ele, pensando: se tu soubesses!

- Continuas a fazer isso e ainda acabas a organizar corridas de cavalos no teu próprio quarto aquecido e alcatifado… - Ele riu.

- Pois… e tu vais apostar dinheiro neles!

- Enquanto fores acertando.

- Então e a minha parte nos lucros?

- Oh, eu guardo-a para ti, não te preocupes – fez um riso sardónico.

“Passámos as quatro ou cinco horas seguintes a beber e a discutir se é possível predizer o futuro. O argumento dele era que o futuro ainda não decorreu e portanto é imprevisível. O meu argumento é que o futuro, o presente e o passado são um só e o tempo é uma ilusão; por isso o futuro pode não só ser calculado e previsto como também ser criado. Se ele não fosse tão teimoso e duro de cabeça, seria capaz de compreender isso. Claro que ele pensa que o cabeça dura sou eu. Diz que o que eu tenho é sorte. Eu digo que sorte é coisa que não existe. Ele pensa que o universo é fortuito. Eu digo que não há nada de fortuito no universo. Ele pensa que eu tenho a cabeça cheia de merda. Bom, adivinhem o que eu penso… E assim por diante… enquanto há jogadores, o jogo prossegue.


Pormenores

Variações mil

É o que se diz

Há só dois tipos de acções

Uma acção de Amor

Ou

Um grito por mais Amor

Mas variações

Serão milhares

 

Capítulo Vinte e Três

Tirei o último cigarro do meu último maço.

- Era melhor que tivesses alguns cigarros atrás do balcão, ou esta história acaba-se, o que é pena porque está a começar a aquecer.

- Não tenho nenhuns – disse Danny quando eu acendia o cigarro. Neena abriu a bolsa, que estava pousada no balcão à sua esquerda. Observei-a a enfiar a mão direita na bolsa e a tirar um maço de cigarros intacto. Quando o colocou na minha frente vi que era da minha marca. Danny franziu o sobrolho.

- Ora aí está o meu tipo de mulher: doce, atraente, carinhosa, misteriosa e acima de tudo útil – disse eu.

- Danny, talvez queiras tomar notas de agora em diante, porque o que vais aprender com o resto da história vai fazer-te esquecer tudo acerca da lotaria. És solteiro?

Ele lançou-me um olhar perplexo. – Sou.

- Não vais ficar solteiro muito mais tempo. Assustado ainda?

- E se eu não tomar notas? – perguntou ele.

- Faz como entenderes – respondi. – Mas lembra-te que te avisei, porque não vou repetir o aviso.

“No dia seguinte dei umas voltas e fui à biblioteca buscar livros e “cassettes” sobre o Amor. Queria ver se era capaz de encontrar alguma coisa sobre enviar Amor. De certo modo isto estava a tornar-se estimulante, principalmente porque agora tinha a certeza que podia continuar a ganhar sem ter de voltar a trabalhar numa coisa que não desejava. Não me desagradava trabalhar; só que nunca me parecia muito compensador. Sentia-me bem vivo, sentia que ainda tinha a vida toda pela frente para descobrir o que me traria felicidade. Quando chegou a noite já tinha ouvido umas quantas gravações e lido um pouco. Comecei a pensar na viagem de comboio que tinha feito na véspera. Lembrava-me agora muito claramente da cena da minha infância. Lembrava-me de Sneaky me ter dito que eu ia acabar por me tornar tudo aquilo que detestava nas outras pessoas. Lembrava-me também de ele me dizer que iria esquecê-lo e a tudo o que ele me tinha mostrado, e que ia passar uma grande parte da minha vida buscando o Amor no exterior, e ia esquecer que o Amor vem do interior. Ele tinha-me dito também que eu ia viver a vida com muito pouco Amor e que um dia isto seria uma lição muito valiosa. De certo modo tudo aquilo fazia sentido, mas enquanto não surgiam muitas respostas ia acumulando um monte de dúvidas. Resolvi anotar todas as questões para poder moer o juízo a Sneaky quando ele voltasse. Escrevi cerca de três páginas, e quanto mais escrevia, mais constatava que não tinha pista nenhuma sobre o que estava a acontecer. Pelas onze horas estava exausto e arrastei-me para a cama.

Parei por momentos para abrir o novo maço de cigarros que Neena me deu.

- Então o que é que devo escrever nas minhas notas? – perguntou Danny, de caneta na mão.

- Só aquilo que estiver relacionado com o enviar Amor. Já lá voltamos.

- Descontrai-te, Danny. Deixa-o contar a história tal como ela aconteceu – disse Neena com uma gargalhada.

“Na manhã seguinte acordei no meio de um sonho. Sonhava que um palhaço estava a sacudir a minha cama, e quando abri os olhos lá estava Sneaky aos pés da cama. Olhei para o relógio com olhos de carneiro mal morto. Eram 11.30. Encarei Sneaky e perguntei-lhe se me tinha despertado.

- A minha intenção foi apenas avisar-te que Rudy foi a correr atrás de um gato.

“Voltei-me para o outro lado e fechei os olhos para retomar o sono. Estava mesmo a pegar no sono quando ouvi Sneaky dizer: - Ele não parou na vedação. Neste preciso momento vai a correr pela rua abaixo.

“Saltei da cama e comecei a vestir-me. – Oh, pá, porque é que não o impediste? Não arranjo os duzentos dólares para o resgatar se ele for apanhado.

- Podias chamá-lo de volta com Amor em vez de andares por aí à procura dele – disse Sneaky.

- Por que não me dizes simplesmente onde é que ele está? – Eu estava a começar a ficar um tanto mal humorado.

- Por que não te limitas a enviar Amor e ver o que acontece? Além disso não sou o teu anjo guardião. Não é essa a minha função.

- Para um anjo tens um verdadeiro problema de atitude. E se não és o meu anjo guardião, então que raio és tu?

- Não é que de manhã acordamos sempre um bocado irritados?

- Vais-me ajudar ou não?

- Por que não usas a tua visualização do comboio para o procurares e lhe dizeres que volte para casa? Não te esqueças de enviar Amor.

“Parei por um momento para arrumar os pensamentos. – Tens a certeza que isso vai funcionar? – perguntei de dedo em riste. – Será bom que isso não faça parte do teu retorcido senso de humor.

- Experimenta só. O que é que tens a perder? Eu vou-te dando instruções. É tão fácil como respirar.

“Passei para a sala de estar e deitei-me no sofá, pensando com os meus botões que seria bom que aquilo resultasse.

- Estou pronto – disse eu – . Mas se ele não voltar dentro de quinze minutos vou à procura dele.

“Escutei as instruções dele e segui-as rigorosamente. Em dado momento devo ter adormecido outra vez, porque quando acordei Rudy estava ali a lamber-me o rosto de cauda a abanar. Não tenho a certeza quanto tempo passou até ele chegar a casa, mas o certo é que resultou. Enquanto eu seguia as instruções de Sneaky, disse ao Rudy que se ele viesse para casa ia dar um passeio com ele. Assim, comi qualquer coisa, tomei um banho e pouco depois saí com Rudy para um passeio.

“Enquanto Rudy andava a brincar no parque com outros cães, pensei no Amor e donde virá este Amor. Se vem de mim, porque é que Sneaky diria que eu no passado definhava por falta de Amor, e que esta falta de Amor me causava toda este sofrimento interior? Quanto mais pensava naquilo, mais confuso aquilo se tornava. A única conclusão a que cheguei foi que talvez haja uma quantidade massiva de Amor no interior de todos nós, mas que está encerrado num pacote que precisamos de abrir para o libertar. De certo modo isso fazia sentido. Enquanto reflectia em tudo isto reparei que já não me sentia triste nem sentia nenhuma dor interior. E é por isso que ultimamente me tenho sentido tão em paz, embora financeiramente eu devesse andar com os nervos num molho de bróculos. Não estou bem certo de quando esta mudança se operou. É como andar sempre com enxaqueca e um belo dia ela desaparecer. Habituamo-nos a ela de tal maneira que se calhar nem damos pelo seu desaparecimento. Cheguei à conclusão de que talvez não tivesse dado pela mudança por ter acontecido tanta coisa nos últimos tempos. A outra coisa em que pensei no parque foi que Sneaky tinha dito que não era o meu anjo guardião. Portanto a questão é: o que é ele? De cada vez que o vejo ou penso nele, os meus instintos não param de me dizer que há qualquer coisa que não joga bem. Não era capaz de pôr o dedo na ferida, mas sabia que não estava a ver as coisas tal como elas são na realidade.

- Assim, a única questão que agora resta é: queres as instruções, Danny? – Fiquei aguardando a resposta dele.

Neena acenou com a cabeça.

Danny encolheu os ombros. – Não tenho cão.

- A questão não é essa. Podes usar isto para uma série de coisas diferentes. Talvez um dia andes à procura de alguém. Talvez um dia andes à procura da tua filha ou do teu filho. Ou podes ter um desaguisado com alguém e podes usar isto para ires ter com a pessoa e esclarecer a questão. São infinitas as coisas que podes fazer com isto. Tudo quanto precisas é usar a tua imaginação. Até achei alguns objectos perdidos usando este método.

Danny ficou a pensar. Neena disse: - E da próxima vez que andares à procura de emprego? Podias usar isto para travar conhecimento com a pessoa que te entrevistar.

- Já fiz isso – disse eu – e funciona como um feitiço. No momento em que inicias a entrevista é como se já se conhecessem antes. E o curioso é que a outra pessoa sente o mesmo. Mas há um inconveniente. Tudo o que disseres quando te encontras com a pessoa neste estado de espírito tem de ser totalmente honesto, porque podes mentir com os lábios mas não podes mentir com o espírito. Se não estiveres a dizer a verdade, nota-se sempre, e isso vira-se contra ti. Já fui nisso, já o fiz, não resultou.

“Há um outro pequeno inconveniente. Uma pessoa que eu conheço usava isto para visitar o namorado, que estava fora do país. Infelizmente ela estava tão convencida de que ele andava a enganá-la que depois de o visitar umas vezes acabou mesmo por vê-lo com outra pessoa. Imediatamente a seguir telefonou-lhe e, afinal, encontrou-o no local de trabalho… Como se descobriu, a suposição dela não correspondia à verdade.

“É necessário deixar correr o que se vai ver, de modo a não se usar a própria imaginação para forjar uma coisa que não é real. Depois daquilo, correu tudo tão bem que ele telefonou-lhe uma série de vezes pouco depois de ela o ter visitado, para lhe dizer que tinha sentido a presença dela. Por fim aquilo passou a constituir para eles um verdadeiro divertimento e, pelo que ela me disse, aproximou-os e criou um laço íntimo que não existia antes, mesmo passando eles a maior parte do tempo separados.

- Então queres as instruções ou não? Decide-te que eu não tenho a noite toda – disse eu.

- Então por que não me perguntas a mim se quero ouvir as instruções? – perguntou Neena com um largo sorriso.

- Porque tu já sabes como se faz e eu pus a descoberto este pequeno jogo, portanto vamos continuar a jogar – respondi eu com uma ponta de orgulho.

- Se é esse o caso, dá as instruções e vamos continuar com a história, está bem?

“Bom, o importante é acharem um lugar sossegado e realmente confortável. Tratem de arranjar uns protectores de ouvidos daqueles que se usam na construção civil para não serem incomodados pelo ruído. Respirem lenta e profundamente e entrem num estado de relaxação profunda. Apliquem algum tempo nisto. Ao mesmo tempo focalizem a atenção a escutar o vosso eu interior, ou alma, ou Deus, aquilo que cada um escolher. Continuo a acreditar que esta é a maneira mais rápida de aquietar a mente, porque estão a colocar a vossa atenção a escutar algo que mal conseguem ouvir. Quando acharem que estão preparados, imaginem que estão a ficar mais leves, e ficando cada vez mais leves estão a elevar a vossa vibração. Como se fossem notas musicais cada vez mais agudas. Ponham uma bolha de luz ao vosso redor como se estivessem num balão e comecem a flutuar e a elevar-se. Fazendo isto, imaginem que vão a voar para onde quer que desejam. Isto leva só uns segundos. Tempo e distância não significam nada para a mente ou a consciência. Não se permitam visualizar a pessoa que pretendem, seja quem for, ou aquilo que querem ver, seja o que for. Não se preocupem com aquilo que vos rodeia, a não ser que isso seja importante para vocês. É importante enviar Amor e envolver em Amor quem ou o que estiverem a visitar. Podem também rodear-se a vós mesmos de Amor. Se quiserem comunicar com as pessoas, façam-no, mas de uma forma muito amorosa. Importante escutarem. Podem ou não ouvir mesmo palavras, e podem captar nos vossos pensamentos impressões daquilo que a outra pessoa poderá estar a dizer-vos. Sejam verdadeiros… digam a verdade. Façam o que fizerem, façam-no do coração, não do vosso ego. Se fizerem promessas, cumpram-nas. Quando terminarem, regressem lentamente. Antes de se levantarem, reflictam algum tempo no que disseram ou ouviram.

“Por exemplo, se falarem conscientemente com alguém, a pessoa pode não se aperceber – e é bastante provável que não se aperceba - mas vocês estão a falar a uma parte dela, e o seu subconsciente vai de certo modo fazer todos os esforços possíveis para passar a informação à mente consciente. Isso pode chegar-lhe pelos sentidos, pelos sentimentos ou pela intuição. Não devem ter receio de interferir com a privacidade da pessoa porque, em todas as fases da evolução de cada pessoa, essas áreas são orientadas e dirigidas pela parte maior de cada pessoa, dependendo da relação que vocês têm com essa pessoa. Divirtam-se, partilhem o Amor.

“Este exercício demora pelo menos vinte minutos. A princípio é provável que demore bastante mais por causa do tempo necessário para ficarem completamente relaxados. Relaxados - quero eu dizer que o vosso corpo deverá ficar adormecido ao ponto de já não o sentirem. É assim que deverão conseguir os melhores resultados.

“Mais tarde, depois de terem ganho alguma experiência, podem mudar de método e talvez utilizar um comboio imaginário que vos leve aonde querem chegar. Mas de princípio sugiro que usem a bolha de luz, a fim de não envolverem demasiado a vossa imaginação.

“E lembrem-se que não estarão sempre dentro da razão. Ninguém está.

- Então é isso? – perguntou Danny.

- Sim, é então que a fantasia se torna realidade.



Relações

Relações são assim

Como pegar um boi

Pelos cornos

Mas se houver Amor, confiança e intimidade

De ambos os lados

Talvez acabem simplesmente

Por se identificar

Oh, toda aquela agressividade

E a cabeça à roda…

Detesto isso, quando acontece.

As coisas que temos de fazer

Por um beijo nos lábios

 

Capítulo Vinte e Quatro

- Voltemos atrás, ao resto da história – disse eu.

“No caminho de regresso do parque, Rudy e eu parámos numa loja para comprar cigarros e apostas desportivas para esse dia. No caminho de regresso para casa reflecti sobre a minha situação financeira. Tinha dinheiro suficiente para comprar mercearias, gás e cigarros, mas de facto não chegava para pagar algumas contas. Por mais bem disposto que andasse, achei que se não arranjasse maneira de as liquidar, mais tarde ou mais cedo entraria em parafuso.

“Quando chegámos a casa resolvi fazer uma pequena alteração na minha gravação de visualização da viagem de comboio. Decidi que depois de tomar o comboio para o futuro e ler o jornal, ia continuar no comboio e ver para onde ele me levaria. A maioria das apostas não precisava de ser entregue antes das seis ou sete da noite, o que me dava bastante tempo. Depois de alterar a gravação, comi qualquer coisa e fui para o meu quarto. Tudo correu com tranquilidade e perfeição. Apeei-me do meu comboio imaginário, fui buscar o jornal, voltei ao comboio e abri o jornal para ver os resultados, enquanto esperava que o comboio prosseguisse. Consegui ver os resultados dos jogos perfeitamente. Fiquei admirado. Li o jornal inteiro como se o tivesse comprado na realidade. Ouvi o maquinista gritar todos a bordo e senti o comboio a começar a andar. Estava muito entusiasmado com a maneira como as coisas decorriam. Depois reparei que o comboio parecia rolar cada vez mais rapidamente. Espreitei para ver onde estava o maquinista mas não consegui vê-lo. Tentei fazer o comboio afrouxar mas sem êxito. Achei esquisito, devia ser a minha imaginação, por isso devia ser capaz de controlar aquilo. Ocorreu-me então que andava ali novamente a mão do Sneaky. Subitamente o comboio parou. O maquinista passou por mim e disse chegámos. Ao sair do comboio encontrei-me no que me parecia um pátio, como num templo. Era muito bonito. Todas as coisas pareciam feitas de cristais de pura luz. Tudo parecia resplandecer. Não se via o Sol, mas havia uma intensidade de luz incrível, muito brilhante mas que não encandeava. Ao mesmo tempo tudo parecia um tudo nada enevoado. Não tinha a certeza se era a luz que provocava este efeito ou se era eu que não estava a ver bem. Era muito como se fosse um sonho, mas a melhor maneira de descrever é que eu estava totalmente lúcido e conscientemente desperto. Compreendi a certa altura que o lugar estava cheio de Amor. Estava tão densamente cheio de Amor que eu sentia o Amor encher-me os pulmões ao respirar. Podia tocar-lhe, senti-lo na pele; era incrível. Como se alguém me tivesse ensopado em Amor líquido. Jamais sentira nada assim. Estava a armazenar este Amor dentro do meu corpo, e não se dêem ao trabalho de me pedir para explicar. Ali fiquei simplesmente a empurrá-lo para dentro do corpo e a encher-me mais e mais. Estava de tal modo empenhado em absorver todo o Amor que podia que não notei quando os seres me apareceram pela frente. Olhei para eles e por uma fracção de segundo senti-me um tanto culpado por ser SUCH A PIG. Mas a resposta deles foi enviarem-me mais Amor. Senti-me totalmente, absolutamente e inquestionavelmente amado por eles. Não os via muito distintamente, mas cheguei à conclusão de que um dos três era Sneaky. Reparei então que parecia haver mais por trás dos três. Tive a impressão que estavam a proteger-me do ser que estava por trás deles, porque ele parecia resplandecer tão intensamente como se estivesse quase em fogo. Olhei para o ser que pensei que era Sneaky e nesse preciso momento vi o rosto de Sneaky. No instante seguinte, um outro ser dirigiu-se para a minha frente, puxou do que parecia ser uma espada e enfiou-a no alto da minha cabeça até ao fundo da espinha. Não houve dor, e tudo aconteceu tão depressa que nem me mexi. Assim que ele me enfiou a espada, puxou por outra e enterrou-a na minha testa até sair pela nuca, e mais outra mesmo no centro do peito. Senti como se estivesse a abrir-me e mais Amor a entrar. Talvez por causa disso não reagi. Achei que estava tudo bem. Reparei que não se tratava de espadas mas de bastões de luz. Ali fiquei, deixando o Amor escorrer para dentro de mim. A seguir só me lembro de estar de volta ao meu quarto. A primeira coisa que fiz foi anotar as apostas que eu queria fazer. Olhei para o relógio e vi que só tinha dez minutos para as entregar, pelo que me apressei a ir à loja.

“Quando nessa noite vi os resultados dos jogos percebi que tinha ganho o suficiente para me aguentar à tona pelo menos mais umas semanitas. Mas não era assim tão importante, pois me sentia tão bem!

Parei por um momento. – Podia ficar aqui duas horas a tentar descrever quão fantasticamente me sentia, mas não há palavras para descrever a sensação de se estar cheio de Amor. Nem sequer saberia por onde começar.

- Uau! Então como é que eu lá chego? - perguntou Danny.

- Não é isso o que importa. Vou mostrar-te como é que tu mesmo podes fazer. Há um universo inteiro de Amor encerrado em cada um de nós, numa caixinha minúscula, e tudo quanto temos de fazer é abri-la. Deve ser um dos segredos mais bem guardados. É quase como se a humanidade tivesse sido desviada para não o descobrir. Não sei quem é ou o que é responsável por ocultar esta capacidade que nós temos, que devia ser nossa para a usarmos e partilharmos. Já alguma vez repararam, quando vêem um filme de terror, que de uma maneira ou doutra estão sempre a tentar convencer-nos que o Amor tem muito pouca força? Isto é tão ridículo que nem chega a ter graça. É como dizer a uma pessoa que o foguete que tem na mão só vai fazer um pequeno ruído. Mas deixem-me acabar o resto da história e já vão ver o que eu quero dizer.

Neena começou a esfregar-me as costas. – E que tal se nos fizesses um chá, Danny? Klaus está a ficar um pouco cansado.

- Nota-se muito? Bem, um chazinho vinha mesmo a calhar.

Dizem que o melhor caminho para chegar ao coração de um homem passa pelo estômago, o que é bem verdade, mas no meu caso uma boa esfregadela nas costas resulta dez vezes mais eficaz.

Amor Interior

Amor Interior

É uma experiência natural

Mas quando a cobrimos

De medo,

Cólera, desconfiança e vergonha

Procuramo-la

Nos outros

 

Capítulo Vinte Cinco

“Passou pelo menos uma semana até Sneaky voltar. Durante essa semana fiz várias apostas e várias viagens de comboio. Estava a conseguir resultados muito razoáveis, ainda que não tão bons como quando tinha começado com isto. Mas contentava-me em meter algum dinheiro na algibeira e sobreviver mais um tempo. Ofereceram-me um emprego inesperadamente, que eu resolvi não aceitar. É difícil dizer se foi a melhor decisão. Não quis trabalhar numa coisa que não me agradava só para sobreviver. É uma maneira bastante rápida de converter a vida numa experiência esgotante. Aliás não há necessidade nenhuma de pegar o boi pelos cornos se não quisermos andar numa roda viva. E acima de tudo eu estava a sentir-me tão bem pela primeira vez na vida que não ia estragar tudo por coisa nenhuma. Quando a semana começava a chegar ao fim, notei que a quantidade de Amor parecia diminuir. Talvez estivesse a esgotar-se. Tinha feito várias tentativas para voltar àquele templo, mas de cada vez chegava a um sítio diferente. No final da semana sentia-me novamente como dantes. Não havia a mínima dúvida, estava a ficar com o Amor esgotado.

“Estava precisamente a chegar duma das minhas viagens de comboio quando, ao abrir os olhos, dei com Sneaky aos pés da cama.

- Hei, já era tempo de apareceres! – Sentei-me na cama.

- Estamos a ficar sem Amor, não é? - perguntou ele.

- Vamos lá voltar!

- Devagar! – ele riu. - Depende de ti dares esse Amor a ti mesmo.

- Porque é que não posso ir lá buscar mais, seja lá onde for?

- Podes ir, mas é melhor que aprendas que o Amor que agora queres está dentro de ti, e tudo o que precisas de fazer é aprender a abrir a válvula.

- Que queres dizer? Não entendo.

- Quando te apaixonas, começas a irradiar Amor e recebes todos os sentimentos que o acompanham. Mas de facto o Amor vem do teu interior, do ser que tu és verdadeiramente. De certo modo, usas o apaixonar-te por uma pessoa como um mecanismo que desencadeia a abertura do teu coração ao Amor que está dentro de ti. É possível apaixonares-te por uma pessoa que não esteja apaixonada por ti e no entanto sentir todo o Amor, porque na verdade o Amor vem do teu interior. Só o facto de não estares neste momento apaixonado por ninguém em particular não significa que não possas ter Amor, sentir Amor e estar rodeado de Amor. A razão por que podes enviar Amor aos alimentos ou a outra pessoa ou ao ambiente que te rodeia, ou seja ao que for, é que há em ti uma reserva ilimitada, infinita, de Amor, à espera de ser aberta. Achámos que seria melhor fazer-te uma demonstração para te mostrar o que é possível.

“Fiquei uns minutos a pensar. Não há no meu espírito qualquer dúvida que eu estava completamente exaurido. Mas que alternativa é que eu tinha?

- Bom, mas vais mostrar-me como, ou vais simplesmente ficar para aí a dissertar sobre o assunto?

- Ainda bem que estás de volta! – Sneaky abriu-se num sorriso de orelha a orelha. - Talvez queiras ir buscar uma “cassette” e ficar com isto gravado. Vai funcionar à primeira vez, mas se quiseres ter tanto como tiveste na semana passada, vais precisar de um pouco de prática.

“Não sei como é que fiquei com um anjo que tem um sentido de humor desastrado. Fui buscar o gravador e uma fita vazia e fizemos a gravação. Sneaky ensinou-me o que eu havia de dizer e eu fiz a gravação. Terminada a gravação, Sneaky desapareceu novamente. Não me dei ao trabalho de experimentar aquilo naquele dia, mas na manhã seguinte fui trocar alguns bilhetes premiados e comprar mercearias. Parecia que o tempo ia arrefecer.

- A partir de agora não é fácil explicar por palavras todas as coisas que aconteceram, e pode ser que as coisas não estejam exactamente na ordem certa, mas tenho a certeza que vocês vão apanhar a ideia.

“Experimentei usar a gravação duas vezes, mas deixei-a porque era tão fácil que achei que não precisava dela. Tive resultados logo à primeira vez, mas não foi como tinha sentido naquela semana em particular. Pensei que se um bocadito só já era bom, a coisa completa havia de ser melhor; talvez eu precisasse só de um pouco mais de prática. Decidi entregar-me por inteiro. E foi exactamente o que fiz nos nove dias seguintes. Abrir o coração e irradiar Amor foi basicamente o que fiz. Passava uma hora a fazer aquilo, fazia um intervalo de cerca de uma hora e repetia. É algo em que vocês talvez devam pensar antes de o fazerem tão extensivamente. É melhor começar lentamente. Deste modo vão-se habituando às coisas que vão aprendendo. O Amor é cumulativo; quanto melhor me sentia, mais praticava. Queria ver se há realmente um limite para a quantidade de Amor que uma pessoa pode sentir. Nunca me ocorreu que isso ia afectar todas as coisas e toda a gente à minha volta.

“Nos primeiros dias esteve bastante frio, de maneira que passei o tempo todo em casa a encher-me de Amor e a irradiá-lo. Durante esses primeiros dias nunca levei Rudy a passear por causa do tempo. Sentia-me realmente muito bem e em paz. Havia uma profunda alegria íntima que parecia fluir até à superfície. Mesmo estando sozinho e sem companhia nenhuma durante esse tempo, não me sentia só. Sentia-me verdadeiramente amado e ligado com o mundo, sem todavia ser afectado pelo que aparentemente sucedia por esse mundo fora. Quanto mais me enchia de Amor, mais estes sentimentos aumentavam. Qualquer dor emocional do passado parecia simplesmente dissipar-se. É difícil dar uma imagem justa, pois infelizmente não tenho palavras para descrever uma coisa tão bela.

Encolhi os ombros.

“Passados alguns dias o tempo aqueceu e comecei a levar Rudy aos seus passeios diários. Foi quando notei que as coisas estavam diferentes. A princípio não identificava claramente o que se passava, tantas eram as pequenas coisas que se haviam tornado ligeiramente diferentes. Tudo parecia mais brilhante, mais vivo, mais colorido. A atmosfera parecia cheia de vida. Durante os primeiros dias não havia muita gente no parque a passear os cães, e por isso o que começava a acontecer não se manifestou verdadeiramente senão uns dias mais tarde. A princípio reparei que parecia haver pássaros a seguirem-nos para onde quer que fôssemos. Não eram muitos, só uns poucos. Outra coisa em que reparei foi que assim que os cães de outras pessoas me viam, corriam para mim e tentavam saltar-me para cima. Isto não será muito estranho, excepto porque a maioria dos cães estão geralmente muito mais interessados em brincar uns com os outros e não dão muita atenção às pessoas no parque. Notei também que as pessoas começaram a ser extremamente amáveis, muito mais que normalmente, quase como que a fazerem-me a corte. Não foi tão mau como naquela vez no supermercado, no dia seguinte ao primeiro encontro com Sneaky, mas pouco a pouco para lá caminhava. De certo modo percebi o que estava para vir, mas por outro lado custava-me a acreditar. Decidi então continuar a sair e ver o que acontecia. À medida que os dias passavam, aquilo tornava-se cada vez mais bizarro. As mulheres começavam a fazer-me a corte agressivamente, usando até o corpo nalguns casos. Como se as barreiras caíssem e o espaço pessoal se tornasse não-existente. Até os homens agiam de forma estranha, quase como se fôssemos amigos de longa data. Se eu parava para falar com alguém, outras pessoas se juntavam, o que não é assim tão esquisito; só que a atenção de toda a gente parecia centrada em mim. As pessoas pareciam tocar-me fisicamente quando falavam comigo. Vamos lá ver: numa cidade as pessoas não tocam em estranhos no parque. Geralmente toda a gente mantém uma certa distância.

Danny olhava para mim, incrédulo.

- Não és obrigado a acreditar no que te digo, Danny, mas não tenho razão nenhuma para mentir. Vocês mesmos podem experimentar isto muito facilmente, se quiserem.

“E cada vez mais estranho. Um amigo meu convidou-me para ir tomar uma bebida com ele depois de sair do trabalho. Combinámos encontrar-nos num certo bar. Cheguei lá uns vinte minutos antes dele. Aquele bar é bastante espaçoso e àquela hora a clientela era numerosa. Estava lá muita gente. Entrei, olhei em volta e não o vi. Instalei-me num lugar vago e mandei vir uma bebida. Enquanto esperava, decidi que podia também continuar a encher-me de Amor e a irradiá-lo. Nos quinze minutos seguintes as mulheres começaram a aproximar-se do sítio onde eu estava. Decidi levantar-me e oferecer o meu lugar a uma mulher que estava muito perto. Quando o meu amigo chegou ao bar eu estava totalmente rodeado de mulheres. Estou a dizer-vos a verdade. Elas apinhavam-se à minha volta como se fôssemos num comboio superlotado. Se elas se conhecessem todas, poderia ter dito a mim mesmo que estava simplesmente no lugar certo no momento certo, mas não era o caso. Quando vi o meu amigo chegar, abri caminho para sair daquela situação de aperto e fomos para o outro lado do bar. Ele tinha visto donde eu vinha e fez um comentário, estranhando por que é que eu não tinha lá ficado. Passámos os minutos seguintes a conversar e a gracejar um com o outro. Em poucos minutos ficámos rodeados de mulheres. O meu amigo estava a divertir-se bastante, e quando finalmente resolvi sair dali para fora ele estava demasiado ocupado para considerar sequer a hipótese de objectar contra a minha despedida tão cedo. Sou uma pessoa muito sossegada e prefiro estar em pequenos grupos. Não estava habituado a que me dessem tanta atenção, e algumas daquelas mulheres pareciam realmente querer alguma coisa comigo. No caminho para casa resolvi parar na mercearia e levar umas coisas, e isso resultou numa repetição da primeira vez. Fiquei muito contente por chegar a casa e me sentar na minha cadeira preferida sem ser molestado. Pensei com os meus botões que não tinha hipótese de singrar na vida daquela maneira. Aquele maroto daquele anjo devia ter-me prevenido que haveria efeitos secundários.

“Ouvi então uma voz: - Efeitos secundários?

“Ao voltar a cabeça vi Sneaky sentado no sofá.

- Sim, efeitos secundários - disse eu. – As pessoas ficaram estupidamente amáveis . Devias ter-me dito que havia riscos.

“Aquilo deve ter sido o máximo que ele podia aguentar, porque desatou a rir e riu tanto que desapareceu.

“Acho que foi muito engraçado, embora na altura eu não me risse. Cerca de uma hora depois, Sneaky voltou e olhou-me. Sorriu e julguei ouvir uma gargalhada precisamente quando ele tornou a desaparecer. Mais tarde, nessa mesma noite, decidi, por alguma razão estranha, organizar todas as minhas contas e fazer um pequeno maço com elas. Isto não é uma das minhas actividades normais, pelo que assumi que a ideia viera do Sneaky. Quando chegou a altura de ir para a cama, as contas faziam um montinho com cerca de dez centímetros de altura.

Bebi um gole de chá e pedi licença para ir à casa de banho.


Que fazer?

Que queres fazer agora mesmo?

Isso vai trazer-te

A ti e a mim

Mais Amor e Alegria?

Então esquece o resto!

 

Capítulo Vinte Seis

Quando voltei da casa de banho, vi que o ancião que estava sentado à mesa se tinha ido embora. Tentei lembrar-me se ele ainda lá estava quando fui à casa de banho mas não tinha a certeza. De volta ao meu banco, decidi que o jogo estava a chegar ao fim. Talvez devesse ter perguntado para onde ele fora e quem era, mas achei que não ia receber uma resposta directa e deixei as coisas como estavam.

Bebi um gole de chá. – Ora bem, onde é que eu ia?

Danny pediu as instruções sobre como se rodear de amor.

- Daqui a pouco já te dou as instruções - respondi. – Mas primeiro deixa-me dizer-te como deves fazer uso disto e como me foi explicado a mim, para não te meteres em sarilhos, senão a Neena tem de ser o teu guarda-costas.

- Eu vou ficar na retaguarda a ver o Danny a sofrer. – Neena riu.

“Nos dias seguintes parei de trabalhar com o Amor e tornei a concentrar-me nas minhas apostas. Não ia assim muito bem, embora estivesse a ganhar algum dinheiro. Parecia haver alguma coisa que me travava.

“Uns dias após a visita de Sneaky, ele apareceu uma manhã pouco depois do meu pequeno-almoço. Tinha estado à espera que ele aparecesse, e assim que o vi perguntei-lhe: - Por que não me disseste que eu ia converter-me numa espécie de imã para pessoas, pássaros e cães?

- Decidi deixar-te ver por ti mesmo o poder do Amor. Não me terias acreditado se não tivesses experimentado por ti mesmo.

- Mas para que serviu isso? Nem sequer posso ir à loja!

- Ora, também não é assim tão mau. Trabalhar com o Amor é uma arte. Tudo depende da maneira como o fazemos.

- Fiz exactamente da maneira que me ensinaste.

- Deixa-me explicar-te isso desta maneira: não há no mundo Amor suficiente e as pessoas procuram-no desesperadamente; por isso, quando começas a irradiar Amor cria-se um pequeno desequilíbrio. Se toda a gente soubesse e compreendesse como abrir o coração, não verias os mesmos resultados, ou algumas acções que observaste. As pessoas continuariam a ser atraídas umas para as outras, e os animais a ser atraídos para as pessoas, mas isso não estaria focalizado num indivíduo em determinado espaço. Entendes o que eu digo?

- Claro, isso faz sentido, mas não resolve o problema do que vou eu fazer entretanto, porque não estou a ver o resto do mundo a fazer isto no futuro próximo.

- Vais ficar agradavelmente surpreendido dentro de muito pouco tempo. Vais habituar-te a essa atenção que te dão, e em pouco tempo isso vai deixar de te incomodar porque vais gostar. Tudo o que tens a fazer é introduzir algumas alterações na forma como irradias Amor. É só uma questão de parares de te lastimar o tempo suficiente para eu te explicar.

Eu ia defender-me mas ele tinha razão; por isso fiquei a ouvi-lo.

- Há muitas maneiras de se trabalhar com o Amor. Quando abres o coração e irradias Amor, é como se te transformasses num pequeno Sol. Mesmo que as outras pessoas não vejam conscientemente este Amor, podem senti-lo, e subconscientemente sabem exactamente o que está a acontecer. O subconsciente envia mensagens à mente consciente para se aproximar da pessoa que irradia Amor. O subconsciente pode comunicar isto à mente consciente de muitas maneiras, como impulsos para fazer alguma coisa, uma atracção pela pessoa que irradia Amor, etc. Outra maneira de jogar com o Amor é quando vais a um encontro ou a casa de alguém onde estarão outras pessoas; podes enviar Amor, enchendo o espaço de Amor antes de lá chegares. Podes fazer isto com um encontro de negócios, uma festa, um encontro de família ou uma entrevista para conseguir emprego. És capaz de imaginar o que aconteceria se tivesses um negócio que estivesse cheio de Amor e todos os empregados irradiassem Amor?

“Acenei que sim. – Provavelmente atraía imensos clientes.

- Podes também enviar Amor directamente às pessoas de diversas maneiras, que terão resultados ligeiramente diferentes. Podes enviar Amor a outras pessoas e envolvê-las em Amor, como se as embrulhasses numa manta de Amor quente. Ou podes enchê-las de Amor. Podes também enviar Amor directamente para a zona do coração. Isto terá efeitos muito diferentes consoante as pessoas. Vai ajudar outra pessoa a abrir o próprio coração, pois quando o Amor entra na zona do coração, é muito provável que notes que elas próprias começam a resplandecer de Amor. Isto funciona muito bem se quiseres ligar-te intimamente a alguém, como uma companheira ou os filhos. Mais tarde vamos falar disto.

- Começa a tornar-se cada vez mais complicado. – Não sabia que mais havia de dizer.

- De modo nenhum. Pensa numa pessoa agora mesmo, uma pessoa que aches que precisa de mais Amor.

- Se pões as coisas nesse pé, estamos a falar de toda gente no mundo, Sneaky!

Ele olhou para mim.

- Está bem, estou a pensar numas pessoas. E agora?

- Pensa qual seria o melhor método, neste momento, para enviar Amor a essas pessoas. Podes encher-lhes a casa de Amor, enviar Amor para o seu local de trabalho, envolvê-las em Amor, enchê-las de Amor ou enviar Amor para a zona do coração. Escolhe o que te vier à cabeça e achares indicado para este momento. Por vezes até, duas ou três maneiras diferentes serão perfeitas.

- Isso é muito fácil. A casa delas é um campo de batalha; encher-lhes a casa de Amor provavelmente ajudá-las-ia a resolver as coisas a bem, ou pelo menos a impedi-las de se matarem umas às outras durante o processo. Certo?

- Perfeito.

“Por instantes olhei pela janela, pensando naquilo. Quando me voltei para ele, tinha desaparecido outra vez.

Danny estava a tirar notas; parei para o deixar apanhar-me.

- Então enchermo-nos de Amor e enviar Amor é qualquer coisa como quando nos apaixonamos? – perguntou Neena.

- Exactamente. Sentimos as mesmas coisas, um bem-estar geral. Quando duas pessoas se apaixonam, parecem resplender. Há nelas algo de diferente, e provavelmente já repararam que elas têm tendência para atrair outras pessoas. Muitos homens me disseram que quando têm uma relação com alguém parece haver mulheres por toda a parte, mas quando não têm nenhuma relação parece ser mais difícil atrair as mulheres.

- Tudo isso agora faz sentido – disse Danny.

- De cada vez que estou com alguém e nos damos muito bem um com o outro, parece que atraio as mulheres e as pessoas em geral. Não posso acreditar! É tão simples, e a resposta sempre esteve mesmo na nossa frente e ninguém se apercebeu disto. E é tanto assim que tenho dificuldade em imaginar como é que isto nos escapou.

“Há uma razão para que esta informação tenha escapado a toda a gente durante séculos; a resposta é bastante assustadora, mas não vamos agora entrar nisso porque também já não faz diferença nenhuma. Uma vez que as pessoas saibam como trabalhar com o Amor e vejam resultados, vai ser impossível parar.

Danny arregalou os olhos. – Estás a dizer que alguma coisa ou alguém ocultou esta informação a toda a gente? Porquê?

- O Amor é a força mais poderosa que existe e nós temos uma reserva infinita de Amor. Isto significa que não somos criaturinhas indefesas. O mais interessante sobre o Amor é que possui a sua própria consciência. Com o Amor só se podem fazer coisas positivas. Quando enviamos Amor a outra pessoa, o Amor vai afectar essa pessoa da maneira que for melhor para ela, independentemente do que nós façamos. Enviar Amor a outra pessoa é apenas o princípio do que se pode fazer com ele! A melhor maneira de o dizer é que não há nada que não se possa fazer com o Amor. Podemos apontar o dedo a quem é responsável por ocultar este conhecimento, mas o essencial é que lhes permitimos que o fizessem; por isso somos nós afinal os responsáveis. Trabalhar com o Amor, brincar com o Amor, é algo que se devia ensinar às crianças a partir do momento em que aprendem a falar. É possivelmente a melhor dádiva que se pode oferecer.

- Podes dar-me agora as instruções? – Danny sorriu.

- Com todo o prazer.


Sonhos

O Inferno espreita

Os teus sonhos a morrer.

Porque não é só

O teu sonho que morre.

Por isso talvez devêssemos também morrer

Na busca dos nossos sonhos.

Desse modo, pelo menos

Teríamos vivido por alguma coisa.

 

Capítulo Vinte Sete

Quando acabei de dar a Danny as instruções de como se encher de Amor e enviar Amor para o exterior, dei-lhe uns minutos para acabar as suas notas.

“Passaram talvez uns quatro ou cinco dias antes de Sneaky voltar. Por essa altura já tinha feito algumas mudanças na forma de lidar com o Amor, o que fez toda a diferença. As pessoas continuavam a ser atraídas para mim, ou talvez eu deva dizer que continuava magnético para elas, mas não tão intensamente como dantes. A este nível eu conseguia controlar a situação, e comecei a usar o humor para criar uma distância e controlar melhor as pessoas que vinham na minha direcção. Isto resultou muito bem para mim. Percebi também que podia desligar em qualquer momento, o que por alguma razão nunca me tinha ocorrido antes. Quando Sneaky voltou eu estava sentado na sala de estar apreciando o montinho de contas em cima da mesa. Era um montinho de todo o tamanho.

- Chiiii! Amontoaste uma bela colecção de contas! – Sneaky riu de orelha a orelha.

“Ocorreu-me um pensamento: - Quando tu desapareces e eu já não te consigo ver, para onde vais?

- O futuro, o passado, o presente, é tudo o mesmo.

- Alguma possibilidade de me levares contigo? – perguntei, sugerindo que precisava de me livrar daquelas contas.

- Para onde vou ou como lá vou chegar não vem ao caso agora. Não tarda que descubras. O que precisamos agora é de tratar de outros assuntos, e não só das contas.

- O único problema que eu vejo agora são estas contas, e se as levares contigo fica o problema resolvido.

- Penso que o mais importante agora é que precisas de deixar de fugir da vida e das coisas que não te agradam ou com as quais te parece que não és capaz de lidar, a não ser que, evidentemente, queiras continuar a viver como até aqui. A decisão é tua.

“Por momentos deixei de armar em esperto pois sabia que ele tinha razão. Eu tinha andado em círculos.

- Alguma vez reparaste quantas coisas correram mal na minha vida? É como se estivesse tudo esfrangalhado. Não sei que fazer da minha vida. Já nem sequer sei o que é que gosto de fazer. Duma vez por todas, não quero passar o resto da vida a fazer uma coisa de que não gosto só para sobreviver. Tenho quase a certeza que a vida não tem de ser assim tão complicada, pois não?

- Sei o que estás a dizer – disse ele –, mas não posso ser eu a mudar a tua vida, porque então deixaria de ser a tua vida. Mas posso mostrar-te como hás-de conseguir vencer um desafio de cada vez. Uma vez que uma situação, ou um desafio, ou um problema… o que lhes queiras chamar… estejam resolvidos, não voltam mais. Mas se continuares a tentar fugir deles ou a ignorá-los, eles acumulam-se e vais ter que resolver cada vez maior número deles, até que ficas impotente. Isto não te soa familiar?

“Eu remexia-me na cadeira porque via a minha vida como um grande amontoado de coisas, e percebia que bem poderia levar vinte anos a resolver tudo, o que me deixaria mesmo à beira de esticar o pernil.

“Sneaky deve ter escutado os meus pensamentos. – Não vai levar vinte anos! – Ele agora ria. – Não fazes a mínima ideia de onde estarás daqui a cinco anos, mas não te deve levar muito mais tempo a resolver tudo. Não vale a pena fazer disso um bicho de sete cabeças. Trata disso agora antes que se agrave. Qualquer problema pode ser resolvido com Amor, mesmo os do passado.

- Amor ou não Amor, não se pode mudar o passado.

- O passado não está mais consumado do que o momento presente. Passado, presente e futuro são o mesmo. São apenas instantâneos tirados em momentos isolados, e não importa por que ordem os introduzes no jogo. Já viste o que o Amor é capaz de fazer; embora tenha sido uma demonstração muito pequena, há mais em perspectiva. Sabes que podes viajar no futuro e usar esse conhecimento para ganhar a lotaria desportiva. Então porque é que pensas que não podes ir ao passado e enviar Amor lá e mudar tudo?

“Tive de pensar um momento porque ele parecia ter algo a dizer, mas eu perguntava a mim mesmo como é que ir ao passado e enviar Amor para mim mesmo podia afectar o presente eu. A ideia intrigava-me.

- Por agora vamos apenas tratar destas contas. Eu volto daqui a dois dias e por essa altura talvez já tenhas reflectido um pouco mais sobre a ilusão do tempo.

- Deixa-me adivinhar: tu queres que eu envie Amor para estas contas. É isso? – Acenei com a cabeça.

- Exactamente – respondeu ele. – Pega numa conta de cada vez e envia-lhe Amor; a seguir envia Amor para a empresa a que deves o dinheiro; depois envia Amor a todas as pessoas que são responsáveis por receber esse dinheiro e se ocupam das contas.

- Se eu nunca vi essas pessoas, como é que queres que lhes envie Amor? Nem sequer sei quantas são!

- Não importa. Usa a tua imaginação e envia Amor até sentires que atingiste todas as pessoas envolvidas. Vais saber quando terminares. E para responder à tua pergunta seguinte, limita-te a fazer isso até que as contas estejam pagas.

- Parece-me que isso quer dizer que elas não vão desaparecer por si mesmas…?

- A vida pode ser encarada como um processo demorado, mas uma vez que lhe apanhes o sentido e tenhas resolvido alguns dos desafios mais importantes, vai ser interessante e divertida. Não vai demorar muito tempo até que te aches capaz de enfrentar qualquer desafio e mudar as coisas para melhor. Já começaste. Precisavas de mais Amor e agora aprendeste donde vem este Amor e o que ele é capaz de fazer. Com o tempo vais aperfeiçoar-te nisto cada vez mais.

- Desculpa, mas não foi essa a pergunta que eu fiz.

- A vida é como uma escola e os cursos são Amor, compreensão, paciência, confiança e aprender a criar o que se pretende, com Amor. Portanto agora tudo o que precisas de fazer é decidir duma vez por todas se vais dedicar a isso tudo o que recebeste ou se vais esconder-te dentro de um buraco.

“Tive a sensação de que ele ia tentar desaparecer sem que eu visse como o fazia, por isso continuei a fitá-lo. Queria ver exactamente como é que ele desaparecia, se era gradualmente ou se desaparecia de repente. Enquanto estava a olhar para ele notei uma coisa estranha. Eu tinha de olhar para ele de uma certa maneira e desfocar um pouco os olhos, mas parecia quase a maneira como também ele olhava para mim. Passado um momento não tive outro remédio senão piscar os olhos, e nesse momento ele já lá ia.

- Que aconteceu às contas? – perguntou Danny.

- Paguei-as. Não tenho a certeza como, mas oito meses depois estavam todas pagas. O mais interessante é que nunca veio ninguém receber.

- E quanto ao facto de Sneaky se parecer contigo? – perguntou Neena.

- Boa pergunta. Passei um bom par de horas a tentar ligar as peças… mas daqui a pouco já lá vamos. Há mais chá?


O Tempo

O tempo é o mágico

Que faz a ilusão

De um bilião de instantâneos

Parecer movimento.

Sem o tempo

Ficaríamos congelados

No momento.

Que momento?

Cada momento.


 

Capítulo Vinte e Oito

Sneaky voltou dois dias mais tarde, tal como tinha dito que faria. Não tornámos a falar nas contas. Eu tinha feito o que ele sugerira e assumi que ele o sabia. Encetámos uma discussão sobre o tempo e a realidade.

- Vamos ao que interessa. Porque é que me queres impedir de ganhar a lotaria desportiva?

Sneaky riu. – Finalmente atreveste-te a perguntar.

- Então admites isso!

- Não! Ninguém te impede, excepto tu. –Abriu-se novamente num sorriso largo.

- Por que havia de me impedir a mim mesmo? Isso não faz sentido.

- Tens algumas ideias contraditórias. Primeiro acreditavas absolutamente que era possível, depois começaste a duvidar de ti mesmo, e viste imediatamente o resultado das tuas dúvidas, que provou que as tuas convicções estavam correctas, o que por sua vez resultou em mais uma prova de que estavas certo. Primeiro vem o pensamento, depois vêm os resultados, positivos ou negativos, dependendo do pensamento.

- Estava a tentar ver que espécie de pensamentos ou convicções eu tinha que poderiam ter contrariado o que eu pretendia realizar.

- Tu pensaste que isto era demasiado bom para ser verdade e alguma coisa acabaria por interferir contigo. Quanto mais resultados obtinhas, mais começavas a acreditar que isto era bom demais para ser verdade. Tenho razão?

“Tive de concordar porque ele tinha razão, era exactamente o que eu pensava; ao mesmo tempo, porém, nem sequer me tinha apercebido.

- Há mais uma coisa que parece teres esquecido.

- O que é?

- Que futuro é que tu prevês? O futuro não está gravado em pedra e há probabilidades ilimitadas. Passado, presente e futuro são o mesmo. O que os faz parecer diferentes é o tempo. O tempo é o mágico que tira um instantâneo de um simples momento e dá a uma série de momentos a ilusão de movimento e de vir um antes do outro.

- Compreendo.

- Não propriamente. Se tivesses compreendido perfeitamente estarias a encarar tudo de modo diferente. A tua vida e tudo o que tu vês e experimentas são minúsculos instantâneos da realidade. Há biliões e biliões deles, que tu subconscientemente seleccionas pela ordem em que queres que eles apareçam, e então o tempo pega neles e converte-os num filme que tu apercebes como momentos contínuos de passado, presente e futuro. Quando crês nalguma coisa ou tens convicções contraditórias, os instantâneos da realidade adequados são inseridos no filme da tua vida, que não só visionas mas em que também participas. Significa isto que se podes enviar Amor agora, aqui no presente, a alguém, então podes tirar o instantâneo do que consideras o passado e enviar Amor para qualquer período de tempo.

- Então como é que eu descubro qual é o futuro provável que vai acontecer no que se refere aos jogos?

- Toda as pessoas que assistem ao jogo, que participam no jogo e têm algum interesse nele, de uma maneira ou doutra decidem como é que o jogo vai ser jogado e qual vai ser o resultado. É simples: a maioria pontifica. Pede apenas à tua mente que te mostre o futuro mais previsível, mais provável. Infelizmente, a todo o momento podem ser feitas alterações no futuro provável na medida em que a maioria muda de ideias. Como podes ver se tentares conseguir cem por cento de precisão, estás a despender enorme quantidade de energia, o que não vale a pena. Podias usar essa energia a trabalhar com o Amor e alcançar resultados muito maiores.

“Estava para fazer outra pergunta quando reparei que ele já tinha desaparecido.

- O que ele diz faz sentido – disse Danny, pousando a minha chávena de chá, – excepto que não tenho a certeza de compreender o instantâneo da realidade.

- Não precisas de compreender totalmente – disse Neena. – O importante é que compreendas que cada vez que tens um pensamento ou uma convicção, um instantâneo da realidade que reflecte esse pensamento ou convicção é colocado no filme da tua vida e tu vais experimentá-lo.

- Não te esqueças da zona de amortecimento – interpus.

- O que é a zona de amortecimento? - perguntou Danny.

- Nem todos os pensamentos vão para o filme, senão a vida seria totalmente louca. Há portanto uma zona de amortecimento. Só são colocados no filme os pensamentos directamente ligados às convicções de que estamos perfeitamente seguros. Mas se existe um conflito de convicções, então ou são inseridas ambas as imagens que representam as convicções, ou uma combinação das duas, ou nenhuma delas, dependendo da força dessas convicções.

- Isso faz sentido – Dnny fez que sim com a cabeça.

Pus açúcar no meu chá e Neena resolveu também tomar outra chávena. Pessoalmente pareceu-me que o objectivo dela era, antes de mais, que Danny a servisse. Tenho a certeza que isso lhe agradava mais do que propriamente o chá, mas é certo que me baseava apenas na expressão do rosto dela.


Paciência

A paciência nunca foi

Uma das minhas virtudes.

Mas o facto é que me pergunto, agora,

Para quê a pressa?

Reparem que eu aprendi uma coisa,

No momento em que tenho paciência

Para qualquer coisa, ela vem

Dez vezes mais depressa.

Ora não é estranho?

Mas por outro lado,

- francamente! -

Quanto tempo

Tenho de esperar?


 

Capítulo Vinte e Nove

Não vi Sneaky durante bastante tempo após a última visita dele, o que veio mesmo a calhar porque estava a começar a ficar farto. O meu filho veio passar comigo as férias de Natal, o que me permitiu quebrar a rotina quotidiana.

- Pensava que o teu filho vivia contigo – disse Neena.

- Vivia, mas houve alguns problemas e ele acompanhava com as pessoas erradas, por isso pensei que seria melhor que ficasse uns tempos com a mãe. Isso foi muito antes de tudo isto começar a acontecer.

- Continuavas a tentar as apostas? - perguntou Danny.

“Continuava, mas umas vezes sim, outras vezes não. Tentava passar algum tempo com o meu filho. Os resultados estavam a tornar-se esporádicos. Um dia acertava em cheio, mas no outro dia falhava redondamente. Passava muito tempo a congeminar como havia de mudar os meus pensamentos e convicções acerca da minha aptidão para ganhar. Tinha ganho dinheiro suficiente para passar o Natal, por isso estava tudo bem nesse aspecto. O certo é que me tinha esforçado muito para tentar ganhar e trabalhar com o Amor, mas estava a sentir-me bastante frustrado e precisava de um intervalo. Um dia vi um programa na TV sobre a utilização de uma serra mecânica para talhar a madeira; no dia seguinte saí e comprei uma pequena serra mecânica. Fui até ao rio e apanhei uns troços de madeira que os castores tinham cortado das árvores. Passei as três semanas seguintes ou com o meu filho ou a talhar a madeira. Acabou por ser um óptimo alívio para a tensão que eu tinha acumulado. Era também, desde há muito tempo, a primeira coisa que eu fazia com gosto, e cheguei à conclusão que talvez a vida seja mais do que sobreviver.

“Foi um tempo de grande confusão. Toda a minha vida parecia virada do avesso, mas ao mesmo tempo sentia-me melhor do que nunca; como se estivesse tudo em grande barafunda, mas eu tinha uma sensação de paz interior, e provavelmente ria e sorria mais num só dia do que anteriormente num mês inteiro.

- Sei o que queres dizer – disse Neena. – Quando está a acontecer uma série de mudanças na vida duma pessoa ou no seu interior, há esse ponto intermédio em que ainda não adoptámos completamente a nova maneira de viver e no entanto já tudo mudou. É como se ambos os mundos estivessem misturados.

- Era isso precisamente.

- Então quanto tempo foi necessário para a situação se estabilizar? – perguntou Danny.

- Aproximadamente mais um mês. Depois foi como se eu andasse nas nuvens. E ainda ando. Parece que tudo me corre bem e a meu favor. Acordo de manhã feliz da vida e à noite vou para a cama feliz. A vida vai andando e de vez em quando há uma coisa ou outra que corre mal, mas isso pouco efeito tem em mim. Aquilo que corre mal, adiciono-lhe Amor, e dentro de pouco tempo tudo se volta ao contrário e acaba por ser uma das melhores coisas que podiam ter acontecido.

- Que queres dizer com adicionar Amor? – perguntou Danny.

- Por exemplo, imaginemos que perdeste o emprego; envias Amor para o local onde trabalhavas e envolves-te em Amor. Em seguida pegas na situação por inteiro e finges que se trata de um filme; enches a situação toda de Amor, incluindo os pensamentos que tens na circunstância. Enche-os de Amor. O resultado final é que acaba por te ser oferecido outro emprego em que ganhas mais do que no emprego anterior. E talvez arranjes algum tempo de folga para relaxar e reflectir na vida. Posso dar-te outro exemplo. Uma pessoa que eu conheço queria aprender a trabalhar com o Amor. Três semanas mais tarde viu-se envolvida num acidente de trânsito. Logo de imediato decidiu enviar Amor a toda a cena, rodeando de Amor todas as pessoas envolvidas, os carros, tudo, como se fosse um filme irradiando Amor. Isto é difícil de explicar, mas se pensarem no assunto percebem o que quero dizer. Seis meses depois ela casou com o homem que ia no outro carro, e hoje parecem felicíssimos. Assim que a pessoa trabalha com o Amor e passa algum tempo a encher-se de Amor e a irradiá-lo, tudo acaba por ter uma propensão diferente nesse sentido. Não consigo explicar; tudo quanto eu sei é que se continuarmos a enviar Amor, tudo acaba por se virar a nosso favor quando já tudo foi dito e consumado. E é assim que funciona.

- É provável que haja pessoas que não vão acreditar nisso – observou Danny.

- Sim, é provável, mas se correrem o risco e derem o benefício da dúvida, os resultados aparecem muito rapidamente. E depois não há maneira de as impedir.

Neena olhou para Danny e depois para mim. – O nosso tempo está a acabar. Precisas de acabar de contar a tua história.

Não entendi o que ela quis dizer com o estar a acabar o tempo deles, mas vi a expressão no rosto dela, que parecia falar por si mesma.


Outro Dia

E assim outro dia chega ao fim.

Mas foi realmente um outro dia?

Os dias são diferentes?

Ou sou eu que sou diferente?

Onde começa a ilusão?

E onde termina?

Pergunto a mim mesmo!

 

Capítulo Trinta

- Quase me esquecia de vos contar esta parte. “Quando Sneaky me estava a dizer que eu podia entrar no meu passado e enviar Amor aos meus eus passados, resolvi experimentar. A princípio só recuei até à minha infância, nove anos e menos. O motivo pelo qual escolhi esse tempo foi porque cresci sem a orientação paternal, o que parece muito estranho, mas foi assim mesmo. Não tinha amigos. Isto deu-me uma visão da vida invulgar porque eu não tinha ninguém que me dissesse que as pessoas não podem falar com as árvores nem comunicar com animais. Na verdade é uma coisa muito natural, só que ninguém parece compreendê-la, e por isso automaticamente ensinam às crianças que não é possível. Assim, os únicos amigos que eu tinha eram as árvores e os animais. Vocês ficariam admirados com a sabedoria que as árvores têm, especialmente as mais velhas. Sabem mais sobre a forma como o universo funciona do que todos os cientistas juntos. O que é realmente muito simpático nas árvores é que elas nunca fogem. Amor incondicional parece ser a essência delas, ou a essência do que elas são. Decidi que essa área da minha vida era um bom sítio para começar, porque eu sabia que ele precisava de companhia. O mais estranho é que sempre que eu ia ver esse eu criança no passado, ele podia ver-me. Passámos bastante tempo a conversar. Falei-lhe de coisas que Sneaky já me tinha mostrado.

- Como é que entravas no passado? - perguntou Danny.

- Usava o comboio imaginário, da mesma maneira que viajava ao futuro.

“Continuei a fazer isto cerca de um ano, não todos os dias mas uns dias por semana. Quando saí da minha infância e comecei a visitar o meu eu passado, à medida que ele ia ficando mais velho já não me via. Eu ia precisamente àqueles tempos que eram os piores e rodeava-o de Amor. E via a diferença que aquilo fazia. À medida que fazia isto, o meu eu presente começava a mudar. De algum modo, mudando eu, o meu passado mudava. Não posso realmente apontar nada em especial, mas sei que é diferente da maneira como eu o via antes.

- Espera aí – interrompeu Danny. – Se entravas no teu passado e o teu eu passado te via, que aspecto tinhas para ele?

- Eu a ele parecia um anjo – respondi.

“Depois das férias de Natal e Ano Novo, levei o meu filho à estação rodoviária para ele voltar para a mãe. Tenho bem presente que foi a 4 de Janeiro de 1996. Não foi um trajecto agradável. Tanto ele como eu íamos em silêncio. Ele não queria ir e eu também não queria que ele fosse. Foi extremamente doloroso, como se me arrancassem um pedaço do corpo. Depois de ver o meu filho entrar no autocarro, voltei para casa. Sneaky apareceu a meio caminho. Mal conseguia vê-lo e ouvir o que dizia, provavelmente por causa do estado emocional em que me encontrava. Pensava em todas as coisas que poderia ter feito melhor e em todas as coisas que tinha feito mal para levar as coisas a este ponto.

- Sabes, ele está a sofrer tanto como tu – ouvi Sneaky dizer.

- Ah, sim, isso faz-me sentir bastante melhor – disse eu. – Não há nada que eu possa fazer em relação ao que ele sente.

- Podes fazer muito. Ficavas surpreendido como o enviar Amor pode curar.

“Pensei por momentos e olhei para ele tentando focar a imagem dele para o ver melhor

- Achas que sim?

- Claro! – A voz soava-lhe agora mais alto e via-o melhor. – Mesmo que nunca mais o vejas, podes enviar-lhe Amor. Se fizeres isso todos os dias, fará toda a diferença, mais do que possas imaginar. Sabes que é fácil de fazer.

“Não disse nada. Apenas pensei para comigo que pelo menos podia tentar.

- Deixa-me dizer-te que se toda a gente fizesse isto com uma criança, ia mudar tudo. Se não tiveres um filho, podes adoptar um mentalmente.

- Que queres dizer com isso?

- Quero dizer adoptá-lo no teu espírito e no teu coração e decidir enviar Amor a esta criança numa base diária. Ninguém precisa de saber e as pessoas não precisam de ver esta criança nem saber onde ela possa estar em determinado momento. O Amor que se envia vai ao encontro dela. Enviar Amor diariamente desta maneira vai fazer muito. É indescritível.

“Dirigi a minha atenção para a estrada. - Queres dizer que isso vai manter as crianças fora das ruas ou de complicações?

- Sim! – respondeu ele. – Pode não mudar todas as circunstâncias que enfrentam, mas vai acompanhá-las, e com Amor suficiente elas tomam decisões diferentes.

“Pensei no que ele disse enquanto estacionava o carro e me dirigia para casa.

“Sentei-me na minha cadeira favorita e acendi um cigarro. – Deixa-me ver se entendo. Dizes tu que quanto mais Amor uma pessoa recebe, menor é a probabilidade de agir encolerizada e magoar outras pessoas?

- Sim. Ao nível da consciência elas não sabem que lhes estão a enviar Amor. Mas a um nível subconsciente elas vão saber, e o Amor vai contrariar uma grande dose de cólera e dor que eles possam estar a sofrer. Por exemplo, podem começar a sentir que não têm o mundo inteiro contra elas. Não saberão porque é que essa mudança ocorre, todavia vão senti-la. Pensa só nos tempos difíceis por que passaste na tua vida. Não teria sido mais fácil se tivesses mais Amor à tua volta, mesmo que não visses donde vinha?

- Parece-me que isso faz sentido – respondi. – Parece-me que não interessa donde vem o Amor, interessa só que seja recebido.

- Não podes sobreviver sem Amor. A válvula imaginária por onde o Amor flui para ti nunca fica totalmente fechada, e quando chega a um ponto em que já deixa correr um fio, as coisas começam a acontecer. Ficas mal humorado e sofres um bom pedaço porque a válvula se fecha, da mesma maneira que estar a morrer de fome seria doloroso. Há certos lugares do mundo que parecem estar constantemente em guerra. Por que pensas que isso acontece? É simples: em cada indivíduo a válvula fechou-se a tal ponto que cada um não consegue pensar em mais nada senão em ódio, cólera, ciúme, etc.

- Que aconteceria se a válvula se fechasse completamente?

- Ficarias louco. O resto depende de quem tu és, das circunstâncias em que te encontras, do sítio onde estejas. Se viveres numa zona de guerra poderás fazer uma corrida suicida contra o teu inimigo imaginário. Se viveres num sítio sossegado poderás suicidar-te ou entrar numa loja com uma bomba e fazer toda a gente ir pelos ares, incluindo tu próprio.

“Infelizmente Sneaky tinha razão. Se uma pessoa se sentir amada, nunca fará nada que possa ser prejudicial a outras pessoas.

- Queres que te puxe um pouco mais pelo entendimento ou preferes que deixe as coisas neste ponto?

- Acho que podes continuar. Tens a minha atenção.

- Se doze por cento da população duma cidade enviasse Amor todos os dias para encher a área, haveria tanto Amor no ar e seria tudo tão pacífico que a polícia não teria nada que fazer. Isto aplica-se também a um país ou ao mundo.

- Estás mesmo a puxar por mim - disse eu com um sorriso. – Porquê doze por cento.

- Porque o Amor é a força mais poderosa do universo. Tudo se cria a partir do Amor. E isso é tudo quanto é preciso para desequilibrar a balança. O Amor cresce. Nada pode derrotá-lo, nada se lhe pode opor.

“Ficámos uns momentos em silêncio.

- Já viste e experimentaste o que abrir o coração e irradiar Amor são capazes de fazer. O mesmo se aplica a enviar Amor – disse ele. – Imagina o que sucederia se duas pessoas numa relação enviassem Amor uma à outra. Que pensas que aconteceria?

- Seria incrível – respondi. – Penso que não haverá palavras que descrevam a experiência. Não tenho a menor dúvida que gostaria de experimentar.

“Olhei na direcção de Sneaky mas ele já desaparecera. Fui deitar-me e comecei a enviar Amor ao meu filho.

Olhei para Neena e Danny. – Comecei a enviar Amor ao meu filho nesse dia e nunca mais falhei um dia. Nem sequer posso começar a contar-vos a diferença que isso fez. É incrível. E vou enviar-lhe Amor todos os dias enquanto for vivo. Não sei como é que as coisas estariam hoje se não fosse por esse pedacinho de sabedoria, mas francamente não quero saber.


Assim é

A merda acontece,

Mas se ninguém disser NÃO

E não der Amor,

Vai continuar a acontecer

E então quem será realmente culpado?

Capítulo Trinta e Um

Nas semanas seguintes passei a maior parte do tempo a fazer experiências com o Amor e a trabalhar nas minhas apostas, que aliás estavam a correr muito bem.

Tinha ganho uma data de massa, mas em vez de liquidar todas a minhas contas resolvi, à cautela, pô-la de parte. Provavelmente não foi má ideia, só que o fiz por motivos errados. O que é importante é o pensamento que está por trás do motivo. De certo modo estava a apostar contra mim mesmo ao pensar que talvez o meu êxito se repetisse em breve. É acertado poupar dinheiro, mas acredito agora que se o fizermos por uma questão de receio, esses pensamentos de certo modo criam a própria circunstância em que acabaremos por precisar desesperadamente do dinheiro. Mais tarde, na primavera, foi exactamente o que aconteceu. Eu não estava a dar muita atenção aos meus pensamentos e ao modo como eles criavam a minha realidade, e assim, mais uma vez, perdi a capacidade de ganhar. Às vezes parece que sou lento a aprender; no entanto, mais tarde ou mais cedo, acabo por lá chegar.

- Mas já estou a ir muito longe. – Olhei para Neena e Danny para ver se me acompanhavam.

“Nas semanas seguintes de Janeiro e Fevereiro, Sneaky aparecia de dois em dois ou três em três dias. Geralmente falávamos de trabalhar com o Amor e de várias experiências que eu levava a cabo. Dou-vos um exemplo de uma experiência. Tinha um amigo que terminara a relação com uma mulher. Ele veio a minha casa pois ficara completamente abatido com aquela relação. Decidi então, depois de ele sair, passar uns dias a enviar-lhe Amor e a rodeá-lo de Amor. Nessa altura ele não sabia do que eu andara a fazer nos últimos meses. Poucos dias depois ele voltou a visitar-me. Perguntei-lhe como passava porque me parecia perfeitamente tranquilo e relaxado. Disse-me que, por alguma razão, depois de deixar a minha casa após a última visita, se sentira subitamente invadir por uma sensação de tranquilidade. Disse que começara a sentir-se cada vez melhor, mesmo não se sentindo feliz com a ruptura, mas por alguma razão a maior parte da dor parecia ter desaparecido. Foram estas exactamente as palavras que ele disse: “Por alguma razão sinto-me melhor do que nunca. Não é estranho?” Decidi enviar Amor também a ela. Infelizmente não faço ideia do efeito que isso terá tido nela, mas a avaliar pelo que tenho visto tenho a certeza que fez efeito.

- Tenho a certeza que me compreenderam.

- Falaste-lhe de enviar Amor e das outras coisas? – perguntou Danny.

- Não. Decidi que naquela altura era melhor guardar isso para mim. Mas falei a outra pessoa. Essa pessoa tinha um pequeno negócio aqui na cidade. Quando lhe falei no que se passava, ele ficou cada vez mais interessado e quis saber como é que podia usar o Amor no seu negócio. Nos três meses seguintes trabalhei com ele no assunto. Ensinámos também os empregados a enviar Amor. Levou um certo tempo a convencê-los, como podem imaginar, mas conseguimos. Estipulei também que aquilo ficaria em segredo e nenhum deles contaria a ninguém.

- E então que aconteceu? – perguntou Neena.

“A princípio, comecei por reparar que toda a gente parecia mais contente. Toda a gente parecia realmente satisfeita. Mas nada aconteceu no respeitante ao negócio. Levou umas seis semanas, e de repente o negócio começou a prosperar, a princípio muito lentamente. Depois pareceu acelerar e ele acabou por ter de reduzir o negócio porque não conseguia dar conta de tudo. A outra coisa realmente interessante que se manifestou nas várias reuniões que tivemos com os empregados e a própria mulher, que também colaborava no negócio, foi que toda a gente dizia que aquilo tinha efeito nas respectivas vidas domésticas. Também veio à baila muitas vezes a atracção sobre outras pessoas. Trabalhavam lá uma mulher solteira e um homem solteiro, e ambos referiram frequentemente que de cada vez que saíam mal podiam acreditar como se tinham tornado magnéticos para as pessoas, especialmente do sexo oposto. Era por demais evidente que estavam a passar o melhor tempo da vida deles.

- E como está agora esse negócio? - perguntou Danny. A pergunta não surpreendia, dado que o bar dele era bastante sossegado.

- Cerca de um ano mais tarde ele trespassou a loja e mudou-se para os Estados Unidos para abrir outro negócio. Parece que era para onde ele sempre quis ir. E também levou com ele dois empregados. Pelo que tenho ouvido, tem agora 25 empregados e está famoso.

- Porque é que só sabes dele pelo que te chega aos ouvido? – perguntou Danny. – Não estás em contacto com ele?

- Não. Eu sabia que a certa altura teria necessidade de escrever sobre isto, e decidi que era melhor guardar segredo sobre quem ele é e a que negócio ele e a mulher se dedicam, pelo menos durante os primeiros anos. Por isso disse-lhe que era melhor não mantermos contacto. Ambos concordaram com as minhas razões.

- Não compreendo por que fizeste isso – disse Danny.

- É muito simples. Eu posso ir ao futuro e ver os resultados prováveis do meu livro e da informação que contém. O resultado é absolutamente fantástico. Mas há pessoas que vão ficar confusas com receio de serem controladas. O Amor nada tem a ver com controlo, na verdade é absolutamente o oposto. O Amor é atraente e magnético. Há pessoas que não vão entender, pelo menos a princípio, que se tivermos dois negócios à escolha seremos naturalmente atraídos para aquele que irradia Amor. É simplesmente natural. Qual é o que nos prestará melhor serviço e se preocupará mais connosco? Pergunta muito simples de responder! Infelizmente algumas pessoas têm medo da própria sombra. Não vai levar muito tempo antes que vocês vejam pequenas e grandes empresas fazerem isso por todo o lado. Não estou a dizer que a minha decisão foi absolutamente correcta, mas achei que era a melhor coisa a fazer, e é tudo. Voltemos à história porque há outras coisas que vocês precisam de saber.

“Passaram-se umas semanas e eu notei que estava a ter mudanças de humor. Sentia-me por um momento extremamente feliz, e no momento seguinte ficava irritado ou zangado. Num momento de particular irritação em que me sentia extremamente mal humorado, Sneaky apareceu de repente e assustou-me deveras.

- Não é que estamos hoje zangados? - observou, sem ligar nenhuma ao meu ar hostil.

- Mas que raio foi isso? – disse eu. – Pensava que o Amor era para me fazer sentir bem!

“Sneaky parecia achar aquilo muito divertido e sabia obviamente que este tópico ia vir à baila. Eu estava irritado com o facto de ele, mais uma vez, não se ter dado ao trabalho de me avisar.

- Encara as coisas desta maneira – disse. – Imagina um rio, e a água é Amor. No passado, este rio de Amor estava quase seco em ti, e agora que tens estado a trabalhar com o Amor, este rio começou outra vez a correr. Agora imagina que, à medida que tem crescido imenso em tamanho, está a apanhar detritos deixados na margem, como emoções, pensamentos, culpa, vergonha e cólera. Todas estas coisas estão, por assim dizer, a ser arrastadas para fora de ti. Isto é temporário, principalmente se continuares a envolver-te em Amor; repara só nos sentimentos e emoções que estão emergindo e simplesmente envia-lhes Amor, ou, na tua mente, envolve-os em Amor. Em poucos dias vão-se embora.

- Todos? – Usei as mãos para descrever exactamente o que tentava dizer.

- Bem, poderás topar ocasionalmente com algum resíduo, aqui ou acolá. Desde que não o enterres outra vez na areia, não dará grande problema. – Acenei com a cabeça para dar a entender que tinha percebido.

- Agora vamos dizer adeus. É tempo de sossegares e juntares as peças. Sei que és capaz de fazer isso e que o vais fazer.

“E desapareceu. Fiquei chocado. Ainda tinha um milhão de perguntas a fazer. Ali sentado a pensar, fiquei muito irritado com o facto de ele ter aparecido e largado uma bomba, e depois desaparecer sem mais nem menos. Depois de acalmar um pouco, reconheci que é algo que eu provavelmente também faria, e que até fiz por várias razões.

- Então é tudo? – perguntou Danny.

- Não, de maneira nenhuma - respondi. – Na verdade está mesmo a começar, mas daqui para a frente fica realmente complicado. Vou precisar de uns minutos para pensar como é que hei-de vos explicar isto.

- Talvez outro uísque enquanto pensas? - perguntou Danny.

- Por que não? – respondi, bebendo o resto do meu chá e acendendo outro cigarro enquanto aproveitava o tempo para conjugar os pensamentos.


Um

Quando uma mulher se sente amada,

Sente-se bela,

Quando se sente bela,

Começa a sentir-se segura,

E então começa a confiar.

Quando começa a confiar,

Ela espera para ver.

E quando vê que pode confiar no teu Amor,

É então que a magia começa.


 

Capítulo Trinta e Dois

“Devo estar a ficar cansado ou assim, porque reparei agora mesmo que me esqueci de vos falar duma outra coisa que Sneaky me mostrou. É difícil dizer se é importante. Deixo isso para daqui a uns minutos e primeiro vou passar a outros pormenores.

“Ao longo dos anos passei grande quantidade de tempo a estudar, tentando descobrir como é que o universo funciona e como todas as coisas se combinam. Naquele tempo tinha um entendimento muito bom de como o tempo funciona e de que passado, presente e futuro são a mesma coisa. Percebia muito bem como é que tudo aconteceu, e em certo sentido estamos apenas a mover-nos em círculo, em diferentes probabilidades, combinando-as de certo modo para criar o que parece ser uma vida que é vivida momento a momento. Sabendo isto, tinha uma forte suspeita de que Sneaky não era nenhum anjo, mas em vez disso uma parte futura de mim mesmo ou uma parte de mim mesmo. De qual, não tinha a certeza. Hoje compreendo que uma parte futura de mim mesmo e uma parte provável de mim mesmo são realmente a mesma coisa. Os meses seguintes, ou antes os anos seguintes, são muito complicados de explicar, porque quando se trabalha com o Amor, ele muda o tempo e parece acelerá-lo. Não quero dizer que a vida fica mais curta, porque o que acontece é exactamente o contrário. Depois de se começar realmente a trabalhar com o Amor, acaba-se por fazer e conseguir mais numa semana do que se conseguiria em duas ou três semanas. O resto do mundo parece afrouxar, e quando se observam as pessoas que não trabalham com o Amor, parece que fazem as coisas com grande lentidão. Conseguirem alguma coisa parece que lhes leva uma eternidade. Nada mudou com as outras pessoas; nós é que mudámos. O tempo é relevante para todos os indivíduos e é diferente para cada um. Talvez estejam agora a pensar que à medida que o tempo acelera para nós, a quantidade de coisas que fazemos no que parece ser um período de tempo menor nos cansa ou nos esgota. Mas não é isso que acontece. Vocês descobrem que acabam por ter mais tempo livre do que antes. Claro que isto não se verifica de um dia para o outro. As outras pessoas vão perceber-nos diferentemente. Vêem o que nós fazemos num certo período de tempo, mas estranham como o conseguimos porque parecemos tão relaxados. Para certas pessoas até vai parecer que não fazemos nada, no entanto o trabalho está feito.

Bebendo um gole de uísque, perguntei-lhes se isto fazia sentido. Não tinha qualquer dúvida que Neena tinha percebido.

- Faz sentido – disse Danny – mas deixa uma série de questões por responder.

- Concordo, mas vocês vão ter de apurar essas coisas por vós mesmos.

“Nesse tempo e a seguir durante muito tempo, andei a fazer uma série de coisas diferentes e a tentar em várias direcções ao mesmo tempo. Tudo aquilo em que me metia tinha os seus resultados próprios, exercia algum efeito na minha vida e também em tudo o que eu fazia. Como exemplo, trabalhava nas minhas apostas, e tudo o que aprendia e experimentava com as apostas era uma história em si mesma, uma história que não tem fim. Trabalhava com as pessoas que punham Amor no seu negócio. Trabalhava com o tempo e as probabilidades; podia escrever três livros só sobre esse tema. O meu filho voltou para viver comigo e eu usava o Amor para mudar todas as circunstâncias da vida dele. Tantas coisas interessantes aconteceram que eu podia escrever um livro só sobre o enviar Amor ao meu filho. A minha capacidade de escutar o pensamento das pessoas aumentava grandemente. Só isso seria suficiente para manter qualquer pessoa ocupada durante muito tempo. Isto pode não acontecer necessariamente convosco. Pode acontecer se assim o quiserem. A capacidade de comunicar com os animais pode aumentar até certo ponto, dependendo de onde nós estávamos antes de começarmos a trabalhar com o Amor. Tinha também uma vida física para viver. Poderia parecer que tudo isto ia levar-me para a sepultura, mas foi o melhor tempo da minha vida. Mesmo tendo havido momentos difíceis, tudo se ajustava no seu lugar com pouco esforço da minha parte, em vez de gastar uma carrada de tempo a pensar em tudo e a estudar os pormenores. Por isso fico com o problema de saber o que devo contar-vos e o que por agora devo deixar.

- É fácil – disse Neena. – Conta as coisas tal como farias a respeito de umas férias, fala só dos factos mais relevantes. O resto vem por si mesmo, especialmente se ficar escrito num livro, porque as pessoas vão ter as suas próprias experiências.

- Muito bem pensado.


Desejo


Desejo

Ela tinha pedido para ser

Acarinhada, mas em vão.

Eu disse: impossível!

Ela perguntou porquê.

Eu respondi: não sei como.

Tão contente que ela provou

Que eu estava enganado.

E a dança começa.

 

Capítulo Trinta e Três

- Vais contar-nos aquilo que tinhas esquecido? – perguntou Danny.

- Sim, acho que vou – disse eu. – Ainda não juntei as peças todas, mas acho que vai ser uma peça importante do quebra-cabeças. Parece que as pessoas pensam que estamos sozinhos neste planeta, e isso não é inteiramente verdade.

“Foi antes do Natal que isto começou. Estava eu a conversar e a gracejar com Sneaky sobre ter umas férias quando ele sugeriu que talvez fosse uma óptima ideia. Disse que me ia mostrar um lugar muito interessante. Pensei que ele me ia levar algures fisicamente, mas não foi assim que a coisa se passou. Uns dias após essa conversa, vinha eu de regresso do que agora chamo a minha viagem de comboio fora do corpo – que provavelmente não é a expressão mais rigorosa, uma vez que é apenas a minha consciência que deixa temporariamente o corpo e a realidade presente. Tinha acabado de voltar ao comboio e estava a dar uma olhadela aos resultados desportivos, no jornal que tinha ido buscar, quando Sneaky resolveu fazer uma breve aparição. Disse-me que me ia levar ao local de férias que tinha prometido. Não fiquei muito impressionado porque estava à espera de algo mais fisicamente real, mas não obstante concordei. Quando o meu comboio imaginário fez uma paragem, ele sugeriu que eu descesse e nesse momento desapareceu.

“A princípio foi difícil ver nitidamente o local onde tinha chegado, mas desde então já lá estive muitas vezes. Foi-se tornando cada vez mais claro e fui capaz de focar os arredores com mais nitidez. É um sítio fantasticamente bonito. Tem uma pequena lagoa. A água era perfeitamente transparente e de quando em quando via-se passar um peixe. Erva alta e flores silvestres rodeavam a lagoa. Anteriormente não tinha visto muitas. Numa extremidade da lagoa havia árvores que pareciam formar uma floresta profundamente densa. As plantas, a erva e as árvores não eram familiares. Sneaky nunca me disse onde aquilo ficava, mas disse que era um lugar real e que existia mesmo. Um bom par de meses passou antes que eu descobrisse que era no Hawaii. Não descobri exactamente onde fica no mapa mas tenciono descobri-lo por várias razões. A razão pela qual eu não reconhecia a vegetação era por ser no Hawaii. Costumava lá ir muitas vezes, mas já não tantas porque ando bastante ocupado com outras coisas, mas naquela altura era um lugar perfeito para ir acalmar a minha mente. Muitas vezes aconteceu, durante as minhas estadias, que uma determinada corça se aproximava de mim e se deitava ao meu lado. Chamava-lhe Bambie. A corça tinha uns olhos lindíssimos, mas o que mais gostava de observar eram as suas orelhas. Eram quase como pratos de radar que giravam em toda a volta. Achei que eram o que havia de mais perfeito. Depois de lá ter estado umas quantas vezes, comecei a ter a impressão de que estava a ser observado, e vim a descobrir que tinha razão. Cheguei à conclusão de que era entre as árvores que algo ou alguém me observava, fosse lá o que fosse. Várias vezes perguntei ao Sneaky mas ele limitava-se a sorrir.

“Houve uma vez em que a lagoa estava completamente calma, quase como uma superfície de vidro. Estava a observar Bambie quando reparei que havia uma ligeira ondulação, como se alguém tivesse atirado à água um pequeno seixo. Olhando para a ondulação, notei que havia qualquer coisa que se ocultava parcialmente atrás de uma árvore. Ao olhar directamente para aquilo, tentando focar a vista o mais possível, aquilo desviou-se da árvore e aproximou-se da beira da lagoa. Parecia humano mas movia-se dez vezes mais depressa. Comecei a ficar um pouco nervoso, mas reparei que Bambie também o tinha visto e não parecia alarmada. Voltei a atenção para o que quer que fosse que me observava e para Bambie. Embora não conseguisse ver muito nitidamente, era fêmea, ou pelo menos parecia ter feições femininas. Parecia vestida de qualquer coisa feita de casca de árvore. Pensei se não seria uma espécie de elfo das árvores, mas o figurino não condizia. Olhei para trás a ver se Bambie ainda estava a observá-la. As orelhas de Bambie estavam apontadas na sua direcção mas não parecia dar-lhe muita atenção. Antes de me voltar novamente para a mulher do outro lado da lagoa, enviei mentalmente uma mensagem que dizia: as árvores são minhas, o lago é meu, vai-te embora. Quando olhei novamente para lá, ela tinha desaparecido. No mesmo instante percebi que ela estava sentada do meu lado esquerdo. Foi um choque, porque eu não conseguia perceber se ela era feia, bonita ou assustadora. Nunca tinha visto nada assim anteriormente. Ela olhava na minha direcção mas não directamente, e não havia contacto visual directo. Numa voz que parecia um murmúrio leve escutado a quilómetros de distância, ela disse: - Que te faz pensar que estas árvores são tuas?

Havia na minha cabeça pensamentos demasiados para responder. Limitei-me a fitá-la. Nada havia nela que parecesse perigoso, mas ao mesmo tempo achei que não devia meter-me com ela. Tinha orelhas pontiagudas, ligeiramente mais compridas do que seria considerado humano. O cabelo era como musgo macio. A pele fazia lembrar casca de árvore da espessura do papel. Tinha dedos e unhas compridos. A configuração do corpo era relativamente próxima da humana e cobria-se parcialmente com o que parecia casca de árvore cortada em fatias delgadas e pendendo do corpo com diferentes comprimentos e envolvendo parcialmente os ombros. Era esguia e media cerca de um metro e meio. O rosto era estreito, com olhos escuros grandes e redondos e sobrancelhas compridas… quase como os olhos de Bambie. Aparecendo no momento errado, podia facilmente ter-me metido um susto, mas à medida que continuava a olhar para ela percebia que afinal era muito bonita, à sua maneira. Emanava um aroma que parecia uma mistura de mel, ramos de pinheiro e flores. Qualquer fabricante de perfumes daria a vida por aquele. O perfume dela era tão encantador que eu tive uma série de pensamentos transviados. Assumi que ela tinha captado os meus pensamentos porque tinha um sorriso definido que me teria embaraçado se não tivesse voltado os olhos para mim. No momento em que estabelecemos contacto visual, pareceu que me fundia no universo. Senti como se fosse um com todas as árvores que viveram desde sempre. Na verdade foi demais para mim e devo ter perdido a consciência, porque quando a recuperei estava de volta ao meu quarto. Quando tornei a ver Sneaky perguntei-lhe por ela, mas ele recusou dizer-me fosse o que fosse.

“Nos seis meses seguintes fui lá com muita frequência. Nesses seis meses aprendi muito com ela. Passávamos o tempo a conversar mentalmente. Ao que parece há muitas delas, embora seja aquela a única que vi até agora. Disse-me que pequenos grupos deles vivem em várias partes do mundo. Parecia saber muito de mim e da minha vida. Quando lhe falei disso ela riu e explicou-me que me conheciam desde pequenino. Quando eu era muito novo costumava passar muito tempo nas imediações de uma pequena lagoa. As pessoas diziam sempre que aquela lagoa estava enfeitiçada. Isto faz sentido, tendo em vista que ela me disse que há um pequeno grupo deles que vive junto da lagoa. Esta lagoa fica precisamente no meio de uma grande e antiga floresta. Havia um pequeno grupo de árvores que parecia distanciado das outras e era como se alguém as tivesse plantado com uma determinada configuração. Ela disse-me que era ali que tinham a aldeia deles. Lembro-me muito bem desse sítio, porque sempre que lá ia tinha a sensação de que estava alguém ao meu lado, ou atrás de mim, mas realmente nunca vi coisa nenhuma. Perguntei-lhe por que razão não os conseguíamos ver nem à aldeia deles. Ela disse que a vibração deles está um furo afastada da nossa, o que os torna invisíveis aos nossos olhos, e também que podemos passar através deles e não sentir nada. Eles podem ver-nos porque a nossa natureza é mais condensada do que a deles, mas eles estão muito próximos da nossa vibração. Perguntei-lhe por que razão Sneaky me levara ali em vez de à velha lagoa onde eu costumava brincar. Ela disse que por causa dos vulcões há muita energia em redor das ilhas, e se eu fui ali fisicamente em certa altura da minha vida, muito provavelmente seria capaz de vê-los fisicamente.

Parei de falar por momentos a decidir o que havia de relatar e o que havia de deixar de fora.

- Se eu quiser lá ir, serei capaz? - Danny interrompeu-me os pensamentos.

- É muito fácil. Tudo o que precisas de fazer é exactamente o que eu fiz: usa a tua imaginação e deixa que o teu comboio imaginário te leve lá.

- Mas eu não sei onde é.

- Não precisas de saber mesmo onde é. Mantém a ideia de que é onde tu queres ir, e hás-de lá ir parar. O importante é que te rodeies de Amor e te tornes irradiante o mais possível, porque doutro modo eles não aparecem. O mais provável é que não te levem à aldeia deles, mas virá alguém falar contigo.

- Porque é que não nos levam à aldeia deles?

- Há muitas razões, mas nenhuma tem a ver com o medo. Se irradiares Amor suficientemente, é possível que te levem à aldeia, porque estarás numa frequência mais próxima da deles. Aliás não irás ver grande coisa lá porque eles têm uma vida muito simples. Se olhares atentamente para a colocação das árvores, muito perto da lagoa, vais ver uma área em que as árvores parecem obedecer a um padrão diferente. É aí que fica a aldeia. Para tua surpresa, podes até notar que as pessoas evitam aquele lugar ou nem sequer o vêem.

- Então quando é que vais? – perguntou Neena com um sorriso.

- Dentro de dois anos, se tudo correr de acordo com os meus planos. Estava a pensar arranjar uma casa pequena na praia para estar perto dos golfinhos. Aparentemente, este povo está muito intimamente ligado aos golfinhos e às baleias. É uma história muito comprida para falar dela agora, mas a questão é que os golfinhos e as baleias estão de partida. Já há muito tempo que sei disto, e ela confirmou. Se não houver pessoas suficientes a enviar Amor pelo menos várias vezes por semana, em menos de quinze anos bem podemos despedir-nos deles. A questão resume-se a isto.

- Muita gente quer fazer qualquer coisa mas não sabe o que fazer – disse Neena. – Se não escreveres o teu livro nunca ninguém saberá o que pode fazer e o que é capaz de conseguir.

- Eu sei – respondi. – Tenho pensado muito nisso. Acho que não tenho a certeza se haverá pessoas que vão acreditar ou dar uma hipótese de verificar os resultados por si mesmas.

- Só há uma maneira de descobrir, não é? – Acenei que sim com a cabeça.


Confiar abertamente

Ultimamente tenho pensado muito na confiança, em parte porque algo aconteceu que tocou aquela parte de mim que guardo tão bem escondida.

Pergunto a mim mesmo de que é que tenho medo.

Pergunto a mim mesmo se alguma vez verdadeiramente confiei, ou se não foi mais que uma ilusão temporária.

Pensei em quantas coisas maravilhosas destruí por causa da minha falta de confiança.

Nada na minha vida aconteceu que eu não conseguisse controlar, todavia a questão permanece: porque é que tenho medo?

Não há relação que funcione sem confiança, quer se trate de amizade, Amor, trabalho ou brincadeira.

Tudo vem dar ao mesmo: confiança.

Talvez seja em mim mesmo que não confio.

Confio que vou ser capaz de tomar sempre as decisões justas?

Possivelmente? Talvez? Afinal, quem melhor do que eu sabe o que é melhor para mim?

Ouvi dizer que se fazemos o que está certo para nós, isso é egoísmo, mas sei que, se não fizermos o que está certo para nós, isso torna-se destruidor.

Onde está pois o equilíbrio?

E que me acontecerá se eu me limitar a dizer “que se lixe!” e apenas confiar?

E talvez a questão seja em quem confio…

Bom, isto não resultou, pois não? Parece que voltei ao ponto onde comecei.

Bom, isso deixa-me uma oportunidade, não é?

Espero que isso não seja tão doloroso como tem sido a minha falta de confiança.

Por outro lado, Primeiro as Senhoras!

 

Capítulo Trinta e Quatro

- Estava eu a pensar… - Danny interrompeu os meus pensamentos.

- A parte sobre enviar Amor faz todo o sentido para mim. Mesmo não sabendo verdadeiramente como funciona ou exactamente donde vem o Amor, percebo que deve funcionar e provavelmente muitíssimo bem. Mas o que disseste acerca do tempo e dos acontecimentos prováveis e de tudo supostamente acontecer ao mesmo tempo – isso não me faz sentido.

- Compreendo o que dizes. Eu vejo as coisas desta maneira: quando aprendo qualquer coisa como enviar Amor, a princípio não estou interessado em saber exactamente como funciona mas apenas em duas coisas: que funciona e como proceder. Assim, o que eu faço é aceitar temporariamente a possibilidade de que funciona e de a usar com determinada finalidade. Depois aceito a possibilidade de ser capaz de o fazer, porque se gasto o tempo todo a imaginar como funciona, leva uma eternidade, e entretanto não usufruo os benefícios do que acabei de aprender. Descobri que, quando procedo com um pouco de confiança e avanço com certa informação, a informação de como a coisa funciona parece que se vai revelando pouco a pouco por si mesma. Significa isto que não tenho de encher a cabeça de conceitos muito difíceis de entender. Por isso eu te disse antes que dividisses o todo em pequenas unidades, como num quebra-cabeças. Tens uma peça do quebra-cabeças que diz que podes enviar Amor, e tens outra peça que te diz como fazer. E se usares essas peças, cedo vais ter muitas outras pecinhas, e cada uma delas vai dizer-te quais são os resultados de enviar Amor. Quando juntas essas peças todas, forma-se no teu espírito uma imagem, e lentamente vais aprendendo como tudo funciona. O que é verdadeiramente importante? É compreenderes tudo sobre o Amor ou teres capacidade para o usar a fim de tornar mais bela a tua vida e tudo o que te rodeia?

Neena interrompeu: - Acho que o problema que se põe ao Danny é a maneira como descreves o tempo e os momentos prováveis. Não chegaste a pôr esses conceitos em pacotes pequenos, como fizeste com o Amor e as apostas. Percebes o que quero dizer?

Danny concordou com a cabeça.

- Acho que sim. Posso pôr isso em pequenos pacotes que podes alterar ligeiramente e aceitar temporariamente para fazeres uso da informação para melhorar a tua vida.

Pensei um momento no assunto.

“Há por aí livros no mercado que fazem um grande esforço para explicar como tudo funciona na realidade. Mas isso levar-me-ia uma eternidade para explicar. É uma pesquisa que vocês podem fazer, se quiserem. Não terminei a minha própria aprendizagem. É uma coisa que vai continuando. Cada dia acrescento uma nova peça ao quebra-cabeças. É assim que eu arrumo as peças: primeiro, aceito que consisto numa mente consciente e numa mente subconsciente. Parece haver também um eu interior, que é como haver outra mente subconsciente mais profunda. Depois há o que eu chamo a minha alma, que consiste em tudo o que eu sou. E aí está uma peça completa.

“A seguir pego no tempo e separo-o de tudo o mais, de maneira que fica quase uma coisa em si mesma. O tempo toma momentos simples, tal como um filme é feito de muitas imagens singelas, e cria a ilusão de que acontecem uns a seguir aos outros.

“Depois pego numa peça que diz a minha alma vive de um modo intemporal em que todas as coisas acontecem ao mesmo tempo, ou de certo modo já aconteceram.

São os nossos pensamentos que criam a realidade em que vivemos. O que eu fiz com isto foi aceitar temporariamente que quando me concentro em certas coisas e acredito verdadeiramente que é assim que elas são, ou acredito verdadeiramente que uma determinada coisa vai acontecer – então ou o meu eu interior ou a minha alma coloca isso na minha experiência de vida física. À medida que vou juntando as peças, elas começam a dizer que o meu passado, o presente e o futuro estão a acontecer no mesmo momento; só do meu ponto de vista é que parece ser diferente. Isto quer dizer que posso avançar no tempo e passar tempo com o meu futuro eu, porque de facto ele existe no mesmo momento que eu. Há mais uma peça importante que é difícil de aceitar, mas podemos usá-la em nosso proveito. Digamos que vocês estão a resolver se vão ao cinema ou se ficam em casa. Existem portanto duas possibilidades e vocês têm de tomar uma decisão sobre qual das duas hão-de experimentar. Vocês podiam ficar em casa e entrar num estado de espírito alterado e colocarem-se à margem do tempo e experimentar ambas.

“Eu sei que isto é terrivelmente confuso. Para ser franco, há muitas ocasiões em que isto me baralha bastante, mas já fui suficientemente longe para poder usar esta informação e mudar totalmente a minha vida e criar as experiências que desejo experimentar fisicamente. Podem criar-se instantaneamente as coisas que desejamos; depende de acreditarmos que é possível. Se tudo aquilo em que pensamos fosse instantaneamente criado, chegaríamos ao ponto de se cair num pesadelo infernal, por isso as nossas crenças formam um amortecedor.

- Bom, mesmo tendo ficado agora mais confuso, posso aceitar isso temporariamente. Mas não compreendo como é que vou usar isso. Vamos supor que eu pretendo um novo emprego. Como é que havia de proceder para fazer isso acontecer? – Danny parecia ainda duvidoso.

“Essa é a parte fácil. Faço isso todos os dias assim que me levanto pela manhã, antes de fazer mais qualquer coisa. Sento-me e escrevo exactamente o que vou experimentar nesse dia. Não entro em pormenores mas escrevo cerca de uma página. Isto levou algum tempo a fazer efeito porque tive de criar a crença de que ia resultar, mas ao fim de cerca de 20 dias começou realmente a funcionar. Assim, depois de escrever o que quero, aceito isso na minha mente e formo então a respectiva imagem. O que imagino é exactamente o que escrevi e a sensação que me dá. Depois, simplesmente canalizo uma enorme quantidade de Amor para essa imagem. Canalizo lá para dentro tanto Amor quanto me é possível lá meter, até sentir que está pronta para explodir. Depois deixo andar e observo-a a desenrolar-se à medida que o meu dia vai passando. Algumas coisas acontecem instantaneamente, tão depressa que me põem a cabeça à roda. Outras parecem demorar um pouco mais, mas eu trabalho-as todos os dias até virem à luz. Mantenho um pequeno diário das coisas que experimento cada dia. Se olharmos para as duas, notamos como coincidem maravilhosamente. O essencial é que de facto não importa saber exactamente como é que funciona, mas sim que funciona e que sabemos como fazê-lo funcionar. Há outras maneiras de se fazer o mesmo, mas o verdadeiro segredo é adicionar Amor, porque quando fazemos isto com Amor, a maior parte das vezes resulta melhor do que esperamos. Todas as outras pessoas que associamos a isto são também beneficiadas. O Amor parece também anular o carácter competitivo, o ganha-perde de todas as situações, e toda a gente parece sair vencedora. Não faço ideia absolutamente nenhuma de como o Amor que envio para o que escrevi entra na minha realidade física, mas neste momento estou mais interessado no facto de que funciona.


Relações

As relações são simples

Antes de dizer qualquer coisa ou de planear fazer qualquer coisa, pergunta

“Isto vai-me aproximar

Vai criar um sentimento de unidade e Amor?”

Se vai, é bom

Se não vai, pergunta a ti próprio

“Porque é que estou a destruir isto?”

Um milhar de relações falhadas

Estará na tua frente a responder-te.

(Podemos abordar, debater e discutir seja o que for,

mas basicamente tudo se resume a isto)


 

Capítulo Trinta e Cinco

Levantei-me. – Preciso de esticar as pernas.

Olhei para o relógio a ver se já tinha começado outra vez a trabalhar, mas continuava parado. Viam-se ainda gotículas de água debaixo do mostrador. Estava a ficar muito cansado e sentia o meu rosto a começar a descontrair-se e relaxar. Danny parecia também bastante cansado. Neena parecia fresca que nem uma alface. Deve ser uma noctívaga, pensei, estirando os braços para restabelecer a circulação.

- Há coisas que ainda não compreendo bem – disse Danny. – Aparentemente, Sneaky não é um anjo. Correcto?

- Exactamente. – Tornei a sentar-me.

- Então ele é o teu futuro eu – arriscou ele.

- Acho que podes dizer isso. Foi o que pensei na altura, mas digamos simplesmente que esse tempo só existe na realidade física de que nos apercebemos. Porque agora aceitei temporariamente uma nova ideia: não existe verdadeiramente uma parte futura ou passada de mim mesmo; são eus prováveis. Notei isso ao deslocar-me no tempo para a frente e para trás; nem sempre deparo com o mesmo eu passado. É como se o passado tivesse tido muitas probabilidades e houvesse inúmeras opções. O essencial, pelo menos da maneira como vejo agora, é que todas as possibilidades foram vividas, e é como se estivéssemos a reproduzir os diferentes momentos por vária ordem.

Percebi que estava novamente a passar das marcas.

- Provavelmente é melhor falarmos disso simplesmente como eus passados, presentes e futuros, pois doutro modo fica tudo realmente confuso.

- Porque é que o teu futuro eu havia de voltar atrás fingindo que era um anjo? – perguntou Neena.

Visivelmente ela já sabia a resposta.

- Porque ele tem um sentido de humor doentio. Foi bastante divertido, e se e quando for a minha vez de fazer este tipo de coisas, provavelmente farei a mesma coisa. O que faz sentido, uma vez que ele é eu e eu sou ele.

Danny perguntou: - Que aconteceu a seguir?

“Depois de Sneaky me deixar passei algum tempo a pensar naquilo tudo. Tentei colocar tudo em perspectiva e de certo modo levar a minha mente a compreender a totalidade. Estava curioso de saber exactamente quem era o Sneaky e de que ponto do futuro ele vinha. Queria também saber o que iria ser da minha vida e de mim nos próximos anos. Preparava-me para passar umas semanas visitando o futuro. Queria regressar ao futuro eu, que tinha visto numa cabana, sentado numa espreguiçadeira, antes de tudo isto verdadeiramente começar.

Fiquei a cogitar qual seria a melhor maneira de explicar aquilo.

- O que é que acabaste por ver? – perguntou Danny.

“Antes de responder gostaria de dizer que isto não surgiu tudo num dia. Custa uma boa fatia de esforço e concentração e pode ser exaustivo. Naquela meia dúzia de semanas não passei muito tempo com as apostas nem a enviar Amor.

“Primeiro andei para a frente só uns poucos anos, mas não sei dizer exactamente quantos; talvez três ou quatro. Fui ter a um eu futuro provável que passava uma temporada no Hawaii. Não era muito falador, mas disse-me que estava ali a trabalhar com os golfinhos. Parecia não estar sozinho, mas não quis dizer-me com quem estava. Disse-me apenas que se falasse demais ia arruinar a nossa linha do tempo e acabaríamos por criar várias probabilidades novas. Não percebi o que ele quis dizer, mas acrescentou que tudo começaria a fazer sentido muito em breve e que a minha principal preocupação devia ser trabalhar com o Amor.

“Foi estranha a tentativa bem sucedida que fiz a seguir. Tinha feito muitas tentativas mal sucedidas. Ou caía no sono ou acabava a sonhar. Consegui regressar ao mesmo eu futuro que tinha visto a primeira vez. Vi o meu futuro eu sentado numa espreguiçadeira em frente de uma braseira e Sneaky sentado à esquerda dele. No momento em que eu cheguei, Sneaky desapareceu. No mesmo momento pensei ter visto uma mulher que correu para dentro de casa. Fiquei ali uns minutos a contemplar o meu futuro eu. Não parecia muito diferente, excepto por usar um rabo de cavalo, coisa que eu não tinha nos planos do meu eu presente. Pensei ver alguém espreitar através duma janela, mas não consegui ver quem era.

“Perguntei ao meu futuro eu, que ali estava sentado, a sorrir de olhos fitos em mim, onde tinha ido o Sneaky.

- Está em trânsito para outras probabilidades, fazendo a mesma coisa que fez contigo - respondeu o meu futuro eu. - Andava por aí para ter a certeza que conseguias cá chegar.

- Então ele não é um verdadeiro anjo!

- Não, o que ele tem é o nosso sentido de humor. Ele estava a tentar poupar-te a agonia de teres de olhar para ti mesmo tal como és. Tenho a certeza que estamos de acordo que nem sempre é a experiência mais agradável, pois não?

- Então e agora?

- Precisas de escrever sobre tudo isto e explicar todas as diferentes coisas que uma pessoa pode fazer com o Amor.

- Não vai ser muito fácil. Vai ser quase impossível levar as pessoas a acreditar que algo tão simples possa ter um efeito tão poderoso nas suas vidas e em tudo o mais.

- Já o fizemos. Tudo o que na realidade estás a fazer é revivê-lo numa forma de probabilidade ligeiramente diferente.

- Se já o fizemos, por que preciso de o fazer outra vez?

- Porque ainda não está feito na tua probabilidade.

- Então tu não és realmente o meu futuro eu?

- Sim e não. Somos a mesma coisa. Posso ser um eu futuro na tua probabilidade ou posso ser apenas um eu provável. Mas isso não é importante neste momento. Tens é de tratar de adquirir o máximo de experiência possível com o Amor e de passar esta informação a outros. O resto irá ao sítio mais tarde. Precisas também de te concentrar em criar tudo o que queiras experimentar na tua vida. Precisas de aprender a fazer isto com o Amor, de maneira que tudo o que criares na tua vida não só fique cheio de Amor mas seja verdadeiramente criado pelo Amor. Percebes a diferença entre um objecto criado com Amor e um objecto criado com sangue, suor e lágrimas?

- Compreendo… Quem é a pessoa que correu para dentro de casa?

- Decidimos que de momento era melhor não veres quem ela é – respondeu. – Mas mais tarde vais compreender porquê.

“Estava a começar a flutuar, e como achei que não conseguia ficar ali muito mais tempo, fiz uma última pergunta:

- Que aconteceu com aquela história da lotaria?

- Esquece – disse ele. – Há maneiras melhores de se usar o Amor. Hás-de ver o que quero dizer.

“Ele continuou a falar mas eu já tinha começado a desvanecer-me e momentos depois perdi a consciência.

Esfreguei os olhos.

“E é isto. Desde então tenho passado a maior parte do tempo a trabalhar com o Amor, o que tem sido uma experiência de mão cheia. E a mesma questão permanece: como é que eu vou escrever sobre isto? Onde é que começo e onde é que acabo? Na realidade isto nunca pára. Parece que cada dia aprendo algo novo sobre o enviar Amor e experimentar coisas novas. E quem é que vai acreditar numa coisa tão invulgar?

- Escreve exactamente da maneira que nos contaste – disse Neena. – Quanto às pessoas acreditarem, é uma decisão que cada uma tem de tomar por si mesma.

- Mas não é demasiado confuso e surpreendente? – perguntei.

- É isso que torna o assunto interessante - disse Danny. – Dá matéria para se reflectir.

- Concordo! – disse Neena. – Mas talvez possas descrever algumas experiências que tiveste a trabalhar com o Amor e algumas maneiras diferentes de enviar Amor.

Danny concordou com um aceno de cabeça.

- És capaz de ter razão – disse eu. - Preciso de ir à casa de banho. Volto já.

Puxei o meu banco para trás e dirigi-me à casa de banho. De facto não precisava de lá ir, o que queria era estar uns momentos a sós.

Pus o tampo da sanita para baixo e sentei-me. Estava a reflectir no que tínhamos conversado quando reparei que vinham vozes do bar. Pensei que tinha chegado um grupo de pessoas para tomar uma bebida, mas não liguei. Ao cabo de mais uns minutos de contemplação profunda, levantei-me e lavei as mãos. Ao sair da casa de banho mal pude acreditar no que via. Deviam estar no bar pelo menos umas dez ou doze pessoas. Quando me dirigia ao sítio onde estivéramos momentos antes, vi que já não era Danny que estava atrás do balcão mas uma outra pessoa. Neena também já se tinha ido embora e estava uma mulher sentada na cadeira dela, em conversa com outra mulher sentada ao lado. O meu banco continuava desocupado. Postado atrás do meu banco com uma mão no casaco, o meu rosto devia reflectir uma expressão de grande perplexidade. O empregado do bar dirigiu-se a mim e disse que Neena e Danny tiveram que sair.

- Que posso servir-lhe? – perguntou.

Após um momento de reflexão, respondi calmamente: - Talvez apenas a conta.

- A conta está paga. – Ele meteu a mão debaixo do balcão. – Danny deixou uma coisa para si. – E pousou a garrafinha verde em cima do balcão.

Peguei na garrafa e tirei o casaco do banco. Procurei os meus cigarros mas já lá não estavam.

Agradeci ao empregado do bar e, depois de olhar em volta pela última vez, dirigi-me para a porta de saída. Ao chegar ao passeio parou um táxi ao pé de mim. Abri a porta e dei ao motorista o endereço de minha casa.

O motorista e eu não falámos muito durante o percurso para casa, mas lembro-me de ele ter dito: - Uma noite estranha, não é?

- Sem dúvida. – E fiquei por ali.


Mudando para uma Realidade Provável

De cada vez que se toma uma decisão,

Cria-se um universo inteiro em que a decisão é executada.

De facto ele já existe, e como o tempo não é linear,

Qualquer decisão pode ser revogada,

Como se nunca fosse executada na nossa realidade em primeiro lugar.

É tão fácil fazer isto

Que toda a gente o faz constantemente de uma forma inconsciente.

No momento em que uma decisão é tomada,

Entramos no universo provável e na realidade

Em que essa decisão é executada.

Não são só as decisões que provocam a mudança,

Mas também os pensamentos e aquilo em que acreditamos.

Por exemplo, se pensarmos e acreditarmos que não gostam de nós, essa é a realidade provável para a qual somos atirados.

E lá ficaremos até mudarmos as nossas crenças,

Ou até que alguém venha até nós e nos faça mudar as nossas crenças e pensamentos.

Mas isso nunca vai acontecer até passarmos para uma realidade amorosa,

Coisa que não podemos fazer até que mudemos o que pensamos e acreditamos.

E assim andamos em círculos,

Experimentando continuamente os mesmos resultados finais.


Mudar a Realidade

Primeiro temos de separar o que vemos, ouvimos e experimentamos

Das nossas crenças e pensamentos.

Isso começa a libertar-nos do universo provável

Que experimentamos agora.

Depois mudamos crenças e pensamentos

Até ao ponto de experimentarmos o que queremos na nossa mente.

Quando pensamentos e crenças começam a ganhar posição,

Começamos a mudar.

A princípio a transição passa despercebida,

Mas à medida que o tempo avança e com a prática, podemos começar a ver as mudanças.

Ou talvez, se preferirmos, possamos esperar

Até que os cientistas descubram um processo mecânico. Mas isso é se vivermos até lá.

Ouvi dizer que se acreditássemos verdadeiramente

Numa coisa, então já a teríamos.

Nesse caso, é por não acreditarmos

Que não a temos,

E talvez os nossos pensamentos não estejam em sintonia com o que nós queremos.


Capítulo Trinta e Seis

Quando cheguei a casa nessa noite, estava exausto. Preparei qualquer coisa para comer e depois meti-me na cama. Levantei-me bastante tarde na manhã seguinte, e depois de tomar um banho e o pequeno-almoço, resolvi apanhar um autocarro e descer à cidade para ir buscar o meu carro. Sentado no autocarro, pensei na noite anterior. São muito escassas as probabilidades de acontecer uma coisa daquelas. Tudo foi executado na perfeição, tal como uma peça ensaiada durante meses. E eu caí que nem um patinho. Pergunto a mim mesmo quem eram Danny e Neena na realidade e como é que eles poderiam saber quem eu era. Talvez um dos meus futuros ou prováveis eus os conheça e os tenha enviado para ajudar. Mas isso não resolve a questão de saber como é que se projectaram na minha realidade exactamente no momento certo.

Para chegar ao meu carro tive de caminhar alguns quarteirões, o que me deu tempo para aclarar as ideias. Resolvi descer a rua onde ficava o bar da Neena e dar uma olhadela durante o dia. Já tinha estado naquela rua muitas vezes e nunca lá vira aquele bar.

É uma rua de sentido único, pelo que tive de me adiantar alguns quarteirões para depois voltar para trás e passar pelo sítio onde ficava o bar. Quando cheguei encostei o carro ao passeio; não havia nenhum bar, apenas dois edifícios grandes um ao lado do outro. Não queria acreditar. Sabia onde tinha estado na noite anterior, quanto a isso não havia qualquer dúvida. Resolvi estacionar o carro e voltar atrás. Perguntei a várias pessoas se tinham ouvido falar do bar da Neena. Ninguém conhecia. Procurei na lista telefónica mas não estava na lista. Aquele bar não existe nesta realidade, ou pelo menos neste momento.

Ainda hoje eu não tenho verdadeiramente uma resposta. Tudo quanto posso dizer é que talvez aquelas pessoas saibam mover-se em diferentes probabilidades e sejam obviamente muito boas nisso. Ou talvez eu tenha entrado na probabilidade deles. Não me lembro de ter feito nada de especial nessa noite que pudesse dar origem a uma coisa assim. Seria uma coisa interessante de se aprender. Nunca me detive à procura das respostas e jamais o farei. Algum dia hei-de descobrir, é só uma questão de tempo. Talvez eu o faça ontem.

Bom, mas no que diz respeito ao Amor, nos últimos anos passei o máximo de tempo possível a trabalhar com o Amor e fiz uma série de descobertas fascinantes. Não consigo descrever por palavras as coisas que se podem realizar usando o Amor. Tudo assenta no facto de, como indivíduos, termos capacidade para enviar e receber quantidades maciças de Amor. No resto deste livro vou referir algumas das minhas experiências com o enviar Amor e algumas das diferentes maneiras como o faço. Enviar Amor e trabalhar com o Amor pode ser uma das coisas mais fáceis que se aprendem a fazer. Penso que é por isso que muitas vezes as pessoas têm dúvidas sobre se isto realmente funciona. Parece que pensamos que, se não houver esforço, a coisa não pode ter grande valor, mas isso não é verdade.

O que vos contei neste livro é verdade, ainda que muitas coisas foram deixadas de fora para que não se tornasse demasiado confuso. Não espero que acreditem em nada do que escrevi e, para ser totalmente honesto, se outra pessoa me contasse esta história, provavelmente também eu próprio não lhe daria crédito. O que verdadeiramente espero é que o leitor possa aceitar a ideia de que possui capacidade para enviar Amor, e que nessa conformidade faça ao menos uma tentativa. Uma vez verificados os resultados por si mesmo, não restará nada para dizer.

A minha vida mudou tanto que, sempre que olho para trás, tudo o que posso fazer é abanar a cabeça. No passado não houve nada que realmente funcionasse a meu favor. Parecia que tudo aquilo em que eu tocava se convertia em pó. Agora é exactamente o contrário. Não seria capaz de cometer um erro se o tentasse. Tudo aquilo em que toco resulta perfeitamente e na hora H. Se pretendo uma coisa, escrevo-a no meu computador e depois simplesmente encho a ideia de Amor até ficar a rebentar pelas costuras. Depois é só sentar-me e esperar, ou seguir a indicação dos meus instintos, para onde devo ir, que fazer, e o que eu queria cai-me nas mãos. Em geral é excepcionalmente melhor do que eu esperava.

Outras pessoas têm experimentado isto e tem resultado com elas da mesma maneira que comigo, por vezes ainda melhor.

Se o leitor se admira de nunca ter ouvido falar de enviar Amor ou nunca ter lido nada sobre o assunto, a história não é fácil de contar e é bem comprida. Estou ainda a afinar alguns pormenores. A quantidade de esforço e energia dispendida para manter esta informação secreta é espantosa e em muitos aspectos mesmo chocante. Normalmente eu faria o possível por que este livro nunca chegasse ao mercado aberto, excepto pelo facto de ter o sentimento de que, em toda a minha vida, nunca estive sozinho. Ao escrever isto sinto qualquer coisa a espreitar-me por cima do ombro. Não faço ideia do que seja, mas sinto-me seguro e imparável, pelo menos no tocante a este material.

E é assim. Aceite o que lhe agradar e deixe o resto.

Todo o meu Amor para si na sua caminhada. Por que não fazê-la com Amor? Não temos nada a perder, tudo a ganhar.

E o jogo continua…

Epílogo

(opcional)

As Instruções

Introdução

Quando falo na capacidade que temos de enviar Amor a outras pessoas, parece que elas se preocupam com a possibilidade de uma pessoa controlar outra. O Amor não controla. Não há nada no Amor que permita controlar ou manipular. O Amor tem a capacidade de afectar o comportamento duma pessoa e o modo como se sente. Uma pessoa que sente Amor e está rodeada de Amor tende a comportar-se de maneiras diferentes de outra que se sente rejeitada, zangada, deprimida. Quando uma pessoa está zangada, triste, deprimida, ou se sente rejeitada, os seus actos reflectem a falta de Amor. A quantidade de Amor que uma pessoa tem está directamente associada às suas acções, palavras, pensamentos e comportamento. Normalmente aceita-se que não se pode fazer muito, mas isso não passa de ilusão. Temos capacidade de enviar quantidades maciças de Amor a pessoas, animais, plantas e ao ambiente que nos rodeia. Os resultados podem ser impressionantes. As crianças são um exemplo perfeito. As suas acções são um reflexo imediato e perfeito da quantidade de Amor que elas têm. O simples facto de alguém as amar não significa necessariamente que elas recebam esse Amor, e aí é que está a diferença. Amar alguém é maravilhoso, mas é no enviar-lhe Amor que realmente se vê a magia.

A quem enviamos Amor? A toda a gente. Filhos, amantes, amigos, colaboradores, pessoas que conhecemos, pessoas que governam as nossas cidades e países, toda a gente que encontramos. Podemos encher as nossas casas de Amor, envolver as nossas cidades em Amor, enviar Amor aos nossos animais e plantas de estimação. Talvez o leitor fique muito agradavelmente surpreendido ao ver como as plantas se dão bem quando estão rodeadas de Amor. Nada impede ninguém de encher um campo inteiro de Amor. Podemos enviar Amor aos alimentos que comemos e que servimos. E por aí adiante.

O Amor é muito magnético. Atrai para si mais Amor e alegria. Observei pessoas a mudarem mesmo em frente dos meus olhos e ficarem mais felizes, mais alegres, descontraídas e tranquilas. É um sentimento maravilhoso ser-se capaz de ajudar os outros, considerando como é fácil.

A todos os sítios aonde vou, seja uma festa, um encontro ou uma simples reunião, primeiro envio sempre Amor, o que faz toda a diferença. O Amor é muito magnético, e se nos enchermos de Amor até ao ponto em que ficamos radiantes de Amor, não tardamos a verificar que as pessoas são atraídas para nós e tentam ficar ao pé de nós. Isto é muito natural; afinal, se estivermos numa festa, de quem tendemos a aproximar-nos? Duma pessoa que esteja radiante de Amor ou duma pessoa que se sinta infeliz e rejeitada? Quanto mais Amor irradiamos e quanto mais se aproximam as pessoas e os animais, mais Amor recebem e mais alegres e felizes ficam. Em suma, é uma experiência incrível para toda a gente; há uma sensação de alegria, de paz, de abertura, de solidariedade.

A fim de se enviar Amor a outras pessoas, animais, plantas ou mesmo ao mundo, é necessário abrir o coração e deixar o Amor fluir. Não só é tão fácil como respirar, como também, de cada vez que se envia Amor, recebemos nós próprios mais Amor, porque o Amor vem de dentro de nós e tem de nos percorrer a nós antes de ser enviado para o exterior. E isto é uma dádiva indescritível.

Abrir os corações e tornarmo-nos radiantes de Amor é uma coisa perfeitamente natural e acontece muitas vezes a um nível inconsciente. Por exemplo, quando seguramos nos braços um bebé, ou um gatinho ou um cachorrito, o nosso coração começa a abrir e começamos a sentir Amor e a irradiar Amor. Quando nos apaixonamos por uma pessoa, essa pessoa torna-se o mecanismo que desencadeia o abrir do nosso coração, mas vem o tempo em que esse mecanismo se gasta, e então perguntamos a nós mesmos por que é que já não sentimos tanto Amor como dantes. Geralmente é aí que os problemas começam. Mas quando temos a capacidade de abrir o coração por nós próprios, conscientemente, e de enviar Amor à outra pessoa, o Amor pode continuar a crescer em vez de secar como uma poça de água ao Sol quente. Não tem limite a quantidade de Amor que se pode sentir e experimentar. Mesmo sem termos uma relação, podemos continuar a sentir Amor e a sentirmo-nos amados. Não há razão nenhuma para termos de esperar, dia após dia, que venha alguém que nos abra o coração. Nós temos aptidão para abrir os nossos corações, para nos enchermos a nós próprios e irradiarmos Amor, atraindo assim mais Amor.

Quando aprendi a enviar Amor, isso tornou-se a alegria da minha vida. Pela primeira vez na vida, senti realmente que podia fazer a diferença. E que diferença isso fez na minha vida! Quanto mais Amor irradio, mais experiências e coisas boas atraio para mim. Quanto mais trabalho com o Amor, tanto mais parece que tudo me favorece e resulta na perfeição.

Relaxar e Deixar Andar

Na aprendizagem de como abrir o coração, enchermo-nos a nós próprios de Amor e enviar Amor, a parte mais importante é aprender a relaxar completamente e deixar todos os outros pensamentos. É muito importante, durante qualquer dos exercícios seguintes, mantermo-nos concentrados e abandonar todos os outros pensamentos. Se der por si a divagar, simplesmente torne a concentrar-se e prossiga. Com um pouco de prática e de tempo, vai achar isto cada vez mais fácil. A não ser que tenha praticado exercícios de relaxação e meditação, o melhor será deitar-se ou sentar-se sossegado em lugar onde não seja incomodado, e passar uns momentos a limpar a mente e a relaxar totalmente o corpo. Com a prática, vai poder abrir o coração e enviar Amor praticamente em qualquer lugar e em qualquer momento, porque vai ser capaz de relaxar o corpo e instantaneamente esvaziar a mente e concentrar-se no coração.

Há um sentimento que vem quando se abre o coração. É difícil de aprender se não começarmos a aprendê-lo num ambiente tranquilo e sossegado. É assim porque quando o corpo está totalmente relaxado e a mente limpa e calma, há uma certa percepção sensorial interior. Isto é importante porque é então que surgem os sentimentos associados com o abrir o coração.

Mesmo sendo capaz de enviar Amor praticamente em qualquer sítio, como ao andar de autocarro ou a conduzir um automóvel, ainda passo todos os dias 15 a 20 minutos deitado, inteiramente concentrado em abrir o coração e irradiar Amor. Parece que de cada vez isto aumenta fortemente a minha capacidade.

Há muitos livros no mercado sobre relaxar e acalmar a mente, pelo que não vou entrar no assunto com demasiado pormenor. Se achar que é melhor para si relaxar escutando uma gravação de meditação ou alguma música relaxante e tranquilizante, isso parece resultar muito bem e não interferir com a sua capacidade de abrir o coração.

Eis o que eu faço, tanto sentado como deitado. Primeiro relaxo totalmente o corpo, assegurando-me que cada músculo ficou relaxado, até os músculos do rosto. Faço isto fingindo que vou dormir e digo ao meu corpo que vamos dormir uma sesta. Mando o meu corpo dormir enquanto esvazio a mente de todos os pensamentos. A forma como esvazio a mente é muito semelhante à das instruções para avançar no tempo. Imagino que a minha mente está ligada à parte maior de mim mesmo. Não importa o que chamamos a esta parte. Basta ligarmo-nos a ela e deixar que todos os pensamentos e preocupações se desvaneçam. Faço isto por meio do que eu chamo audição interna. Ponho toda a minha atenção e concentração em escutar essa parte maior de mim mesmo. Depois, é só uma questão de concentrar a mente em abrir o coração e enviar Amor, seja qual for a opção do momento.

Se o leitor tiver grande dificuldade em evitar que a mente divague, continuando os pensamentos a afluir, imagine um raio de luz extremamente brilhante penetrando no alto da cabeça. Atinge directamente o centro do cérebro e expande-se a partir daí. Isto parece limpar completamente todos os outros pensamentos.

Para se obterem os melhores resultados é necessário que o corpo fique totalmente relaxado e mesmo a dormir, e a mente esvaziada de tudo excepto daquilo que se tem em vista. Após um pouco de prática somos capazes de abrir o coração e enviar Amor em qualquer altura, mas a longo prazo descobri que consigo o máximo resultado quando me deito e deixo o meu corpo adormecer, enquanto a mente permanece desperta mas concentrada.

Aí está. É simples. Por vezes há pessoas que me dizem não dispor diariamente de 20 minutos livres para isto. Compreendo, porque parece que passam a maior parte do dia a tentar pôr em ordem toda a porcaria que aparentemente lhes acontece. Pergunto a mim mesmo por que lhes acontece tanta desgraça quando os meus dias se passam num feliz encantamento! Se calhar são esses vinte minutos que passo diariamente a enviar Amor. Que lhe parece, leitor?

Abrir o Coração, Encher-se de Amor e Envolver-se nele

Abrirmos o coração, enchermo-nos de Amor e envolvermo-nos nele é tão fácil de fazer que se poderá pensar que possivelmente não resulta, mas resulta mesmo e é coisa muito natural. Eu finjo que existe uma válvula junto do meu coração, no centro da parte superior do meu tórax. Quando nos apaixonamos por alguém, esta válvula imaginária abre-se, e a maior parte do Amor que sentimos vem, por assim dizer, de nós mesmos. Também ficamos radiantes de Amor, e à medida que nos ligamos mais com a outra pessoa por quem nos apaixonámos, começamos a receber o Amor dela e também lhe enviamos o nosso. Quando nos apaixonamos, a outra pessoa converte-se no mecanismo que desencadeia a abertura daquela válvula e permite que o Amor flua, mas com o tempo, as coisas que esta pessoa diz ou faz, e que abriram os nossos corações, pouco a pouco vão deixando de ter efeito. É por isso que às vezes o Amor que sentíamos a princípio parece lentamente dissipar-se. Como podem imaginar, isto provoca uma série de problemas numa relação. Muitas vezes leva ao fim da relação, e é nesse ponto que os nossos corações começam a fechar-se cada vez mais; é daí que provém a parte maior do desgosto que sentimos. E a dor cresce cada vez mais, à medida que o nosso coração se fecha. Mas nós temos a capacidade de abrir o coração por nós próprios. Não há necessidade de sentirmos a dor provocada pelos nossos corações a fechar. Podemos abrir continuamente os nossos corações, cada dia mais, e enviar este Amor um ao outro por forma que, à medida que vão passando os dias e os anos, experimentamos cada vez mais Amor. Não há limite para a quantidade de Amor que podemos sentir, ter e experimentar. Várias pessoas me têm dito que, à medida que uma relação se desenvolve, há um ponto em que se torna confortável e segura. Concordo. Alcançaram uma quantidade aceitável de Amor… menos do que tinham em certa altura da relação, mas mais do que tinham antes. Mas porquê estabelecer esse limite? Por que não continuar a crescer em Amor e permitir que o Amor cresça mais? Toda a gente sonha experimentar mais Amor, mesmo que tenha vivido uma relação muito boa durante muito tempo. É natural que queiramos continuamente crescer e experimentar mais Amor. E o que há de realmente belo na nossa capacidade de abrir o coração é que não precisamos de esperar por uma relação para sentirmos Amor e ficarmos radiantes de Amor. É apenas uma questão de decidir o que verdadeiramente queremos. Estamos totalmente satisfeitos com a quantidade de Amor que temos, ou queremos mais Amor? Por que não? Está dentro de nós e é gratuito! Onde há abundância de Amor não pode haver sofrimento, angústia, dor, ódio, cólera. Nenhum destes sentimentos consegue sobreviver em Amor. Se o leitor tem algum problema com estas coisas, é só uma questão de abrir o seu coração e se encher de Amor, e aquelas coisas vão desaparecer muito rapidamente. As instruções que seguem são muito simples e não é importante segui-las a cem por cento. O que é importante é que tenhamos a mente limpa e focalizada no abrir o coração, e que seja essa a intenção presente. Quando o leitor começar a praticar este jogo de abrir o coração, permita que ele mude para o que melhor resultar para si nesse particular dia. Este exercício é concebido para você começar. Deixe que ele se desenvolva e identifique consigo. Se quiser, pode gravar as instruções com um fundo musical, deitar-se e seguir as suas próprias instruções. Na verdade isto resulta muito bem.

Portanto relaxe, divirta-se e esteja preparado, porque você não vai acreditar nas coisas que vai experimentar. Vai ser uma viagem maravilhosa.

Isto é como eu faço. Prefiro deitar-me a estar sentado, mas se não tiver oportunidade de me deitar, fico sentado ou mesmo de pé. Começo a relaxar o corpo deixando-o simplesmente à vontade.

A seguir desligo-me de todos os pensamentos e preocupações com coisas que tenha a fazer nesse dia. Às vezes finjo que o mundo não existe e digo a mim mesmo que recuso pensar em qualquer coisa que esteja para além do meu corpo físico.

Respirar bem também ajuda. Respiro muito lentamente mas em profundidade; respirações lentas, demoradas. Isto aquieta os meus pensamentos desgarrados e tende muito rapidamente a produzir um efeito calmante em todo o meu corpo.

Continue a respirar lenta e profundamente. Traga a sua consciência para dentro do corpo. Imagine que está a tentar escutar o seu eu interior ou alma (o que lhe prefira chamar). Escute com toda a atenção; concentre-se em escutar o que o seu eu interior possa estar a dizer-lhe. Escute o silêncio, a paz que está dentro de si. Continue a fazer isto o tempo que lhe aprouver.

Imagine agora que há uma luz muito brilhante no centro do seu tórax, como um enorme diamante que brilha tanto como o Sol. Use a imaginação como quiser. Veja essa luz resplandecente como Amor. Pode vê-la como centelhas ou como luz dourada, como preferir. Concentre-se no facto de que ela é Amor. Agora deixe que este Amor cujo brilho emana do seu coração se torne mais brilhante e mais amplo. Utilize os seus sentidos interiores para lhe aumentar o tamanho e traga-o para fora e para além do seu corpo, de maneira que se vá convertendo num pequeno Sol a brilhar e irradiar Amor. Sinta-se a si mesmo cheio de Amor à medida que se vai tornando mais radiante. Repare como cada célula do seu corpo vai absorvendo este Amor e por sua vez se vai tornando radiante de Amor. Sinta este Amor, sinta-se agora rodeado de Amor e irradiando Amor. Repare que as suas mãos e pés irradiam Amor. Você resplandece de Amor. Quando inspira, sente os pulmões encher-se de Amor e ainda mais Amor a circular em todo o corpo. Continue a sentir isto o mais possível. Na sua imaginação, veja quão radiante se tornou com o Amor. Veja como tudo aquilo em que toca recebe este Amor. Qualquer pessoa que se aproxime recebe o Amor que você irradia. Continue a ver e a sentir-se ficar cada vez mais radiante, aumentando constantemente o Amor de cada vez que respira, tornando-se mais brilhante e radiante a cada respiração. Sinta o júbilo que vai subindo à superfície vindo de dentro. Sinta que está pleno de júbilo, sinta o quanto é amado. À medida que se torna cada vez mais radiante, está a tornar-se magnético e a atrair mais Amor para si, atraindo felicidade e alegria para as pessoas. Está a tornar-se magnético e a atrair para si coisas boas, alegres e amorosas. Com o seu olhar interior, veja como toda a gente que se aproxima de si recebe o Amor que você irradia. Você está tão cheio de Amor que irradia Amor por todo o mundo. Continue a aumentar a sensação e os sentimentos de Amor. Pode notar calor na zona do tórax, ou uma sensação de pressão ou dor. É normal, é porque o seu coração está a abrir. Continue a respirar lenta e profundamente, abrindo o coração ainda mais. Fique ainda mais radiante de Amor, enchendo todo corpo e mente de Amor. Repare como os seus pensamentos estão a mudar. Repare como você está a ficar mais amoroso e compreensivo à medida que se vai tornando em Amor.

Fique assim o mais que puder. Pode repetir isto em cada dia as vezes que quiser. Quanto mais o fizer, mais radiante de Amor se tornará e mais Amor e alegria e coisas boas vai atrair para si mesmo. Pessoas e animais vão querer estar ao pé de si. Conceda-lhes isso, pois andam em busca de mais Amor, e como você irradia mais Amor, eles recebem Amor de si. É uma dádiva indescritível por palavras.

Pode agora enviar o seu Amor a outras pessoas, ou encher a sua casa ou o seu local de trabalho de Amor. A lista não tem fim. Pode enviar Amor a tudo quanto lhe ocorra. Tão simples como isto. A sua provisão de Amor é infinita, jamais pode esgotar-se.

Enviar Amor a Pessoas

Quando queremos enviar Amor a uma pessoa querida, a amigos, colaboradores, seja a quem for, primeiro temos de abrir o coração para ficarmos a irradiar Amor, tal como se descreve no exercício de “Abrir o Coração”. Pode-se enviar Amor a pessoas de diversas maneiras, cada uma com tendência para dar resultados diferentes. Infelizmente seria preciso um livro inteiro para listar todas as possibilidades que eu vi e experimentei, pelo que terá de ser o leitor a descobrir por si mesmo. Vou mencionar algumas possibilidades.

Quando enviamos Amor a outra pessoa, o melhor é não estarmos à espera de qualquer retribuição: que seja apenas uma dádiva de Amor incondicional. Geralmente é preferível enviar Amor sem condição absolutamente nenhuma; por outras palavras, deixando que a outra pessoa decida como usá-lo melhor. Dado que somos mais do que a nossa mente consciente, essa parte maior de nós mesmos trata de dirigir o Amor para a zona onde for mais necessário no momento presente. É possível, no entanto, enviar Amor e estipular uma cláusula, por exemplo quando alguém está muito doente e enviamos Amor para ajudar na cura. Ainda de acordo com a minha experiência, em noventa por cento dos casos constatei que é preferível simplesmente enviar Amor, porque por vezes a doença pode, a longo prazo, fazer mais por essas pessoas do que uma recuperação rápida. Por vezes, se uma pessoa está doente, envio-lhe Amor de várias maneiras, sendo uma incondicional, e noutra altura envio-lhe Amor para ajudar na cura. Só faço isto se na altura me parece correcto. Quando tiver o coração aberto e irradiar Amor, pergunte calmamente qual seria a melhor maneira para essa pessoa naquela ocasião. Há-de receber sempre uma resposta, muito provavelmente como um sentimento. Se lhe parecer bem, faça.

Seguem algumas maneiras diferentes de se enviar Amor. Assumo que você vai saber qual a maneira correcta no momento dado e para determinada pessoa.

1. Podemos enviar Amor e rodear a pessoa de Amor, enchendo de Amor o espaço onde a pessoa possa estar. Isto resulta extremamente bem em muitas circunstâncias diferentes, tais como uma festa em que as coisas não estejam a correr muito bem. Simplesmente rodear toda a gente de Amor, e ver-se-á que todo o ambiente vai mudar muito rapidamente. Isto também resulta bem em encontros ou entrevistas de trabalho, ou até num encontro com um amigo. É como embrulhá-los numa manta de Amor quente. E quem é que recusaria uma coisa destas? Também funciona extremamente bem se eventualmente estivermos com uma pessoa muito nervosa, ou agitada ou irritada. Vai ver que a pessoa em pouco tempo fica muito mais calma. Caso você pense que se trata de uma espécie de controlo, o Amor não tem nada a ver com controlo. Isto é bastante semelhante a dar um abraço a alguém, mas é cem vezes mais benéfico.

2. Podemos enviar Amor directamente para uma pessoa e enchê-la de Amor, e também enviar Amor a uma zona particular do corpo em que ela tenha problemas. Quando fizer isto, imagine o Amor a penetrar nessa zona particular do corpo e a encher totalmente cada célula de Amor, até que todas comecem a resplandecer e irradiar Amor. Visualize depois a razão do incómodo a abandonar o corpo. Pode visualizar isso da maneira que quiser. É a sua intenção de enviar Amor que produz esse efeito. Visualizar é apenas um método para empenhar a sua intenção.

3. Podemos enviar Amor directamente para o coração de uma pessoa. Isto ajuda a pessoa a abrir o coração e permite que o Amor flua do seu próprio centro do coração. Resulta extremamente bem se a pessoa terminou recentemente uma relação ou se atravessa uma crise existencial com muito sofrimento. Resulta extremamente bem nessas circunstâncias porque uma das principais razões desse sofrimento é que o coração começou a fechar-se. Não há nada mais doloroso.

4. Podemos também enviar Amor directamente para o coração de uma pessoa a fim de nos ligarmos a ela mais estreitamente, como no caso de um companheiro ou amante. Vai ver que isto cria uma ligação muito estreita e permite inclusivamente que você esteja com essa pessoa apesar de ela estar afastada fisicamente. Se duas pessoas acordarem fazê-lo uma com a outra, isso pode tornar-se uma das experiências mais belas e agradáveis da sua vida. Cria um vínculo incrível entre duas pessoas, continuando ao mesmo tempo a ter vidas individuais. Parece uma combinação incrível, mas funciona. E é maravilhoso porque você nunca se vai sentir só – desde que ambos estejam de acordo. O tempo não é importante. O Amor trabalha para além do tempo; assim, mesmo que você envie Amor ao companheiro de manhã e ele só o faça à noite, a conexão será exactamente a mesma como se o tivessem feito exactamente ao mesmo tempo. Na verdade não importa como isto funciona. O que realmente importa é que funciona e que os resultados são maravilhosos.

Abra o coração e encha-se e rodeie-se a si mesmo de Amor. Imagine então um raio de Amor que sai do centro resplandecente do seu coração e sobe até à sua mente e centro da cabeça. Veja agora um belíssimo raio de amor cor de ouro que sai dos seus olhos directamente para os olhos do seu companheiro ou amante. Continue com isto e ao mesmo tempo veja outro belíssimo raio de amor cor de ouro saindo do seu coração e indo directamente para o coração do seu companheiro ou amante. Mantenha-se calmo e continue assim o tempo que lhe aprouver. Pode fazer isto em qualquer altura do dia e as vezes que quiser. Lembre-se que o Amor é incondicional e não há aqui qualquer espécie de controlo. Quando o seu companheiro ou amante fizer o mesmo, a ligação ficará completa mesmo que não seja feita ao mesmo tempo. Quanto mais praticarem isto, mais estreitamente ficarão ligados. Vou revelar-lhe a magia disto, mas não fique admirado se começar a saber o que a outra pessoa vai dizer antes mesmo de o dizer.

E aí está. Tenho a certeza que muitos dos leitores vão descobrir novas coisas e novas maneiras de enviar Amor – o que é aliciante. Quando o seu coração estiver aberto e você estiver cheio e radiante de Amor, vai saber exactamente o que fazer. Siga simplesmente essa orientação interior e acredite que esse Amor é capaz de fazer os seus próprios milagres. Tudo quanto precisamos fazer é dar um pouco.

Quando comecei com tudo isto costumava ver o Amor como uma luz cintilante dourada e imaginava vê-la dirigir-se exactamente para onde a enviava. Não importa como você vê o Amor com os olhos da sua mente, importa apenas que tenha a intenção de enviar Amor. Pouco a pouco descobri que usar a minha imaginação envia uma mensagem a uma parte maior do meu eu, que inicia então o processo de abrir o meu coração e enviar Amor. Mas o fundamental é sempre o mesmo: funciona. Quando sentir que já enviou bastante Amor, pare e continue noutra ocasião. Não é possível magoar ninguém enviando Amor, pelo que não há verdadeiramente motivo nenhum para recear. Divirta-se!

Enviar Amor aos Filhos

Tenho um filho, e uma das coisas que aprendi é que os filhos podem ser muito gratificantes, mas também podem lançar-nos desafios susceptíveis de nos atrapalhar as ideias. E se tivermos botões, eles carregam neles até alguma coisa se partir. É a natureza das crianças. Por vezes o desafio pode ser absolutamente frustrante. Por isso resolvi pormenorizar um pouco mais este aspecto, porque eles são o nosso futuro e a nossa vida. Se o leitor tem filhos, aprender a encher-se de Amor e a enviar-lhes Amor será uma das maiores bênçãos da sua vida. Eu sei que é uma afirmação e tanto, mas passei por isso e vi os resultados.

Por alturas da Páscoa de 1996, o meu filho voltou para viver comigo. Tudo corria muito calmamente, o que já é muito bom se tivermos em conta que ele era um adolescente. Eu passava muito tempo a trabalhar em diferentes probabilidades e deslocando-me nessas probabilidades, e avançando e recuando no tempo. Isto exigia uma enorme quantidade de esforço, e nessa altura não trabalhava muito com o Amor. Passava muito pouco tempo a enviar Amor para o meu filho, o que viria a revelar-se uma opção muito pouco positiva. Mas acabou por ser uma experiência que me ensinou bastante.

O único desacordo que tínhamos era basicamente quanto à hora a que ele devia voltar para casa à noite. Isto converteu-se num desacordo diário que foi aquecendo até termos uma curta discussão em que o meu filho, na sua infinita sabedoria, decidiu fugir de casa para marcar a sua posição.

Resolvi deixar andar porque não fiquei preocupado com ele; era capaz de dar com ele usando o mesmo método que usei com Rudy, o nosso cão. Isto resultou extremamente bem. Infelizmente a minha ex-mulher entrou em pânico e resolveu visitar-me e trazer a irmã. Por vezes as boas intenções podem ser mais prejudiciais do que benéficas, mas após andarmos uns dias às voltas à procura do meu filho, elas decidiram relutantemente regressar a casa e esperar que ele voltasse de sua própria vontade.

Não lhes falei das minhas experiências e do meu trabalho com o Amor. Enquanto elas lá estiveram não pude fazer as coisas que queria. Depois de partirem, comecei imediatamente a enviar ao meu filho quantidades maciças de Amor. Encontrei um dos seus amigos e entreguei-lhe um envelope com dinheiro, juntamente com um bilhete a dizer que seria bom para ele voltar para casa em qualquer altura. Depois apanhei o meu comboio imaginário, viajei até onde ele estava e comecei a falar com aquela parte maior dele. Ouvi muita coisa, também. Escutar foi provavelmente a parte mais importante, porque comecei a compreender o que se passava com ele interiormente. Disse a essa parte maior dele que lhe daria a liberdade que ele pretendia, mas que ele deveria voltar para casa o mais breve possível. Aquela parte maior concordou. A partir do momento em que comecei a enviar-lhe Amor, passaram 36 horas até ele voltar para casa.

Quando ele chegou, abrandei as regras sobre a hora a que ele devia estar em casa. Na verdade dei-lhe uma margem larga. Tenho de admitir que havia uma parte de mim que estava preocupada, mas ao mesmo tempo havia outra parte de mim que sabia que tudo correria perfeitamente enquanto eu continuasse a enviar-lhe Amor.

Assim que o meu filho atravessou a porta da rua, passei 15 minutos a enchê-lo e a rodeá-lo de Amor, tanto quanto pude. Dentro de 45 dias tudo mudou. Era como se estivesse a lidar com uma pessoa completamente diferente. Simplesmente incrível. Também levaria uma eternidade para explicar todos os pormenores, mas o leitor vai ver esses resultados por si mesmo.

O meu filho gostava de andar por fora com um grupo de adolescentes que não me impressionavam bem, ou, melhor dizendo, com os quais estava bastante preocupado. Quando comecei a rodeá-lo de Amor, tudo isso mudou. Eles rejeitaram-no, embora falassem com ele ao telefone e lhe dissessem onde haviam de se encontrar, mas quando o viram ali fisicamente, deixaram-no ficar para trás. Levei algum tempo a descobrir todos os pormenores do que se tinha passado. Quando uma pessoa está cheia e rodeada de Amor vibra num nível diferente do de outra pessoa que esteja triste ou zangada com o mundo. Não combinam. Vejamos isso do ponto de vista dos outros garotos. Quando ele falava com eles ao telefone estava tudo bem, porque ele falava a mesma linguagem que os outros, mas quando se encontraram em pessoa, ele estaria a irradiar e a resplandecer de Amor, e ainda que eles não vissem, sentiam-no. Não combinavam nem o queriam nas suas deambulações.

Isto causou uma certa confusão ao meu filho porque ele não queria fazer parte do grupo dos bons e foi rejeitado pelo grupo dos maus. Pelo menos não voltou a meter-se em problemas e as coisas parecem correr muito bem com ele. O Amor é magnético e por isso ele atrai os outros muito facilmente e as pessoas tendem a simpatizar rapidamente com ele. Outra coisa que você pode notar é que quando se está cheio e rodeado de Amor, as pessoas tendem a tratar-nos com muito mais respeito e amabilidade, que é a forma como as coisas parecem agora resultar com ele.

Para enviar Amor aos nossos filhos devem seguir-se os mesmos passos de quando se abre o coração e se envia Amor a outras pessoas. Podemos também ligar-nos aos nossos filhos usando as instruções sobre como nos ligarmos com o companheiro ou amante.

Ir aonde estão os nossos filhos e falar e escutar essa parte maior deles é bastante fácil de fazer. Exige um pouco de paciência mas toda a gente é capaz de o fazer. Fiz algumas mudanças nisto ao longo dos anos. Você pode pegar nas instruções e gravá-las, ouvindo a gravação enquanto faz aquela viagem. Pode também usar isto para muitas outras coisas: por exemplo, se quiser visitar o seu companheiro, mesmo que ele esteja fora do país. Também pode usar isto para falar com a parte maior de outra pessoa e resolver muito facilmente um mal-entendido ou uma discussão. Lembre-se que escutar é mais importante do que exprimir o nosso ponto de vista. Se tiver isto presente, vai dar-se muito bem. Se se preocupa com a privacidade, desista. Não existe tal coisa. Não passa de ilusão. Pense nisso e vai ver o que quero dizer. Se você faz coisas que não deseja que as outras pessoas descubram, melhor seria pensar duas vezes nessas acções e estar preparado para aceitar as consequências. Se houver Amor no seu coração, você não tem nada que esconder ou de que ter receio.

A propósito, há muitos anos que vários governos usam este método para espiar, e nem sequer é segredo. Pode encontrar esta informação em qualquer biblioteca.

Para começar, faça o exercício normal de relaxação e depois abra o coração, tornando-se tão radiante de Amor quanto possível.

Imagine agora que está dentro de uma bolha de Amor. Veja e sinta isto tão nitidamente quanto possível. Esqueça-se do mundo. Comece a pensar na pessoa que pretende visitar. Não se preocupe com o local onde ela possa estar. Pense nela e, com a mente, sinta a sua bolha de Amor deslocar-se até ao local onde ela estiver. A sua bolha de Amor move-se cada vez mais rapidamente. Confie que ela vai leva-lo aonde você quer ir. A sua bolha de Amor começa a afrouxar até que pára. A bolha desaparece mas você continua radiante e rodeado de Amor. Use a sua imaginação para ver a pessoa que foi visitar. Ignore o que está à volta dela. Deixe que isso venha por si mesmo. Concentre-se apenas na pessoa. Ela está sentada, deitada ou de pé? Imagine agora um raio de Amor lindíssimo, cor de ouro, que sai do seu coração e vai directamente para o coração dela, enchendo-a e rodeando-a de Amor, e veja o Amor saindo do centro do seu coração e penetrando na mente, e dos seus olhos para os olhos da pessoa. Faça uma pergunta, se quiser, ou peça-lhe que fale consigo, e escute. Escute com toda a atenção, mas não force. Sinta a informação a fluir para dentro de si como pensamentos, ideias e sentimentos. De cada vez que fizer isto vai ser capaz de ouvir e compreender mais nitidamente.

Continue enquanto se sentir confortável.

Quando tiver falado e escutado, olhe para o que está à volta. Onde está você? O que é que vê, sente e experimenta? Absorva o que está à volta; sinta-o o mais possível. Faça isto o tempo que quiser.

Quando estiver pronto para regressar, envolva-se novamente numa bolha de Amor e sinta-a voltando ao local e tempo presente. Quando chegar, desperte muito lentamente. Se precisar, anote tudo o que sentiu, escutou e viu. Divirta-se!

Se fizer uma gravação disto, assegure-se de esticar a gravação durante 20 minutos pelo menos, sem contar com o tempo de relaxação e com o encher-se e rodear-se de Amor. Descobri que isto funciona melhor depois de ter dado um longo passeio a pé ou ter feito algum exercício físico. É extremamente importante deixar o corpo adormecer para que toda a sua atenção se focalize no que você está a tentar fazer, ver e escutar com os seus sentidos internos.

Encher a nossa casa de Amor

Quando estou a trabalhar com o Amor, passo cinco minutos extra, pelo menos quatro ou cinco vezes por semana, a encher a minha casa de Amor. Modifica todo o ambiente do lugar e cria um ambiente muito relaxante e tranquilo. Parece eliminar toda a energia nervosa normal que está no ar, especialmente numa cidade. Assim que saio de casa e da minha propriedade, posso imediatamente dizer que há uma diferença. Está por chegar uma visita que a certa altura não se refira à descontracção e tranquilidade que sente. Não se trata da casa nem da mobília. Quando vem uma visita, fica literalmente rodeada e envolta em Amor. Até as pessoas que têm tendência para andar nervosas sentam-se e parece que a serenidade desce sobre elas.

Você pode fazer isto não importa onde viva, quer seja numa casa, num apartamento, numa tenda, numa caverna ou num saco de dormir; é indiferente.

É muito fácil de fazer. Antes de acabar de enviar ou trabalhar com o Amor, imagine que há no seu coração uma válvula gigante que se escancara e deixa fluir uma quantidade maciça de Amor. Visualize este Amor espalhando-se por toda a parte, enchendo a sua casa e a sua propriedade de Amor. Visualize cada canto de cada divisão da casa e tudo quanto possui a ficar saturado de Amor, de modo que o ar fique denso de Amor. É assim, tão simples como isto.

Encher o nosso trabalho de Amor

Isto pode ser realmente muito interessante e muito divertido. Use a imaginação nas diferentes coisas que pode fazer. Por exemplo, pode encher de Amor o seu local de trabalho da mesma maneira que enche a sua casa de Amor. Não precisa de estar a trabalhar para fazer isto. Pode fazer qualquer destas coisas a partir de qualquer lado.

Diverti-me imenso com isto e tive algumas experiências fascinantes. O mais importante é abrir o seu coração e tornar-se radiante. Pode então enviar Amor a todas as pessoas com quem trabalha, envolvendo-as em Amor. Pode enviar Amor aos seus clientes. Pode encher de Amor o negócio inteiro. Pode também encher de Amor os produtos que vende. Podia facilmente escrever um livro inteiro com as experiências que tive a enviar Amor para o meu trabalho, mas vou deixá-lo ver os resultados por si mesmo. Talvez você escreva esse livro. Será sem dúvida um livro digno de leitura. Dizem que o dinheiro fala, mas o Amor também, e fala bastante mais alto. Divirta-se. E vai mesmo divertir-se, especialmente depois de ter visto como pode ajudar outras pessoas simplesmente enviando-lhes Amor. Uma advertência: talvez seja preferível enviar Amor de fora da área onde trabalha, pois de contrário esse local pode vir a converter-se em local de encontros. E o seu patrão pode não ver a coisa exactamente da mesma perspectiva que você.

Encher tudo de Amor

Você pode enviar Amor para qualquer coisa que faça mentalmente ou fisicamente, ou a qualquer coisa em que toque ou em que pense. Não há limites. Eis uma pequena lista só para estimular a imaginação:

Vai escrever uma carta? Encha-a de Amor.

Quando for a uma entrevista de emprego, por que não enviar Amor primeiro?

Encha a sua casa de Amor.

Encha os seus amigos de Amor.

Envie Amor aos seus animais de estimação.

Envie Amor às suas plantas.

Envie Amor ao seu patrão.

Envie Amor ao seu companheiro.

Encha de Amor tudo o que tem.

Envie Amor aos animais que há no mundo.

Envie Amor às florestas, especialmente àquelas que está a tentar proteger.

Envie Amor às pessoas que tentam derrubar essas florestas. Talvez fique agradavelmente surpreendido com os resultados.

Encha e rodeie a sua cidade de Amor.

Envie Amor ao mundo.

Envie Amor aos líderes de várias cidades, províncias e países. Os resultados vão deixá-lo surpreso.

Ajude outras pessoas enviando-lhes Amor.

Envie Amor aos seus filhos.

Se está a construir, a esculpir, pintar ou vender uma coisa, vai ver que os outros a acham muito mais apelativa se estiver radiante de Amor.

Se houver bastantes pessoas a enviar Amor para o mundo e para outras pessoas, vai haver paz muito brevemente.

Podíamos continuar por aí adiante. Creio bem que você apanhou a ideia.

Um pouco de Amor extra no quarto de dormir

É sempre agradável e muito útil ter um companheiro que queira fazer estas coisas connosco, mas eu sei por experiência que nem sempre é este o caso. Assim, se for esta a situação em que você se encontra, faça-o você mesmo assim, pois vai fazer uma diferença.

Antes de fazer Amor com uma pessoa, será realmente muito útil se você passar uns minutos a abrir o coração e a tornar-se radiante de Amor. Enquanto estiver a fazer Amor, afrouxe e faça o exercício de se ligar ao seu companheiro. Continue a abrir o coração e a enviar Amor directamente para o coração da outra pessoa. Com o tempo, vai notar que o vosso nível de intimidade vai ultrapassar todas as marcas, e vai sentir mais Amor do que alguma vez experimentou antes. Mesmo que o seu companheiro não esteja interessado, vai fazer uma diferença consigo, e pode então notar algumas mudanças no seu companheiro.

Por vezes é possível que amar profundamente uma pessoa seja bastante assustador, mas o que é realmente assustador é nunca ter experimentado esse Amor interior tão profundo.

Criar o que você quer com Amor

É muito fácil de fazer e resulta tão perfeitamente que você vai perguntar a si mesmo o que é que se passa. Siga as instruções sobre como abrir o coração e tornar-se radiante. Imagine o que quer criar. Veja-o na sua mente e sinta-o nas suas emoções como se já o tivesse. Envie então para este cenário uma enorme quantidade de Amor. Faça isto dia sim, dia não, até se manifestar na sua realidade física. Há coisas que vão surgir literalmente de um dia para o outro, outras coisas demorarão um pouco mais, mas quando você tiver aquilo que queria, vai ultrapassar a sua expectativa, e será realmente com o Amor.

No caso de pensar que isto é demasiado fácil para resultar, posso torná-lo mais complicado para si se isso o faz sentir melhor. A velha história do “se não custa, não presta” não passa de uma falácia, mas se você prefere acreditar que é assim, pois assim seja. E assim será. Levei muitos anos a aprendê-lo, mas ainda bem que finalmente encaixei isto na minha cabeça dura.

Adenda às instruções de Abril de 2004

O leitor tem de compreender que eu estou em constante evolução e aprendizagem, tal como toda a gente. As instruções que estão no livro são um ponto de partida, um ponto de partida e evolução que não é o resultado final. Isto nunca chega a um fim; você descobrirá sempre uma maneira melhor de enviar e criar com Amor, mas é preciso começar nalgum lado. Às vezes as pessoas querem passar à frente para instruções mais avançadas, o que é compreensível, mas enviar amor é como mascar pastilha elástica: podemos dar a uma pessoa as instruções básicas sobre como se deve mascar e fazer balões, mas trata-se de algo que é tão individual como as pessoas e enviar amor é uma coisa muito pessoal. É por natureza uma coisa muito pessoal, ou assim se vai tornar se começarmos a dar-lhe tempo para evoluir para uma arte tão individual como cada pessoa. Assim sendo, como é que você sabe se a coisa está a resultar e se está a proceder de modo a obter os resultados felizes por que anseia?

Os seus pensamentos e sentimentos dir-lhe-ão, quando os seus pensamentos incidirem naquilo que ama, e você sentir-se-á bem porque o amor está a fluir e os seus sentimentos felizes assim lho dizem.

Os seus pensamentos são muito importantes, porque os seus pensamentos estão a dirigir o fluxo de amor e o fluxo de energia. Assim, passar o tempo a abrir o fluxo é perfeito e fará muito por si, mas depois, se você conseguir manter os pensamentos em coisas que o façam sentir-se bem, vai manter o fluxo activo e ele vai aumentar. Procure sempre e pense sempre naquilo que o torna feliz, não importando se é real ou não. Os seus sentimentos indicar-lhe-ão se o amor continua ou não a fluir através de si. Deste modo você não procura controlar os pensamentos, mas se achar que não se sente tão feliz, fica a saber que precisa de ligar os seus pensamentos a qualquer coisa que mude os seus sentimentos para algo alegre – e o fluxo de amor vai continuar a fluir. Por vezes a maneira mais rápida de restabelecer o fluxo é pôr a atenção numa coisa que lhe agrade, e não tem de ser real. Pode simplesmente sentar-se e congeminar como deve ser maravilhoso ser amado e respeitado por toda a gente, e como deve ser maravilhoso ter uma fortuna inesgotável para experimentar todas as coisas belas que a vida tem para oferecer.

Se pretender uma coisa, sinta como seria possuí-la e imagine-a como se já fosse sua. Você vai saber quando é que está a fazer isto da maneira certa, porque vai sentir bem-estar, felicidade, amor e excitação; estes sentimentos dizem-lhe que está a enviar e receber amor e que estas coisas estão a vir para si. Se você se sentir mal humorado e infeliz, isso é sinal de que o fluxo parou, e isso porque está a dar atenção a algo triste, como não ter uma coisa que quer ter.

Enviar amor é incrível, mas você tem de ter um certo desejo de encaminhar os seus pensamentos e os manter onde o fluxo de amor continua a fluir, sem se importar com o mais que possa estar a acontecer. Isto vai ser explicado no meu último livro, quando o material estiver completo. Por conseguinte, por enquanto é importante que você se desvie de qualquer coisa que lhe traga sentimentos infelizes e se mantenha atento a coisas alegres, até que tenha praticado mais tempo e que dar atenção a algo feliz se tenha tornado o seu estado natural. Assim, se houver uma pessoa que esteja triste e isso estiver a afectá-lo a si, mude os seus pensamentos para um tempo em que ela andasse feliz e contente, e pense nesse tempo e faça-o ainda melhor; os seus pensamentos mudam então para pensamentos felizes. E o que é que isso quer dizer? Quer dizer que você está agora a enviar amor para si e para essa pessoa.

Passar o seu tempo a desfrutar e a melhorar as coisas para melhor as apreciar – se o fizer com suficiente empenho vai ficar tão feliz que nem se há-de importar se é real ou não; mas com o tempo vai tornar-se real. Conte com isso mas não o procure; continue apenas a desfrutar qualquer coisa em que possa pensar, passe o seu tempo livre procurando coisas que pode fingir que tem e considere que já as tem. Se se sentir feliz, é porque há fluxo de amor; se não se sentir feliz, é porque muito provavelmente anda a reparar naquilo que não tem, e o seu sentimento de infelicidade está a dizer-lhe que, ou o seu fluxo de amor parou ou está a fluir para uma coisa que você não quer. Por exemplo, se você reparar na sua falta de dinheiro vai sentir-se triste, e isso está a dizer-lhe, ou que o fluxo de amor afrouxou ou que está agora a criar-lhe uma falta de dinheiro. Falta de dinheiro não é negativo, é apenas uma experiência, e foi você que a escolheu pela atenção que lhe deu. Envie para lá um fluxo de amor e energia, e o amor vai criar isso para si, pois a lei do universo é liberdade e você é livre de criar o que deseja para si. Você não pode criar isso para outro mas só para si mesmo; assim, abra-se e deixe fluir o amor e pense como será possuir uma reserva de dinheiro inesgotável, não importando donde vem; só o sentimento maravilhoso que você retira daí. Se se sentir bem e feliz e houver o sentimento de estar a desfrutá-lo, então isso significa que o amor já está a criá-lo para si. Você vai constatar que isto precisa de bastante prática e vai precisar de querer ser feliz mais do qualquer outra coisa. Quanto mais fizer isto, melhor se vai tornar a sua vida e, melhor do que tudo, toda a gente à sua volta beneficiará igualmente, porque o amor estará a fluir de você.

Se acontecer alguma coisa triste, lembre-se que sentir-se triste não faz bem nenhum. Se não tiver dinheiro suficiente, sentir isso não serve absolutamente de nada, e você pode igualmente pensar no contrário e tornar-se feliz sentindo como será possuir uma fonte de dinheiro inesgotável. Fluirá o amor através de si e será criado para si. Lembre-se que o mais importante é visualizar o sentimento, mas são os seus sentimentos que lhe dirão se o que está a visualizar é aquilo que você quer ou aquilo que não quer, pois quando eles o fazem feliz, o amor está a fluir, e dizem-lhe que o amor está a criar coisas felizes para si e para todos quantos estão perto de si.

Alguém me disse: como é que eu posso sentir-me feliz e bem disposto se alguém mandou a minha casa pelos ares?

Não é fácil, mas se você quisesse ter outra casa e que isso não voltasse a acontecer, só teria uma hipótese. E qual é essa hipótese? Já lhe expliquei, portanto faça a sua opção: pense no que aconteceu, atente na sua própria tristeza e crie mais tristeza ainda, ou então pense naquilo que você pretende e finja desfrutar a sua posse tão intensamente que se sinta feliz. O amor vai fluir e você vai conseguir o que pretende, pois é lei do universo que o amor fluirá, o desejo há-de crescer e você é livre de desenvolver o que quiser. O amor não vai criar uma negativa para outra pessoa, mas pela lei do criador vai dar-lhe aquilo que você pretende pela atenção que você dedicar enviando-lhe amor (àquilo que pretende). Por conseguinte, se você quiser ter uma perna partida para não ter de ir trabalhar, assim será feito.

Claro que você poderia, em vez disso, ter enviado amor, visualizando e desfrutando um emprego feliz com um bom ordenado, e seria isso que recebia. Você pode enviar amor e coisas boas a outra pessoa, e só coisas boas serão criadas para essa pessoa, mas isso não quer dizer que ela as vá aceitar, pois as pessoas sempre têm o direito de optar. O amor vai dar-lhes o que elas querem e não o que você lhes quer dar, nem o que você julga que elas deviam ter, mas sim o que elas querem. Veja que enviar amor é uma coisa linda, e se puder dedicar a sua vida a fazer isso, a sua vida será tão bela como um conto de fadas, e se você o fizer correctamente, sentirá a sua vida como tal, mesmo antes de haver uma oportunidade de isso se realizar fisicamente.

Visualizar é a motivação para abrir o fluxo de amor, mas são os seus sentimentos que vão abrir a válvula. Só por si, a visualização não cria grande coisa; é uma ferramenta que utilizamos para envolver no processo os sentimentos bons e o fluxo de amor. Os sentimentos bons dizem-nos que estamos a canalizar o amor para aquilo que realmente queremos, porque estamos a contemplar o que queremos, física ou mentalmente, com a visualização. Visualize uma coisa que queira agora mesmo e desfrute a sua posse mesmo que a não tenha. Se isso o faz feliz, é porque está o amor a fluir e a vir para si. Qual a dimensão da sua felicidade? – é por aí que você pode avaliar a intensidade do fluxo de amor.

Se por um momento pensar que isto não vai exigir muita prática (muita prática), está a enganar-se a si mesmo. Quando o compreender verdadeiramente, vai ficar espantado. Não desejará parar de o fazer.


Perguntas Mais Frequentes

Porque é que esta informação foi ocultada?

Há pessoas que têm a obsessão do poder e outras que têm receio do poder. Isso facilitou a ocultação. As que têm receio, têm-no porque tendem a crer que o poder corrompe. Concordo, é o que acontece muitas vezes. Mas não se o instrumento utilizado for o Amor. O Amor serve da melhor forma tudo o que está envolvido. Também não permite que uma pessoa controle outra, e ao mesmo tempo liberta aqueles que são controlados e manipulados por outrem. Se pretendemos dominar e controlar os outros, esta informação seria a última coisa que desejaríamos que os outros soubessem. Nem tão-pouco nos serviria de nada nesse aspecto. Reparemos só naqueles que detiveram o poder ao longo dos séculos e no que fizeram com a sua autoridade. Eis por que a informação foi ocultada; mas nós, com os nossos medos, ajudamos. Temos sempre receio de que alguém tenha alguma coisa que nós não temos, e é esse medo que nos faz fechar os olhos àquilo que verdadeiramente nos pode libertar. Se você reflectir nisto algum tempo, vai encontrar as razões por si mesmo. O importante é que agora já não importa; a informação está aqui e nunca mais vai ser escondida. As novas tecnologias criaram meios de transmissão de informações muito rápidos e eficientes que se tornaram imparáveis, ao contrário de antigamente.

Mais uma palavra! Afirmei que podíamos mudar as acções de uma pessoa enviando-lhe e enchendo-a de Amor, mas isso não é controlá-la. É simplesmente enchê-la do Amor que lhe falta, e fazendo isso ela vai tomar decisões diferentes e mais amorosas. Igualmente as acções dela serão mais motivadas pelo Amor do que pelo medo, a cólera, a cobiça, que é donde provêm muitas decisões de quem manda. Não só dos que mandam mas também das pessoas vulgares como nós. É o Amor que muda as pessoas, não nós. Mas nós somos aqueles que lhes dão esse Amor que faz ocorrer a mudança. Uma vez que você tenha percebido como isto funciona bem, vai compreender como e porquê foi ocultado.

O livro é verdadeiro ou é produto da sua imaginação?

O livro é verdadeiro. As coisas acontecem como eu expliquei. Não exagerei com a intenção de escrever sobre o assunto, mas deixei algumas coisas de parte para o tornar compreensível. Tive experiências que excedem ligeiramente o que é crível e achei melhor deixá-las de parte por agora – o que teria tornado este livro difícil de entender, porque muitas coisas aconteciam ao mesmo tempo. O resto da história, achá-lo-ão no meu próximo livro. Depois de lerem o segundo livro vão compreender a razão por que certas coisas tiveram de ser deixadas de fora do primeiro livro. Se você gostou deste livro, o próximo vai realmente prender a sua atenção. Ou se não lhe der atenção nenhuma, talvez lha dê quando estiver a acabá-lo. Só de pensar no que se passou, fico com os cabelos em pé.

Como é que o Amor afecta aqueles que fazem mal aos outros?

O Amor é uma energia que sustém tudo o que existe, incluindo nós. Imagine que existe uma válvula no seu corpo que o fornece de Amor. Quando esta válvula se fecha, torna-se muito doloroso. É uma coisa a que nos habituámos de tal modo que nem sequer a conhecemos. E esta dor interior é tão intensa que faz de nós pessoas que nem sequer desejamos ser. Aqueles que fazem coisas que consideramos más ou prejudiciais a outras pessoas - os corações deles, ou essa válvula, estão tão fechados que só deixam entrar o estritamente suficiente para sobreviver. É tão doloroso que eles não têm ou têm muito pouca consideração pelos outros e pelo ambiente que os rodeia. É como ter uma dor de dentes há tanto tempo que já nem sequer sabemos que ela existe nem percebemos como ela nos tolhe os movimentos. Simplesmente torna-se normal. Mas não é. Esta falta de Amor tem muitos efeitos nas pessoas, efeitos que vão desde a doença ao ódio e a todas as outras coisas intermédias. É aqui que entra o saber como abrir essa válvula e como enviar Amor. Enviar Amor a essas pessoas e enchê-las de Amor leva-as a mudar mesmo à nossa vista. Mesmo que se encontrem no outro lado do mundo, a distância não importa. Descobrimos também que, abrindo esta válvula dentro de nós, não atraímos para a nossa vida pessoas que nos prejudiquem; andam literalmente à nossa volta como se não existíssemos. Mas continuará a haver desafios, que fazem parte da vida.

Há efeitos secundários da abertura dessa válvula que abre o Amor dentro de nós?

O único de que me apercebi é se andámos com uma grande carga de azedume e sentimentos negativos às nossas costas. Eis o que experimentei por mim próprio. A princípio faz-nos sentir tão maravilhosamente bem que é impossível de descrever; depois vem o que eu chamo uma torrente de coisas velhas. O que estou a dizer é que vêm à superfície sentimentos antigos que foram empurrados para baixo, mas isto passa rapidamente se perseverarmos. A seguir vem algo ainda mais belo, que ainda hoje me faz virem as lágrimas aos olhos, tal é o Amor e a liberdade que sinto. Certas pessoas acham que estou a expor-me demasiado dizendo coisas deste tipo, mas eu sei que tenho razão e não tarda que você veja por si próprio.

Porquê você? Por que não um escritor ou alguém que o público já conheça? Não digo isto com intuito ofensivo, mas é que você apareceu sabe-se lá donde com a informação mais espantosa deste século.

Não tomo isso como ofensa. Fiz a mesma pergunta a mim mesmo centenas de vezes. Não tenho outra resposta que não a de ter fama de meter o nariz onde aparentemente não sou chamado. Mas francamente, meus queridos, já me estou perfeitamente nas tintas. Espero que não tomem isto como ofensa…

Ainda joga na lotaria?

Muito, muito raramente. Descobri coisas muito mais interessantes que se podem fazer trabalhando com o Amor. Uma vez por outra compro um bilhete, mas ou é porque sonhei com números ou só pelo divertimento, se houver ocasião para isso.

Por vezes, quando envio Amor, sou invadido por um sentimento de Amor avassalador, mas outras vezes sinto muito pouco. Porquê?

Porquê? Não sei! Também me acontece. Oxalá não esteja à espera que eu saiba tudo! O que eu sei é que funciona, mesmo quando não sentimos isso acontecer.

Conclusões

Hoje

Às vezes

Interrogo-me acerca de amanhã.

Mas então

Isso foi ontem

Ou foi anteontem?

Então e amanhã?

Oh, esquece! Meu Amor,

Tratemos apenas de nos apaixonarmos outra vez… hoje


Posfácio

Sugiro vivamente que leia um livro intitulado “Think and Grow Rich”, escrito por Napoleon Hill em 1960; sim, é sobre dinheiro, mas se você o ler atentamente, verá que os princípios se aplicam a todas as coisas: Amor, Paz, Dinheiro, etc. Junte os princípios do enviar Amor com os princípios de Napoleon Hill e tem uma combinação imparável. É que a lei do universo é simples; se conseguir imaginá-la, assim pode ser, e se for determinado pelo que faz o seu coração cantar, pois assim será.

Dou a conhecer os meus livros com alegria, como uma parte de mim. Embora dispendiosos em tempo e dinheiro, é um trabalho de amor. Se este livro tiver valor para si, veja se haverá alguma coisa que gostasse de fazer; há muitas opções à escolha. Você pode doar tempo ou dinheiro; um só dólar ajuda a cobrir alguns custos. Outra opção é falar dele aos amigos; isso ajudará a reduzir as minhas despesas de publicidade. Se tiver inclinação para isso, poderá escrever um artigo sobre os livros e onde encontrá-los, e entregar o artigo a uma revista local actualizada: ou até pôr um pequeno anúncio numa dessas revistas.

Quanto mais pessoas virem esta informação e a puserem em prática para elas, melhor será o resultado, e não só para elas mas para toda a gente que as rodeia. Isto foi a dádiva que vos ofereci; o que fizerem agora é convosco. É a vossa vida e o vosso mundo.

Escolham aquilo que vos trouxer alegria.

Todo o meu amor para vós

Klaus Joehle

É tudo por agora. Obrigado por terem lido, e espero que tenham gostado. Espero também que a informação torne os vossos sonhos realidade.

Obrigado por terem comprado este livro. Podem encontrar o nosso endereço de email se visitarem o nosso portal na net em www.livingonlove.com

Klaus J. Joehle

Po Box 2182

Station A

Nanaimo, BC Canada, V9R-6X6

É muito trabalho, não é? Bom, é a parte da vida que às vezes nos suga verdadeiramente. A menos que você Ame o que faz ou descubra uma maneira de fazer aquilo que Ama!

Os endereços de email mudam… Procure na página da Web o mais recente.

www.livingonlove.com

Espero que tenha gostado do livro. Se alguma vez quiser acrescentá-lo à sua colecção, pode encomendá-lo online a

http://www.amazon.com/exec/obidos/ASIN/0595172873/booksonloveby-20

Ou na sua livraria preferida.

ISBN 0-595-17287-3

http://www.iuniverse.com

Obrigado!

Todo o meu amor

Klaus Joehle

Comentários dos Leitores

Olá Klaus,

Li o seu livro e não consegui largá-lo enquanto não cheguei ao fim. Gostei muito e dar-lhe-ia cinco estrelas. Obrigado por ter tirado tempo da sua vida para o escrever.

G. S.

Caro Klaus:

Ando agora a ler o seu livro e com muito agrado. Gosto do seu estilo. É honesto e sincero. O seu Amor e profundo respeito pelas pessoas vem claramente ao de cima na sua escrita. Gosto do seu sentido de humor. O humor é importante para mim, tal como a perspectiva.

D. D.

Klaus,

Li o seu livro hoje e estou muito emocionado. Saltei as instruções do Danny sobre como enviar Amor, mas ainda não cheguei ao fim. Uau! De qualquer modo, estou muito emocionado.

K.

Caro Klaus: tinha que lhe dizer que li recentemente o seu livro… chorei e ri o tempo todo!!

O meu Amor e bênçãos para si e os seus,

C.

Klaus, é um prazer que você e as suas experiências tenham entrado na minha vida. Acabei de ler o seu livro e vou nos exercícios da parte final. É uma experiência que transforma uma vida! É ESTE o elo que faltava, essa abundância de Amor. Agora eu sei. Obrigado. É de absoluta necessidade que este livro chegue às pessoas.

C.

Cumprimentos,

Acabei de ler o seu livro “Living on Love”. Adorei. Soa-me muito verdadeiro.

Obrigado.

G.


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